Uma afirmação feita há 34 anos pelo então senador norte-americano Al Gore continua a ecoar no Brasil, gerando temores infundados sobre a internacionalização da Amazônia. A frase, “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós”, tem alimentado teorias da conspiração e fake news, levando muitos a temerem a perda da soberania do país sobre a Amazônia.
No entanto, especialistas consultados pelo Terra enfatizam que esses receios são infundados. Embora o Brasil detenha soberania sobre a Amazônia, é crucial destacar que esta região desempenha um papel vital para todo o mundo. Entre as informações falsas mais disseminadas online, uma delas sugere que os Estados Unidos estariam ensinando em escolas que seriam os donos da Amazônia, ou de parte dela.
A Amazônia abrange nove países, incluindo o Brasil, e é considerada a maior floresta tropical do planeta, representando um patrimônio natural da humanidade como um todo. O Brasil, detentor da maior parcela da floresta, cerca de 60% do total, não possui registros históricos que comprovem qualquer venda da Amazônia aos Estados Unidos. Ademais, a região é protegida por leis nacionais e internacionais que garantem tanto sua preservação quanto a soberania brasileira sobre ela.
Em uma entrevista ao podcast “Mano a Mano,” apresentado pelo rapper Mano Brown, a Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva (Rede), reforçou a soberania do país sobre a Amazônia. Marina foi incisiva ao afirmar que a Amazônia pertence ao Brasil e repudiou as fake news que buscam minar essa realidade. Ela destacou que a Amazônia é generosa e fornece serviços essenciais para todo o planeta, desempenhando um papel crucial na manutenção do equilíbrio ambiental global.
Em resumo, enquanto os boatos persistem, especialistas e autoridades brasileiras reafirmam a soberania do Brasil sobre a Amazônia e ressaltam sua importância como um recurso global essencial na luta pela preservação ambiental e no equilíbrio do nosso planeta.
Especialistas discutem propriedade da Amazônia e a necessidade de cooperação global para sua preservação
O debate sobre a propriedade da Amazônia e sua preservação tem ganhado destaque nas discussões recentes, levando especialistas a abordar questões cruciais em relação a essa região vital.
Renan Moutropoulos Fortunato, mestre em Relações Internacionais pela USP e formado em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, discutiu o surgimento das fake news relacionadas à Amazônia e esclareceu que parte da Amazônia é compartilhada com outros países, embora a maior parcela (60%) esteja localizada no Brasil.
Ele enfatizou que a região é legalmente propriedade do Brasil, citando o artigo 11 da Lei de Introdução ao Direito Brasileiro, que proíbe governos estrangeiros e organizações de possuírem terras no país. Renan defendeu a cooperação entre nações para a preservação da Amazônia, destacando que a conservação é uma responsabilidade compartilhada, mas ressaltou o papel central do Brasil devido à sua soberania.
“A gente tem, por exemplo, por sermos um país soberano, a competência jurídica de implementar políticas públicas para a proteção, de fiscalizar, porque só o Brasil pode colocar polícia e exército na Amazônia legal”, afirmou Renan.
Ele também sublinhou a importância de países ricos e outras nações amazônicas contribuírem financeiramente e tecnicamente para a preservação da Amazônia, mencionando o Fundo Amazônia e a cooperação técnica. Renan enfatizou a necessidade de ações conjuntas entre os países da região para proteger a Amazônia e a relevância do debate sobre a propriedade da Amazônia no contexto da crise climática.
Por outro lado, o professor Luiz Marques, colaborador do Departamento de História do IFCH/Unicamp e professor sênior da Ilum Escola de Ciência do CNPEM, ofereceu um ponto de vista crítico em relação ao conceito de nação e soberania nacional. Ele argumentou que esse modelo é obsoleto e incapaz de lidar com as principais ameaças globais, como a desestabilização do sistema climático, a perda de biodiversidade e a poluição químico-industrial.
Luiz Marques defendeu a necessidade de uma nova ordem jurídica global e democrática para enfrentar essas crises, onde a governança seja mais global e baseada em territórios. Ele destacou que a Amazônia não deve ser vista como propriedade de uma nação, mas como parte da biosfera e do sistema da Terra. Ele questionou a preocupação com questões de nacionalidade ao enfrentar a destruição da Amazônia, argumentando que essa crise é uma ameaça global que afeta a todos, independentemente de sua nacionalidade.
*Com informações TERRA
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