É quase impossível rotular pessoas, pois elas são metamorfoses e amalgamas de costumes. Precisamos encontrar um caminho para criar e ampliar o hábito de respeitar a natureza, com o uso de seus recursos cuidadosamente. Encontrar esta equação ainda não foi possível na Mata Atlântica ou no Cerrado. Será que conseguiremos montar esta equação na Amazônia?
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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Deixar a Amazônia intocada ou, melhor, “intocada” gera mais riqueza para as estruturas de poder do que investir para a sustentabilidade. Este é o motivo para a situação atual, onde há estrago de recursos. Há bastante riqueza gerada no desperdício e existe riqueza suficiente para as estruturas que administram as sociedades.
Por um lado, que pode ser chamado de “responsável”, preservar a floresta sem uso representa uma reserva para uso futuro. Preserva-se em nome de um futuro próximo, que pode ser muito distante ou mesmo nunca chegar. Preserva-se pela natureza ou “pela natureza” e parece até bom esta preservação para o ócio, para a ferrugem e para o desperdício de recursos, como se fôssemos todos bem-nutridos e com uma vida plena.
Por outro lado, “preserva-se” para a grilagem e o uso indiscriminado, sem a sombra das leis e do peso do Estado e de suas regras. Aqui, abrem-se oportunidades diversas, que podem ser usadas nas lacunas das regras, na usucapião e outros mecanismos que apresentam oportunidades para aqueles que sabem transitar nestas fronteiras da legalidade.
Há ainda pessoas que adoram a preservação para parecer bacana aos olhares estrangeiros ou nacionais, que entendem e aceitam a necessidade da preservação, seja pelo aquecimento global, seja pela importância de um equilíbrio ambiental. Muito nobre, muito útil, mas muito aquém do potencial existente. É ótimo para fotos, filmes e para a exploração da condição de pobreza do interior profundo ou das áreas marginais das capitais
Um grupo aparentemente menor, que precisa ser expandido, é aquele que entende de investimento sustentável, que adota a ciência, que preserva usando, que retira saúde da destruição, que inclui ao gerar empregos, que respeita os modos de vidas locais e tradições, que evita ao máximo as destruições culturais, que não transforma tudo e todos em maneiras de arrecadação e de consumo.
É quase impossível rotular pessoas, pois elas são metamorfoses e amalgamas de costumes. Precisamos encontrar um caminho para criar e ampliar o hábito de respeitar a natureza, com o uso de seus recursos cuidadosamente. Encontrar esta equação ainda não foi possível na Mata Atlântica ou no Cerrado. Será que conseguiremos montar esta equação na Amazônia?
São muitas as oportunidades perdidas nas mais de 1.400 plantas medicinais, mais de 200 frutas comestíveis, mais de 2.000 espécies de peixes, mais de 300 óleos essenciais e tantas outras oportunidades já mapeadas por pesquisadores e instituições científicas, isso tudo sem falar no minério ou petróleo, que é impossível de ser retirado sustentavelmente, mas com alguma possibilidade temporária em escalas controladas poderá ser útil em condições especiais
Tudo o que não podemos é seguir disfarçadamente ou descaradamente no arco do desmatamento que corrói para alguns poucos e produz para a riqueza não inclusiva, repetindo o padrão mental de colônia para alimentos que valem muito pouco ou quase nada, onde somente as grandes tradings é que captam a geração de riqueza.
Há esta equação? Certamente, mas precisamos mudar as lentes e ampliar a percepção para quem interessa cada tipo de ação e quais são os grupos que ganham ao reproduzirmos os erros do passado, sob novos nomes. Precisamos estar dispostos a investir e não apenas a destruir ou extrair ignorando as pessoas, a natureza e o futuro
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Diretor Adjunto do CIEAM
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