As infraestruturas que possibilitarão a mudança das realidades precisam ir além da hipocrisia da inércia. É necessário um esforço concreto de proteção e de entendimento da Amazônia da Imaginação, um conceito que vai além das imagens românticas para abraçar ações reais. Fora disso, seguiremos em um mundo de “faz de conta”, discutindo mundos imaginários, enquanto as populações locais são sugadas e o país desperdiça potenciais que, por ora, residem apenas nas imaginações de todos
Por Augusto Rocha
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A Amazônia faz parte do imaginário e da realidade concreta. Para a quase totalidade do mundo é apenas uma imaginação. Uma criação mental que é normalmente muito distante da realidade concreta de quem vive nela. Mesmo para um habitante da área urbana de uma capital, como Boa Vista, Belém ou Manaus, o modo de vida de um ribeirinho ou de um morador de pequena cidade do interior é tipicamente algo muito distante da realidade concreta, do trânsito ou das dificuldades da vida urbana.
Imagine a dissonância do imaginário de um morador de metrópoles como São Paulo ou Londres. Este distanciamento dos problemas, das realidades e das oportunidades de vida levam a um choque de culturas, expectativas e de perspectivas. E é assim que se dá a quase totalidade das discussões contemporâneas sobre a Amazônia: no campo das imaginações e muito distante das realidades concretas. Mesmo quando são desenhados planos para o futuro, um ribeirinho tipicamente tem mais consciência de sua insignificância do que alguém no centro dos limitados poderes institucionais nacionais ou internacionais.
Este “estamento burocrático” utilizado por Raymundo Faoro em sua interpretação da realidade brasileira, inspirado por Max Weber, pode ser trazido para a continuada relação desigual da região com o país. A imensidão territorial faz com que o imaginário seja muito maior do que seria o razoável. A dissonância é gigante. Muitos se acham “certos” mesmo que sua visão sequer tenha a mínima proximidade das realidades concretas. E, o pior, o que mais frequentemente acontece são dois diálogos, recheados de “certezas”, discutindo sobre algo completamente desconhecido.
Há muita dificuldade de harmonizarmos dentro de cada pedaço da região o que seria o “certo” ou o minimamente apropriado. Enquanto as decisões sobre a Amazônia seguirem a negligenciar os que moram nela, teremos conflitos e desperdícios, nas vidas práticas e na economia. Para muito além das ideologias possíveis do mundo, precisamos que as instituições da região retomem seus papéis de liderança. O Regimento da Suframa precisa ser revisado e devolvido a ele a função de trabalhar as estratégias regionais. A Sudam pode também retomar esta função. Os Governos Estaduais precisam liderar estes posicionamentos, para além do mero extrativismo.
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As infraestruturas que possibilitarão a mudança das realidades precisam ir além da hipocrisia da inércia. É necessário um esforço concreto de proteção e de entendimento da Amazônia. Fora disso, seguiremos um mundo de “faz de conta” e a discutir mundos imaginários, enquanto as populações locais são sugadas e o país segue a desperdiçar potenciais, que, por ora, estão apenas nas imaginações de todos.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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