Em Juruti, no oeste do Pará, moradores de 32 comunidades ribeirinhas estão se unindo em um esforço de conservação para proteger espécies vulneráveis de tartarugas, enfrentando os desafios impostos por décadas de exploração ambiental.
A iniciativa local se concentra em preservar espécies como a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), tracajá (Podocnemis unifilis), pitiú (Podocnemis sextuberculata), e irapuca (Podocnemis erythrocephala), essenciais para a biodiversidade da região.
As principais estratégias adotadas pelos ribeirinhos incluem a vigilância das praias durante o período crítico de desova e o transporte seguro dos ovos para chocadeiras protegidas, garantindo a sobrevivência de até 300 ninhos em algumas comunidades. Essa prática comunitária emergiu como uma resposta vital ao declínio acentuado da população de quelônios na Amazônia brasileira, um hotspot global de biodiversidade de tartarugas, onde Juruti se destaca com 14 das 21 espécies descritas.
Apesar da legislação ambiental proibir a caça e o consumo de ovos e carne de tartaruga, essas práticas ainda persistem como tradição local, exacerbando a pressão sobre essas espécies já ameaçadas. Além disso, grandes projetos de mineração, a construção de barragens e o desmatamento representam ameaças adicionais à sobrevivência desses animais no ambiente amazônico.
Beira de rio no município de Juruti, Pará. O calor excessivo e o período intenso de seca esquentou as águas e baixou o nível de lagos e rios amazônicos, gerando dificuldades para as tartarugas fazerem a postura. Foto: Julia Lemos Lima/Mongabay
O biólogo e doutor em Ecologia Aquática e Conservação, Fábio Andrew Cunha, destaca a importância do manejo comunitário na recuperação das populações de quelônios nos rios da Amazônia. Relatos históricos lembram um tempo em que as tartarugas eram tão abundantes quanto as estrelas no céu, mas a realidade atual mostra uma drástica redução desses números devido à caça excessiva e a intervenções ambientais prejudiciais.
Apesar dos desafios, a consciência crescente sobre a necessidade de preservação e as ações voluntárias das comunidades locais representam um raio de esperança para a conservação dessas espécies fundamentais para o ecossistema amazônico. Projetos como o Quelônios da Amazônia e o Pé-de-Pincha servem de inspiração para essas iniciativas, ressaltando a necessidade de políticas públicas e ações coordenadas para proteger as tartarugas e seus habitats naturais em Juruti e em toda a região amazônica.
Iniciativa protege quelônios da Amazônia
Liderados por Marunei Guerreiro de Mesquita, os “Guerreiros do Miri” da Associação dos Guerreiros Ambientais do Miri (Agam) demonstram a força da ação voluntária na conservação da biodiversidade.
A partir de esforços que começaram há 15 anos, a comunidade tem visto um crescimento significativo no número de ninhos protegidos, alcançando mais de 270 em temporadas recentes. Este sucesso, no entanto, enfrenta desafios como a seca severa, que impacta o habitat natural dos quelônios e dificulta suas chances de sobrevivência.
Ovos de tracajá são realocados e vigiados por ribeirinhos na chocadeira do Lago Tucunaré. Foto: Julia Lemos Lima/Mongabay
Apesar das adversidades, o envolvimento da comunidade e a dedicação aos projetos de conservação têm garantido um aumento na população de quelônios nos rios da região. Este trabalho não apenas protege as espécies vulneráveis mas também educa e envolve as novas gerações no esforço de preservação.
Quelônio albino, raridade nascida na comunidade Capiranga.Foto: Julia Lemos Lima/Mongabay
A estratégia inclui a coleta e proteção de ovos em berçários especiais até que os filhotes estejam prontos para serem reintroduzidos ao seu ambiente natural. Contudo, a realidade climática atual e a caça ilegal representam ameaças persistentes que exigem vigilância e ação contínua.
Com a colaboração de especialistas, como Fábio Andrew Cunha, e o apoio de organizações internacionais, Juruti se destaca como um modelo de gestão comunitária na conservação ambiental. A iniciativa demonstra o impacto positivo que a cooperação local pode ter na preservação da biodiversidade amazônica, apesar dos desafios impostos por mudanças climáticas e atividades ilegais.
*Com informações MONGABAY
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