Tido como um dos maiores algozes do meio ambiente brasileiro, o ex-ministro de Jair Bolsonaro trabalhava para concorrer a prefeitura da maior cidade do país mas não obteve o apoio que esperava. Partido não quer alguém de extrema-direita na disputa.
Nesta segunda-feira (5), o deputado federal Ricardo Salles (PL) anunciou que não concorrerá à eleição para a Prefeitura de São Paulo no próximo ano. Salles afirmou à Folha que “o centrão ganhou e a direita perdeu”, acrescentando: “Não fui eu que desisti, desistiram de mim”.
A decisão de Salles, que foi antecipada pela Jovem Pan, ocorre após suas críticas ao líder de seu partido, Valdemar Costa Neto, devido a gestos de aproximação deste com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que seria seu concorrente nas eleições. Salles viu seu plano de concorrer com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ameaçado.
Aliados de Salles consideram uma desfeita o que o partido fez com ele e afirmam que o deputado entendeu o recado do PL. Eles lembram que a votação obtida por bolsonaristas foi fundamental para que o partido recebesse o maior volume de verba eleitoral.
Salles argumenta que as falas de Valdemar, descrevendo-o como de extrema direita, foram pejorativas e pesaram em sua decisão. Seu entorno afirma que o deputado só ampliaria seu desgaste político caso insistisse na candidatura e no embate com o líder do PL, que possui cargos na gestão de Nunes.
Ricardo Salles não chegou a telefonar para Bolsonaro para comunicar sua decisão. A avaliação é de que o ex-presidente tem sido forçado a apoiar o atual prefeito, o que deixaria o deputado sem opção a não ser retirar-se. O ex-ministro só consideraria concorrer por uma legenda menor se tivesse o apoio de Bolsonaro.
O ex-presidente, fragilizado pela possibilidade de inelegibilidade, depende do PL, que paga salários a ele e a sua esposa, Michelle Bolsonaro. Portanto, na visão dos bolsonaristas, o ex-mandatário não estaria em condições de enfrentar Valdemar e apoiar Salles.
Apesar de ter indicado apoio a Salles ao retornar dos Estados Unidos, a relação entre Bolsonaro e o ex-ministro se desgastou. O ex-presidente já havia aconselhado Salles a diminuir as críticas ao PL e ao centrão e também não gostou das críticas de Salles às Forças Armadas.
Valdemar tem afirmado que o eleitor paulistano busca alguém mais moderado do que Salles e já indicou seu marqueteiro, Duda Lima, para comandar a campanha de Nunes.
A ruptura entre o deputado e o líder do PL ficou evidente no sábado (3), quando Ricardo Salles escreveu em seu perfil no Twitter: “Quem com os porcos anda, farelo come”, referindo-se a Valdemar.
Horas depois, ele publicou novamente, apontando motivos que estariam por trás da intenção de alas do PL de apoiarem a campanha de Nunes.
Salles, que desejava se apresentar como representante da direita nas eleições, ressaltou que o atual prefeito não declarou apoio a Bolsonaro nas eleições de 2022 e já afirmou em uma entrevista que não seria o candidato desse campo.
A possibilidade de uma aliança ampla de centro-direita, com MDB, PL, Republicanos, PSDB e União Brasil, e de atrair também Bolsonaro é buscada por Nunes. Tanto partidos de centro quanto bolsonaristas estão preocupados em construir uma união em torno de um candidato forte para derrotar Guilherme Boulos (PSOL), considerado favorito pelos adversários.
Bolsonaristas próximos a Salles acreditam que o ex-ministro teria mais chances contra o candidato de esquerda do que Nunes. No entanto, o prefeito conta com a máquina pública e o apoio declarado de alguns partidos.
Desconfiado da viabilidade eleitoral de Nunes, Valdemar tem patrocinado o nome do senador Marcos Pontes (PL-SP) como alternativa para o campo da direita. No entanto, interlocutores do senador afirmam que ele não tem interesse em concorrer.
Mesmo aliados de Ricardo Salles reconhecem que ele errou politicamente ao adiantar-se e tentar bancar uma candidatura sem ter garantido o apoio de Bolsonaro e do PL. Segundo esses bolsonaristas, Salles entrou na disputa cedo demais, o que o prejudicou.
A desistência de Salles reforça a dificuldade da direita bolsonarista em se estabelecer na capital paulista, onde Lula (PT) e Fernando Haddad (PT) foram os vencedores nas últimas eleições. Em 2020, o bolsonarismo não conseguiu apresentar um candidato próprio e acabou se aliando a Celso Russomanno (Republicanos).
Por outro lado, deputados bolsonaristas de São Paulo também não enxergam um alinhamento completo entre Bolsonaro e Nunes, já que o prefeito já fez críticas públicas ao ex-presidente.
Na última sexta-feira (2), quando Nunes e Bolsonaro estiveram juntos em um almoço em São Paulo, o ex-presidente evitou declarar apoio ao emedebista e afirmou ser cedo para decidir. Ele disse não ter nada contra o prefeito, mas destacou a importância de conhecê-lo melhor.
Bolsonaro brincou dizendo que seria preciso “tomar muita tubaína” com o prefeito antes de declarar apoio, e Nunes respondeu que sim, eles tomarão muito refrigerante juntos.
Durante o almoço, Nunes afirmou aos empresários e bolsonaristas presentes que seu projeto não é pessoal e que é necessário maturidade para defender a cidade. O prefeito indicou que a prioridade é derrotar Boulos e que abriria mão de concorrer se houvesse outro nome com melhores condições, mas a avaliação de seu entorno é de que não há.
Ricardo Salles decidiu sair da disputa após uma série de gestos de aproximação entre Bolsonaro e Nunes.
Na sexta-feira, Nunes permaneceu no palco ao lado de Bolsonaro e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em uma cerimônia militar na capital paulista. Em seguida, o prefeito participou de um almoço com o ex-presidente, Valdemar, políticos bolsonaristas e empresários.
Essa foi a segunda aparição pública do prefeito ao lado do ex-presidente. A anterior ocorreu no início do mês passado, durante um evento do PL na Assembleia Legislativa. Na ocasião, os dois também estiveram juntos em um almoço.
No dia 21, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Nunes participaram de uma cerimônia do Governo de São Paulo para a entrega de títulos de propriedade no estádio do Corinthians, mais um sinal público a favor do prefeito.
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