A Petrobras vem anunciando que vai aumentar os investimentos em energias renováveis, mas a companhia está atrasada no processo de transição energética. Foi o que admitiu o futuro diretor-executivo de transição energética e energias renováveis da petroleira, Mauricio Tolmasquim, que presidiu a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) durante os governos anteriores de Lula e de Dilma Rousseff.
“Isso [transição energética] não era prioridade na Petrobras. Nossa atitude é de recuperar o tempo perdido, colocar o pé no acelerador”, disse Tolmasquim no seminário “A pluralidade de visões da agenda ESG”, organizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), na terça (18/4), informam Estadão e Investing.com.
Tolmasquim explicou que o atraso estaria nas emissões do “Escopo 3”, que envolve operações indiretas, ligadas à cadeia de valor da companhia, como o consumo de combustíveis fósseis, transportes e logística, segundo o Valor. Nos Escopos 1 (operações diretas) e 2 (consumo de energia), a Petrobras está “adiantada”, disse.
Tolmasquim disse que a companhia poderá liderar o processo de descarbonização da economia brasileira. Mas repetiu o discurso do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, defendendo o aumento da produção de petróleo.
“Ilusão achar que vamos mudar de atividade de uma hora para outra. A Petrobras deve estar entre as empresas que vão vender os últimos barris de petróleo, não vamos nos desfazer de um bilhete premiado [o pré-sal] que o país ganhou, um petróleo de qualidade com custo baixo”, afirmou Tolmasquim, que também anunciou que o novo Plano Estratégico da companhia somente estará pronto no fim do ano, relatam a epbr e o Brasil 247.
Falando em pré-sal, a Petrobras vai construir com a Shell e o SENAI CIMATEC o Laboratório de Desenvolvimento de Produção (LDP). A estrutura vai custar R$ 254 milhões e, segundo a petroleira, “vai viabilizar condições operacionais seguras semelhantes ao pré-sal para testes de sistemas integrados”, a fim de avaliar a performance de equipamentos antes de sua instalação em campo, informa o Money Times.
Mas não é só no pré-sal que a Petrobras está de olho. A petroleira quer autorização do IBAMA para perfurar um poço exploratório na Bacia da Foz do Amazonas, região de alta sensibilidade ambiental. E isso sem qualquer estudo sobre os impactos da atividade na área.
A pressão da petroleira mobilizou mais de 80 organizações da sociedade civil – incluindo o Instituto ClimaInfo –, que divulgaram um manifesto defendendo que qualquer atividade petrolífera na Foz do Amazonas seja liberada somente após a realização de uma avaliação ambiental estratégica na região.
O fato é que as licitações de áreas para exploração de petróleo e gás natural que vêm sendo promovidas pelo governo desde 2000 nunca se valeram de Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS), mostra um estudo do Observatório do Clima. E ela seria fundamental para o FZA-M-59, onde a Petrobras quer perfurar.
Em tempo: CEOs de petroleiras tiveram suas remunerações dobradas, após os preços do petróleo e do gás natural terem decolado em 2022, na esteira da invasão da Ucrânia pela Rússia. A guerra alimentou a inflação dos países ocidentais e elevou os preços das fontes de energia na Europa, destaca o Valor.
Os altos preços também levaram as grandes petrolíferas a registrar lucros recorde. As cinco maiores petroleiras – ExxonMobil, Chevron, Shell, BP e TotalEnergies – somaram lucros de quase US$ 200 bilhões.
Texto publicado em CLIMA INFO
Comentários