Em meio ao aumento de CO2, floresta amazônica corre risco de perder força regenerativa, aponta pesquisador em seminário do G20
A floresta amazônica está perdendo sua capacidade regenerativa em resposta ao aumento de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Essa foi a mensagem de alerta do pesquisador Dr. Carlos Alberto Quesada, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), durante uma reunião técnica do G20 sobre mudanças climáticas e florestas tropicais, realizada na última terça-feira (17). O evento, organizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), reuniu especialistas de várias partes do mundo para discutir os impactos das mudanças climáticas nas florestas tropicais, com foco na Amazônia.
Quesada, que lidera um projeto de monitoramento do impacto do CO2 na Amazônia, destacou que as árvores estão perdendo gradualmente sua capacidade de absorver o carbono da atmosfera. Ele explicou que, embora a Amazônia desempenhe um papel vital no armazenamento de carbono e no equilíbrio climático global, a crescente concentração de CO2 está alterando o ciclo natural da floresta, comprometendo sua capacidade de regeneração.
O trabalho de Quesada é parte de um projeto que utiliza torres de monitoramento para medir como as árvores reagem ao aumento do CO2. O sistema consiste em anéis de 30 metros de diâmetro instalados no meio da floresta, onde são realizados experimentos que simulam diferentes níveis de concentração de gás carbônico. De acordo com o pesquisador, os dados mostram que, à medida que os níveis de CO2 aumentam, a floresta não está conseguindo se adaptar à nova realidade.
Além disso, o pesquisador ressaltou que a Amazônia é fundamental não apenas para o Brasil, mas para o mundo. Ele mencionou os chamados “rios voadores”, massas de vapor de água que se formam sobre a floresta e que afetam diretamente o clima de outras regiões do Brasil e até de outros continentes.
Desigualdade climática
Durante seu discurso, Quesada também chamou a atenção para o impacto desproporcional que as mudanças climáticas terão sobre diferentes grupos sociais. Ele destacou que, embora as mudanças climáticas sejam um problema global, suas consequências serão sentidas de forma mais intensa pelas populações mais pobres.
Esse ponto foi reforçado pelo secretário de Clima e Sustentabilidade do MCTI, Osvaldo Moraes, que participou do seminário. Moraes destacou que as políticas públicas para combater as mudanças climáticas precisam ser voltadas tanto para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa quanto para a adaptação às novas condições climáticas. Com isso, torna-se também necessárias políticas públicas eficazes que considerem as desigualdades sociais e regionais.
Soluções para a Descarbonização
Uma das soluções discutidas no evento foi a “terra preta de índio”, um tipo de solo encontrado na Amazônia que tem alta capacidade de armazenar carbono. Pesquisadores apontam que, ao estudar esses solos, pode ser possível desenvolver técnicas para aumentar a absorção de carbono pelas árvores da floresta, contribuindo para a descarbonização do planeta.
Além disso, o seminário abordou o impacto das queimadas na capacidade regenerativa da floresta. O pesquisador Keizo Hirai apresentou dados preocupantes sobre o aumento das áreas desmatadas e queimadas na região. Ele explicou que essas queimadas têm deixado “aberturas” na cobertura vegetal da floresta, o que dificulta ainda mais a regeneração natural das áreas afetadas.
Principais desafios
Quesada foi enfático ao afirmar que, sem uma ação coordenada e urgente dos países do G20, o mundo caminha para extinções em massa. Ele ressaltou que a responsabilidade de liderar a luta contra as mudanças climáticas recai principalmente sobre os países que historicamente foram os maiores emissores de CO2. “Se os países mais ricos não se unirem para resolver esse problema, a humanidade enfrentará consequências catastróficas”, declarou.
O seminário também discutiu a necessidade de integração das políticas públicas de descarbonização com as comunidades locais da Amazônia. O secretário Osvaldo Moraes destacou que, para proteger a Amazônia, é essencial não apenas preservar as árvores, mas também garantir o desenvolvimento sustentável das populações que vivem na região.
“O que nos resta fazer agora, em vista de que as emissões continuam crescendo? Quais as políticas públicas que nós podemos fomentar para mitigar essas emissões e também fazer uma outra coisa que é essencial, que são as políticas de adaptação?”, questionou Moraes
O evento técnico do G20 sobre mudanças climáticas encerrou na quarta-feira (18) e contou com uma apresentação de um relatório final, que será utilizado para orientar as futuras ações dos países-membros em relação à preservação das florestas tropicais. O documento abordou sobre a necessidade urgente de políticas públicas voltadas à regeneração da Amazônia e à mitigação dos impactos das mudanças climáticas, com foco na cooperação internacional e no desenvolvimento sustentável.
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