Estudioso da Amazônia e muito presente nos projetos de qualificação acadêmica reunindo Universidades do Amazonas com a Universidade de São Paulo, o professor emérito da USP, Jacques Marcovitch inseriu a figura de Samuel Benchimol, o pioneiro da sustentabilidade, na galeria dos grandes pioneiros e empreendedores do Brasil, através da iniciativa incluída no doutorado de Administração da FEA USP, que percorreu o Brasil inteiro destacando, igualmente, os pioneiros regionais. No evento de instalação do Memorial Samuel Benchimol, no último dia 23, por ocasião de seu Centenário neste ano de 2023, concedeu entrevista exclusiva para o portal BrasilAmazôniaAgora, do qual é parceiro fundador.
Entrevista com Jacques Marcovitch por Alfredo Lopes
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BrasilAmazôniaAgora – Atento e comprometido com a questão amazônica desde sempre, você conheceu de perto a trajetória empreendedora e acadêmica de Samuel Benchimol e da obra admirável da família judaico-marroquina que aqui desembarcou há 200 anos. O que você destacaria nesse legado monumental que se faz presente na história do desenvolvimento social, econômico e sustentável da Amazônia até os dias de hoje?
Samuel Benchimol foi exemplar em sua totalidade humana e intelectual o que torna difícil destacar apenas um aspecto em seu legado. O pioneirismo da sustentabilidade, seu perfil como ambientalista e como empresário, os méritos do sociólogo, jurista e professor, a coerência em sua fé judaica e o zelo na condição de chefe de família deram sentido de grandeza à expressão “homem de bem”, hoje tão vulgarmente usada e reusada. Uma visita ao seu Memorial traz uma resposta mais extensa e completa a essa pergunta. É aconselhável fazê-la para formar um juízo certo sobre este cidadão que marcou o seu tempo e teve o nome definitivamente inserido na história do trabalho em nosso país.
BAA – Fui testemunha da relação próxima e colaborativa do professor Samuel com a as pesquisas da Universidade de São Paulo da qual você é professor emérito e ex-reitor. O que significa, na sua opinião, essa aproximação de saberes e quais os benefícios de parte a parte que ela tem produzido?
A memória empresarial no Brasil, nela incluído o nome de Samuel, é hoje uma extensa linha de pesquisa na área de Humanidades da Universidade de São Paulo, especialmente na Faculdade de Economia e Administração. Tema incontornável para o estabelecimento de pontes entre a universidade e a sociedade e para construção de um futuro melhor. Tenho hoje a satisfação de vê-la cada vez mais presente no interesse acadêmico das novas gerações – o que é uma garantia de sua permanência temporal. E sempre abrindo novos e promissores caminhos.
BAA – Em 2012, através do caminho percorrido pelas capitais brasileiras, a Mostra do Pioneirismo e Empreendedorismo Brasileiro, capitaneada pela USP e sob sua coordenação, chegou a Manaus e aqui ficou por 6 meses. O Brasil começou a conhecer o Brasil?
Sim, esta Exposição contribuiu para perenizar a historicidade do empreendedorismo de grandes brasileiros e brasileiras. Não apenas pela valiosa coleção de documentos, imagens e objetos, mas pelos seminários educacionais que promoveu. Foram encontros memoráveis, que mobilizaram alunos de escolas públicas em todas as temporadas da mostra em várias metrópoles do Brasil. Uma delas foi Manaus, onde permaneceu mais longamente. A pergunta já contém uma inspirada resposta: o Brasil começou a conhecer o Brasil.
BAA – Os estudiosos da Amazônia reclamam que o Brasil não tem um projeto arrojado para esse continente da biodiversidade tropical planetária. Outros afirmam teu país precisaria abraçar a Amazônia como abraçou a Embraer, a Embrapa, os acertos do Agronegócio, o Pró-álcool, entre outros desafios. O que você pensa a respeito?
Estudos não faltam sobre a Amazônia, muitos deles contemplando especificamente a biodiversidade. Este bioma é notoriamente o mais estudado em todo o mundo. O que faltou, e agora se esboça com alguma concretude, é uma ação contínua que combine boa qualidade de vida humana com segurança, repressão aos desmatamentos e garimpos ilegais e a prática do desenvolvimento sustentável no que se refere às suas potencialidades econômicas. Ou seja, uma plena integração de fatores já enunciados, no passado, por Samuel Benchimol em seus estudos.
Jacques Marcovitch é administrador de empresas com passagens pelo setor privado e público, ex-reitor da USP e também professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.
Pesquisador dos pioneiros do desenvolvimento regional brasileiro, Marcovitch tem valorizado o desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Também é parceiro e co-fundador do portal BrasilAmazôniaAgora
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