Meta do Acordo de Paris permanece distante, aponta relatório sobre ações climáticas globais
O Climate Change Performance Index (CCPI) 2025, desenvolvido por Germanwatch, NewClimate Institute e CAN International, traz uma análise detalhada sobre o desempenho de diversos países em relação às ações climáticas. Apesar de avanços pontuais, o relatório destaca que os esforços globais ainda são insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, meta estabelecida. Por isso, assim como em edições anteriores, as três primeiras posições do ranking permanecem vagas, evidenciando a distância entre as ações implementadas e o que é necessário para enfrentar a crise climática.
Avanços nas energias renováveis e a sombra dos combustíveis fósseis
Uma das tendências mais marcantes destacadas pelo CCPI 2025 é o avanço das energias renováveis em quase todos os países analisados, incluindo grandes emissores de gases de efeito estufa. No entanto, o relatório alerta que o progresso das renováveis está sendo ofuscado pela continuidade de investimentos em combustíveis fósseis, com destaque para o gás natural. Essa contradição reflete um desafio estrutural: mesmo com avanços na transição energética, muitas economias continuam dependentes de modelos baseados em carbono.
A Dinamarca, ocupando o 4º lugar, é novamente o país mais bem avaliado no índice. Foi o único a atingir um desempenho elevado na categoria de políticas climáticas, o que demonstra seu compromisso com ações efetivas para mitigar as mudanças climáticas. Apesar disso, os resultados gerais ainda não foram suficientes para colocá-la entre as posições de maior destaque no ranking, que exigem alinhamento mais consistente com as metas de 1,5°C.
Outros países de destaque incluem a Holanda, na 5ª posição, e o Reino Unido, que subiu para o 6º lugar. No caso britânico, o avanço foi atribuído ao abandono do carvão como fonte de energia e à decisão do governo de não emitir novas licenças para exploração de combustíveis fósseis. Entretanto, o relatório alerta para incertezas na política climática holandesa, que pode enfrentar desafios devido a mudanças no governo.
Brasil: queda no ranking e avanços políticos
O Brasil caiu cinco posições em relação ao último índice, figurando na 28ª colocação, na faixa de desempenho médio. A avaliação do país foi caracterizada como mista: ele teve resultados médios em categorias como Energia Renovável, Uso de Energia e Políticas Climáticas, mas um desempenho insatisfatório em Emissões de Gases de Efeito Estufa.
Apesar da queda no ranking, o relatório destacou avanços importantes desde o início do governo Lula, em 2023. Entre as iniciativas positivas estão a apresentação de uma Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) mais ambiciosa, com metas para 2035, e o lançamento de um Plano Clima. As medidas reforçam o compromisso do Brasil com a agenda climática, mas os desafios na redução efetiva de emissões permanecem um obstáculo significativo.
Gigantes emissores entre os piores desempenhos
China e Estados Unidos, os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, apresentaram desempenhos preocupantes, ocupando, respectivamente, o 55º e o 57º lugares no ranking. Essa posição reflete uma falta de avanços consistentes em políticas climáticas e transição energética, mesmo com a crescente pressão global por mudanças.
Entre os países do G20, apenas o Reino Unido e a Índia (na 10ª posição) atingiram a faixa de alto desempenho, que inclui os 15 primeiros colocados no índice. Isso reforça o papel crucial que essas duas nações têm desempenhado na liderança de ações climáticas dentro do grupo, que responde por 75% a 80% das emissões globais.
Retrocesso em alguns países e estagnação dos piores colocados
O relatório também evidenciou retrocessos significativos em países como a Argentina, que caiu para a 59ª posição, exemplificando como mudanças de governo podem comprometer os avanços climáticos.
Os últimos lugares no ranking foram ocupados pelo Irã (67º), Arábia Saudita (66º), Emirados Árabes Unidos (65º) e Rússia (64º). Esses países, grandes produtores de petróleo e gás, possuem uma participação de renováveis inferior a 3% em suas matrizes energéticas e não demonstram sinais de transição efetiva para fontes mais limpas.
O CCPI 2025 deixa claro que, embora avanços tenham sido registrados em alguns países, os esforços globais ainda estão aquém do necessário para limitar o aquecimento global a 1,5°C. A dependência de combustíveis fósseis, a falta de ambição em políticas climáticas e os retrocessos em algumas nações ameaçam os objetivos do Acordo de Paris.
Para reverter esse cenário, será essencial que as nações acelerem a transição energética, invistam em renováveis e adotem políticas climáticas mais rigorosas. O relatório envia uma mensagem clara: o tempo para ação está se esgotando, e uma abordagem coletiva e transformadora será crucial para enfrentar os desafios climáticos globais.