“A aplicação do modelo da Hélice Tríplice na Amazônia tem o potencial de transformar os desafios logísticos em soluções sustentáveis. A integração de universidade, indústria e governo pode promover a inovação necessária para enfrentar as vazantes extremas dos rios, garantindo a continuidade do transporte e o desenvolvimento econômico da região”.
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
Nesta terça-feira, mais um Fórum de Logística mostrou que o debate sobre os gargalos de infraestrutura de transportes na Amazônia tem jeito. Só depende de movimentação inteligente como tem feito o CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas. Sob a batuta da Comissão de Logística, dessa vez o evento decolou com o combustível acadêmico da Tríplice Hélice, onde indústria promove, o poder público monitora e a academia relará suas sugestões. A história nos mostra que esta comunhão é fecunda. As conclusões e encaminhamentos estão a caminho.
A Amazônia, com seus vastos rios e densas florestas, enfrenta desafios logísticos únicos. As vazantes extremas dos rios, fenômenos que se tornaram mais frequentes devido às mudanças climáticas, representam um gargalo significativo para a competitividade da indústria na região. O Rio comanda a vida e os negócios, parodiando o poeta.
A infraestrutura de transporte é altamente dependente dos rios e sofre com a redução drástica dos níveis de água, afetando o transporte de mercadorias e o abastecimento de comunidades ribeirinhas. Para enfrentar esses desafios, é crucial adotar o modelo da Hélice Tríplice, que integra universidade, indústria e governo em uma dinâmica colaborativa para promover a inovação e a sustentabilidade. Hoje, 28 de maio a dinâmica dos três níveis voltou à cena.
A Hélice Tríplice se aplica à sustentabilidade logística? Vejamos o que foi demonstrado e exemplificado pelo desenvolvimento do Vale do Silício, baseia-se na interação contínua e colaborativa entre universidade, indústria e governo. No contexto amazônico, essa abordagem pode ser adaptada para enfrentar as vazantes extremas dos rios. A universidade pode conduzir pesquisas, desenvolver cenários e metodologias e criar respostas e previsibilidade. E mais: se demandada e apoiada, pode desenvolver tecnologias de transporte adaptáveis às condições variáveis dos rios, enquanto a indústria pode aplicar essas inovações para melhorar a logística. O governo, por sua vez, pode fornecer o financiamento necessário e criar políticas de incentivo para a implementação dessas soluções. Sempre sob o critério sagrado da sustentabilidade.
E quais os desafios e respectivas oportunidades? Os desafios logísticos na Amazônia são exacerbados em tempos de vazantes extremas, que irão ocorrer mais frequentemente preveem os pesquisadores. Portanto, se afetam diretamente o transporte fluvial, principal meio de escoamento de produtos na região, é urgente fazer a hélice girar. A indústria enfrenta dificuldades para manter o fluxo de mercadorias, resultando em atrasos e aumentos de custo. As comunidades ribeirinhas, muitas vezes isoladas durante esses períodos, sofrem com a falta de abastecimento e acesso a serviços essenciais. A gestão pública é cobrada e a economia entre em estado de alerta.
Essa colaboração apresenta oportunidades para a inovação, criação de ferramentas e aplicação de inteligências naturais e artificiais. A aplicação do modelo da Hélice Tríplice pode transformar os desafios em oportunidades de desenvolvimento sustentável. A criação de embarcações adaptadas às variações dos níveis dos rios, a implementação de sistemas de monitoramento avançado e o desenvolvimento de rotas alternativas são exemplos de inovações que podem ser promovidas por essa colaboração tripartite.
Casos de sucesso e aplicações práticas. A experiência do Vale do Silício – a mais célebre delas – ilustra como a interação entre universidade, indústria e governo pode impulsionar o desenvolvimento tecnológico e econômico. A Universidade de Stanford, por exemplo, desempenhou um papel crucial ao incentivar a formação de empresas de tecnologia e ao colaborar com a indústria para promover a inovação. “A universidade precisa da indústria”, disse uma pesquisadora qualificada da UFAM, durante o Fórum em que a indústria buscou a universidade para ajudar na redução dos problemas e prejuízos. E o governo depende de ambos, embora nem sempre saiba descrever em detalhes suas precisões.
Na Amazônia, iniciativas similares podem ser implementadas. Amazonas tem uma das mais antigas universidades do país, e a indústria patrocina a Universidade do Estado Amazonas e bem gostaria de chamar de sua para combinar a produção de respostas novas para gargalos antigos. Parcerias entre universidades locais, como a Universidade Federal e do Estado do Amazonas, demandas logística da indústria e o governo federal podem resultar em soluções práticas para os problemas das vazantes. Projetos de pesquisa para equacionar entraves já existem há séculos. Eles são capazes de focar no desenvolvimento de tecnologias de transporte sustentável, na previsibilidade dos fenômenos enquanto a indústria pode pilotar/detalhar/adotar essas soluções e o governo pode facilitar o financiamento e a regulamentação necessária.
Dizem os sábios que o insucesso de qualquer empreitada jamais pode ser considerado fracasso e sim aprendizagem. Neste Fórum, como nos demais, os embaraços de infraestrutura tendem a transformar problemas em alternativas, embaraços em oportunidades. A aplicação do modelo da Hélice Tríplice na Amazônia tem o potencial de transformar os desafios logísticos em soluções sustentáveis. A integração de universidade, indústria e governo pode promover a inovação necessária para enfrentar as vazantes extremas dos rios, garantindo a continuidade do transporte e o desenvolvimento econômico da região. Ao adotar essa abordagem colaborativa, a Amazônia pode superar os desafios atuais, mas também se posicionar como um exemplo de sustentabilidade e resiliência em tempos de crise climática.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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