Em meio a um cenário de intensificação da produção de petróleo, o Brasil enfrenta o desafio de equilibrar suas ambições energéticas com compromissos climáticos globais. Sob a liderança de Jean Paul Prates na Petrobras, o país planeja expandir significativamente sua exploração offshore, enquanto se prepara para sediar a próxima cúpula climática da ONU
Jean Paul Prates está à frente de uma estratégia ambiciosa para a Petrobras, visando um aumento exponencial na produção de petróleo que poderia posicionar a empresa como a terceira maior produtora global até 2030. Prates vê essa expansão não apenas como um crescimento empresarial, mas como uma ferramenta potencial contra a pobreza visível na paisagem ao seu redor.
Ao mesmo tempo, o Brasil se destaca no combate às mudanças climáticas, causadas em grande parte pela queima de combustíveis fósseis, como o petróleo.
Em conversas quinzenais com o presidente Lula, Prates defende uma transição cuidadosa e gradual dos combustíveis fósseis, argumentando que é necessário atender às demandas de mercado por petróleo e seus derivados. Ele enfatiza que a Petrobras explorará suas reservas de petróleo até o fim, seguindo o exemplo de países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
“Não lenta porque não queremos fazer a transição, mas lenta porque precisamos corresponder às expectativas do mercado para o petróleo, gás e seus derivados”, “A Petrobras irá até a última gota de petróleo, assim como a Arábia Saudita ou os Emirados farão o mesmo.”
Atualmente, a produção de petróleo da Petrobras é comparável à da ExxonMobil, e espera-se que supere as de gigantes estatais da China, Rússia e Kuwait até 2030, ficando atrás apenas da Arábia Saudita e do Irã.
O dilema de Lula
Este cenário representa um dilema significativo para o presidente Lula, que se vê como um líder global em questões climáticas. Mudando sua perspectiva sobre as mudanças climáticas, Lula agora as reconhece como um fator crítico para a pobreza e desigualdade, problemas que ele prometeu combater ao longo de sua carreira política.
Desde sua eleição em 2022, Lula tem tomado medidas significativas contra o desmatamento na Amazônia e promovido a expansão da energia renovável. No entanto, ele também enfrenta o desafio de gerenciar o aumento da produção de petróleo pela Petrobras e a crescente importação de gás, que atendem à demanda por voos mais baratos, alimentação de maior qualidade e casas climatizadas no Brasil.
Jean Paul Prates reconhece a contradição, mas defende a posição da Petrobras, argumentando que outros países também não estão fazendo os sacrifícios necessários para uma transição energética global.
“os outros também não estão fazendo seus próprios sacrifícios.”
Este argumento reflete um desafio maior nos esforços globais para diminuir a dependência de combustíveis fósseis. Países industrializados, como os Estados Unidos, que alcançaram o status de superpotências econômicas em parte devido à emissão intensiva de gases de efeito estufa, continuam sendo os maiores produtores e consumidores per capita desses combustíveis.
O dilema global e a posição do Brasil
A perspectiva de Jean Paul Prates é reforçada pela ideia de que, até que haja uma ação coordenada global, com nações mais abastadas na vanguarda, os países em desenvolvimento hesitarão em implementar sacrifícios significativos.
Esta tensão tem sido uma constante em anos de diálogo sobre o clima e será novamente um ponto focal na conferência da ONU em novembro, no Azerbaijão. Neste evento, espera-se que os países discutam como as nações mais ricas podem financiar as mais pobres na transição para energias mais limpas e na adaptação às mudanças climáticas.
O Brasil será o próximo anfitrião da cúpula climática da ONU (COP30), que ocorrerá em Belém, situada na entrada da Amazônia. Este local é notável por estar razoavelmente próximo a uma área que a Petrobras tinha interesse em explorar para petróleo, mas que enfrentou restrições do governo brasileiro. Prates mencionou que a empresa está contestando essa decisão.
A Petrobras tem planos ambiciosos de investir mais de US$ 7 bilhões nos próximos cinco anos em exploração offshore, visando aumentar ainda mais sua produção de petróleo.
A persistente demanda por Petróleo
Contrariando as previsões de organizações como a Agência Internacional de Energia (IEA), que sugerem que a demanda por petróleo pode ter atingido seu pico ou está próxima disso, a Petrobras antecipa que a necessidade por seus produtos continuará alta.
Esta posição coloca o Brasil em uma situação complexa, conforme descrito por Mercedes Bustamante, uma renomada ecologista e professora da Universidade de Brasília. O país está ampliando tanto suas capacidades em energias renováveis quanto em combustíveis fósseis, refletindo uma abordagem ambivalente em relação à crise climática.
O Brasil, que recentemente se tornou observador na Opep, enfrenta o desafio de equilibrar seu papel nas negociações climáticas globais da ONU com sua expansão tanto em energias renováveis quanto em combustíveis fósseis. Esta dualidade é evidente não apenas na produção de energia, mas também na gestão de seus recursos naturais, com a redução do desmatamento na Amazônia contrastando com o aumento no Cerrado.
Oliver Stuenkel, especialista em relações internacionais da FGV, sintetiza essa dualidade como parte intrínseca da política brasileira. Ele destaca a aspiração do Brasil em se tornar uma “superpotência verde”, ao mesmo tempo que se prepara para um futuro onde o petróleo ainda desempenha um papel crucial, sugerindo uma transição energética mais lenta do que muitos antecipam.
“Ter esses dois lados é parte do DNA da política do Brasil”
“Seremos uma superpotência verde, sim, mas não vamos correr riscos desnecessários. Isso significa se preparar para um mundo em que o petróleo terá um papel importante por um longo tempo e a transição levará mais tempo do que o esperado.”
Com informações da Folha de São Paulo
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