Duas deslumbrantes aves da Mata Atlântica no sul do Brasil, o papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) e os papagaios-charão (Amazona pretrei), estão enfrentando ameaças crescentes devido à perda de habitat e ao comércio ilegal de animais silvestres. Suas vibrantes penas coloridas, que os tornam um espetáculo a ser admirado, infelizmente também os tornaram alvo de caçadores e contrabandistas.
O habitat natural dessas aves, a Floresta com Araucárias, tem sofrido reduções significativas. Esta floresta, que é típica de altitudes superiores a 500 metros, é caracterizada principalmente pela presença da árvore araucária (Araucaria angustifolia). O pinhão, semente dessa árvore, é uma parte vital da dieta desses papagaios.
Elenise Sipinski, coordenadora de projetos de fauna da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), destaca: “É na Floresta de Araucárias que os papagaios vivem, se reproduzem, dormem e se alimentam. Eles também são cruciais para a dispersão das sementes da floresta. Esse papel ajuda na preservação destas importantes áreas naturais, que são vitais não apenas para eles, mas também para inúmeras outras espécies.”
Em resposta a essa crescente ameaça, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) juntou-se a várias organizações, tanto públicas quanto privadas, para lançar a campanha “Papagaios-de-altitude”. Esta iniciativa visa aumentar a conscientização sobre a importância dessas aves e das araucárias para o equilíbrio ecológico da região.
Papagaio-charão (Amazona pretrei) se alimenta dos pinhões, sementes da araucária, e acaba por ajudar na sua dispersão.
Atualmente, ambas as espécies de papagaios estão classificadas como “vulneráveis” e correm o risco de extinção. Estima-se que apenas cerca de cinco mil papagaios-de-peito-roxo vivam livremente no Brasil. Embora o papagaio-charão tenha uma população ligeiramente maior, com cerca de 20 mil indivíduos, sua situação ainda é precária.
A campanha “Papagaios-de-altitude” é um chamado urgente para a ação, um lembrete da beleza natural que o Brasil possui e do dever de protegê-la. Enquanto os esforços continuam para conservar esses papagaios, a esperança é que a conscientização ajude a evitar a perda de mais uma valiosa peça da biodiversidade da Mata Atlântica.
Araucárias e papagaios: o delicado equilíbrio da Mata Atlântica em risco
O cenário da Mata Atlântica, particularmente no sul do Brasil, vem sendo drasticamente alterado pela ação humana. Uma das vítimas silenciosas desta transformação é a araucária, uma árvore majestosa que, durante anos, foi visada pela indústria madeireira. A magnitude dessa exploração é evidenciada pelo fato de que, no Paraná, apenas 1% da área originalmente ocupada por estas árvores permanece intacta. Atualmente, a araucária é classificada como “em perigo” de extinção, um status alarmante que reflete a gravidade de sua situação.
Por sua vez, o papagaio-de-peito-roxo e o papagaio-charão, duas aves vibrantes que dependem da Floresta com Araucária, estão igualmente sob ameaça, em grande parte devido à redução de seu habitat natural. A relação entre esses papagaios e a araucária é tão íntima que a dieta das aves é fortemente baseada no pinhão, a semente da araucária.
Eduardo Araújo Barbosa, analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE), destaca a interconexão deste ecossistema. “A Floresta com Araucária desempenha um papel fundamental no equilíbrio do nosso ecossistema e na sobrevivência dessas aves”, afirma. Barbosa, também coordenador do Plano Nacional (PAN) Aves da Mata Atlântica, reitera a urgência de medidas de conservação.
O papagaio-de-peito-roxo abre o pinhão, semente da araucária, com seu bico para se alimentar da parte interna e comestível da semente.
Desde 2018, a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) tem estado na linha de frente dos esforços de conservação para o papagaio-de-peito-roxo. O trabalho inclui identificar locais de nidificação, monitorar ninhos e envolver as comunidades locais para evitar o roubo de filhotes. Além disso, a SPVS tem promovido atividades educacionais para elevar a conscientização ambiental e rastrear o movimento de populações de papagaios entre São Paulo e Paraná.
O desafio agora é garantir que a combinação de esforços de conservação e sensibilização conduza a ações significativas para preservar essas aves e seu habitat. As araucárias e os papagaios são mais do que apenas símbolos da rica biodiversidade da Mata Atlântica; eles são indicativos do equilíbrio ecológico que, uma vez perdido, pode ser irreversível.
*Com informações Parque das Aves
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