O aumento alarmante das cheias no Rio Grande do Sul tem chamado atenção para uma conexão direta com as práticas de desmatamento na Amazônia, conforme apontam especialistas em clima.
Em recente entrevista ao Brasil de Fato, três cientistas do clima enfatizaram a relação intrínseca entre a destruição do bioma amazônico e as adversidades climáticas observadas a milhares de quilômetros de distância, no Sul do país. Segundo eles, o desflorestamento compromete seriamente a funcionalidade das florestas na regulação do clima, potencializando fenômenos extremos como as enchentes que recentemente afetaram quase dois milhões de gaúchos.
A Dra. Luciana Gatti, detalhou o mecanismo pelo qual as árvores da Amazônia influenciam o clima regional e até global. Elas atuam como grandes climatizadores ao absorver água do solo e liberá-la na forma de vapor para a atmosfera, um processo essencial para a manutenção do equilíbrio climático.
Com a perda de 20% do bioma original devido ao desmatamento, esse sistema natural de regulação climática está comprometido, resultando em alterações significativas no padrão de chuvas, que afetam não apenas a região Norte, mas também áreas distantes como o Sul do Brasil.
Os pesquisadores destacam que a situação requer uma ação imediata e enfática na conservação ambiental e no reflorestamento. Estas medidas são consideradas vitais tanto para a Amazônia quanto para o Rio Grande do Sul, visando a proteção da sociobiodiversidade amazônica e a segurança dos moradores das regiões sulistas mais vulneráveis aos eventos extremos. Eles argumentam que, além de se adaptar às mudanças climáticas já em curso, é crucial combater suas causas fundamentais através de políticas públicas efetivas e engajamento comunitário para a restauração florestal e a preservação ambiental.
Este apelo dos cientistas serve como um lembrete de que as ações tomadas hoje na preservação de ecossistemas como a Amazônia têm um impacto direto e palpável na redução da vulnerabilidade de populações distantes a desastres naturais, reforçando a necessidade de uma visão integrada e sustentável no manejo ambiental e climático.
Desmatamento e mudanças climáticas: cientistas conectam devastação ambiental a cheias no Sul
Especialistas em climatologia destacam a relação direta entre o desmatamento da Amazônia e as recorrentes enchentes no Rio Grande do Sul. Luciana Gatti, coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e Alexandre Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará (UFCE), juntamente com outros cientistas, alertam para as consequências do desmatamento que transcendem as fronteiras regionais, influenciando o clima global.
Luciana Gatti explica que a queima de combustíveis fósseis e a perda de florestas intensificam o aquecimento global e exacerbam mudanças climáticas extremas. “Ao destruir a floresta Amazônica, reduzimos significativamente a capacidade do planeta de absorver carbono, o que potencializa o efeito estufa e contribui para o aumento da frequência de eventos climáticos severos”, afirma Gatti.
Por sua vez, Alexandre Costa lembra que os impactos das mudanças climáticas já foram previstos em relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) desde 2007. Estes documentos antecipavam um aumento de eventos extremos, como chuvas intensas e enchentes, especificamente mencionando áreas como o Sul do Brasil. “O aquecimento global elevou a temperatura do ar em um grau, permitindo que ele retenha mais vapor d’água. Isso significa que, enquanto as secas podem se tornar mais severas devido a taxas de evaporação mais altas, as chuvas, quando ocorrem, são muito mais intensas”, explica Costa.
Luiz Marques, professor da Ilum Escola de Ciência do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), aborda a situação no Rio Grande do Sul, onde a expansão agrícola e a monocultura agravaram o cenário de inundações. Com apenas 7% da Mata Atlântica original e uma redução significativa do bioma dos pampas, o solo gaúcho perdeu grande parte de sua capacidade de absorver e reter água, acelerando o escoamento para os rios e aumentando o risco de enchentes. “Se houvesse mais vegetação nativa, as inundações seriam menos frequentes e menos severas”, aponta Marques.
Esses especialistas também criticam o vínculo entre agronegócio e negacionismo climático. Afirmam que o setor agropecuário, responsável por uma parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, muitas vezes se alia a discursos que negam as mudanças climáticas para evitar regulamentações mais estritas sobre práticas de desmatamento. Luciana Gatti condena essa postura: “Alguns políticos ligados ao agronegócio desviam a discussão, culpando fenômenos naturais ou divinos pelas catástrofes, ignorando o papel humano e a destruição ambiental que intensifica esses desastres”.
Os cientistas são unânimes ao ressaltar a necessidade urgente de políticas eficazes que combatam o desmatamento e promovam práticas sustentáveis, tanto para mitigar as mudanças climáticas quanto para proteger as comunidades vulneráveis afetadas por eventos climáticos extremos.
*Com informações BRASIL DE FATO
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