Conclamo todas as esferas do poder público, o setor privado e a sociedade civil a assumirem esse compromisso inadiável de recompor a cobertura vegetal de Manaus. Não apenas como uma medida corretiva, mas como um legado para as gerações futuras, que herdarão a responsabilidade de cuidar do que resta e reconstruir o que foi perdido
Por Yara Amazônia
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A Manaus de hoje, com suas altas temperaturas e índices preocupantes de urbanização desordenada, é um reflexo de décadas de descuido com sua cobertura vegetal. Revisitar as imagens da Manaus do início do século XX nos transporta a uma cidade rodeada por uma vegetação exuberante, que oferecia não apenas beleza natural, mas conforto climático e qualidade de vida. Essa realidade contrasta fortemente com a situação atual, na qual nossa capital se tornou uma das cidades brasileiras mais desprovidas de cobertura arbórea. Essa carência não faz sentido, sobretudo para uma cidade localizada em pleno coração da Amazônia, e demanda uma ação urgente e coletiva.
A ciência nos apresenta as árvores como verdadeiras aliadas na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Além de proporcionar sombra e conforto térmico, elas são agentes ativos na renovação do oxigênio e na produção de água por meio da fotossíntese. No entanto, dados do MapBiomas revelam um cenário alarmante: apenas 6,9% das áreas urbanas brasileiras são cobertas por vegetação, o que corresponde a 283,7 mil hectares, menos da metade do território do Distrito Federal. Para uma cidade como Manaus, essa baixa cobertura agrava os efeitos de um clima já naturalmente extremo e prejudica a qualidade de vida de seus habitantes.
Segundo a Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, o ideal seria que cada habitante tivesse acesso a 15 metros quadrados de vegetação. Entretanto, a média nacional é de apenas 13 metros quadrados por pessoa, e a distribuição é ainda mais desigual em cidades da região Norte. Essa falta de vegetação resulta em microclimas urbanos mais quentes, sistemas de drenagem ineficientes e uma qualidade de vida comprometida. Manaus, com suas peculiaridades climáticas, sofre intensamente essas consequências.
Além do impacto climático, a arborização urbana tem um papel fundamental na promoção da cidadania e da educação ambiental. Projetos de reflorestamento urbano, quando bem planejados e executados, não apenas transformam a paisagem urbana, mas também formam novas consciências comprometidas com a sustentabilidade e o combate ao aquecimento global. Este é um desafio que pode começar em pequenas ações locais, mas com impactos globais. A exemplo de cidades como Rio de Janeiro e Brasília, que possuem índices mais elevados de cobertura verde urbana, Manaus pode e deve liderar esse movimento na Amazônia.
A baixa cobertura vegetal urbana também prejudica a adaptação às mudanças climáticas, dificultando a resiliência da cidade frente a eventos extremos. Estudos indicam que áreas urbanas com menos de 30% de vegetação experimentam aumentos significativos de temperatura, o que intensifica ilhas de calor e coloca a saúde pública em risco. Além disso, a vegetação é crucial para a regulação do microclima, melhoria dos sistemas de drenagem e promoção do bem-estar humano por meio de espaços verdes para lazer e interação social.
Em Manaus, esse desafio é ainda mais crítico devido à desproporção entre a urbanização e a conservação ambiental. O reflorestamento urbano é mais do que uma questão de paisagem; é uma infraestrutura essencial para o equilíbrio climático, a saúde da população e a preservação da biodiversidade em um dos biomas mais importantes do mundo. A iniciativa precisa ir além de ações pontuais, promovendo uma distribuição equitativa de áreas verdes em toda a cidade.
Portanto, conclamo todas as esferas do poder público, o setor privado e a sociedade civil a assumirem esse compromisso inadiável de recompor a cobertura vegetal de Manaus. Não apenas como uma medida corretiva, mas como um legado para as gerações futuras, que herdarão a responsabilidade de cuidar do que resta e reconstruir o que foi perdido. A reconstrução de uma Manaus mais verde e sustentável não é uma utopia, mas uma obrigação histórica e um caminho necessário para garantir um futuro digno a todos os seus habitantes.
Yara Amazônia Lins é pós-graduada em Ciências Contábeis pela UFAM e reúne um portfólio robusto em Espírito Publico nos seus mais de 40 anos de serviços prestados ao TCE-AM