Até onde vai a adaptabilidade da região Amazônica à brutalidade da mudança climática? Qual será a resiliência dos seus sistemas? Como a natureza se adaptará à nova realidade? Para alguns pesquisadores, a Amazônia poderá sofrer em 2024 uma seca ainda mais severa do que em 2023. Este é o pensamento que tenho, como alguém que reflete a logística, mas não como um especialista em clima
Por Augusto Rocha
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A Amazônia é forte e delicada ao mesmo tempo. É forte, pois resiste faz centenas de anos ao esforço de extração de riquezas de toda ordem. É delicada porque existem inúmeros biomas espalhados e cada um deles é alterado quando a intervenção não é pensada como uma ação harmônica com a natureza.
Neste contexto, nos últimos anos vários esforços vêm sendo feito para associar riqueza à proteção. Entretanto, há muito mais interesses na extração pura e que ignora tudo e todos que aqui vivem ou uma extração dissimulada de seus recursos, em um faz de conta “sustentável”, que vem recebendo o termo em inglês “green washing”, em especial nas fronteiras, que se tornam as áreas ainda mais vulneráveis que as regiões mais isoladas.
O aquecimento global começa a atrair mais atenção para a região, pois o ano de 2024 é o mais quente da história, segundo o Programa Copernicus, da União Europeia. Associado a isto, a diversos pesquisadores mundo afora que estão correlacionando o aquecimento global com a seca na Amazônia. Há clara correlação, pois o aumento da temperatura leva à redução das chuvas na região. Entretanto, não está completamente clara a causalidade: paira ainda uma dúvida se o aquecimento provocou a seca.
Até onde vai a adaptabilidade da região Amazônica à brutalidade da mudança climática? Qual será a resiliência dos seus sistemas? Como a natureza se adaptará à nova realidade? Para alguns pesquisadores, a Amazônia poderá sofrer em 2024 uma seca ainda mais severa do que em 2023. Este é o pensamento que tenho, como alguém que reflete a logística, mas não como um especialista em clima.
Isso significa que a minha sugestão para os profissionais que constroem redes logísticas para a indústria e o comércio de Manaus devem considerar que 2024 será pior que 2023. Para quem quiser ouvir, isso implica que o governo federal, dentro das atribuições do DNIT, deve agir com grande diligência na garantia do calado na “hidrovia” do Amazonas. Os armadores de navios de maior porte devem repensar suas frequências de navios e capacidades máximas, construindo soluções alternativas, caso o governo não faça o seu papel.
As empresas sediadas nas áreas que sofreram ao menos dois meses de rompimento das cadeias produtivas em 2023 deverão considerar a expressiva possibilidade da repetição do cenário do ano passado, salvo as medidas anteriormente mencionadas aconteçam em toda sua extensão. Trabalhar antecipadamente é o que resta aos gestores envolvidos com a logística da região.
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Enquanto a Amazônia não entrar na agenda do país, como uma área primária e importante, não poderemos aproveitar toda a extensão de possibilidades que este delicado sistema pode ofertar. Por ora, o olhar é de fluxo de capitais apenas para apropriação de bens públicos, como destacado por Ladislau Dowbor, demarcando a região como áreas repletas de subclasses, ao invés de iguais em país e oportunidades.
A ver o que prevalece no longo prazo: a visão populista e que despreza pessoas de regiões com menor poder econômico ou a oportunidade da gestão responsável dos recursos ambientais e dos potenciais tão abundantes da Amazônia. A brutalidade superficial ou a delicada e cuidadosa análise de cada espaço de potências e potenciais.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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