A imagem internacional do Brasil tem enfrentado tempos turbulentos, com notícias sobre estiagem na Amazônia, seca nos rios da região, incêndios florestais e mortes em massa de botos dominando as manchetes internacionais nas últimas semanas. Esses eventos amazônicos têm levado até mesmo à ideia de uma “distopia climática” associada ao país. Apesar do otimismo gerado entre ambientalistas após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva e o fim do governo de Jair Bolsonaro, a atual situação ainda é crítica para a imagem do Brasil em relação à sua política ambiental, que já foi prejudicada pela má reputação internacional no governo anterior.
Um estudo recém-publicado, realizado por pesquisadores em parceria com o portal Interesse Nacional, analisou a cobertura internacional sobre o Brasil nos meses que cercaram o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, ocorrido em junho de 2022. Este evento específico gerou uma campanha de conscientização global sobre a Amazônia e teve um impacto significativo na percepção do país no exterior.
De acordo com o estudo, que utilizou dados do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) e avaliou a cobertura de sete veículos da imprensa estrangeira, incluindo “The Guardian” (Reino Unido), “The New York Times” (Estados Unidos) e outros, a morte de Phillips e Pereira contribuiu para a projeção de uma imagem cada vez mais negativa do Brasil.
Desde 2018, com a eleição de Bolsonaro, o aumento da destruição do meio ambiente, especialmente na Amazônia, tornou-se um ponto central na percepção internacional do Brasil, afetando seu status global. As mortes de junho de 2022 se tornaram um símbolo das mudanças mais amplas nas percepções do país, destacando como a política ambiental tornou-se um obstáculo à busca do Brasil por prestígio global.
O estudo revela que, durante o primeiro ano de dados coletados pelo iii-Brasil, de 1º de abril de 2022 a 30 de março de 2023, houve um total de 3.574 matérias sobre o Brasil nos sete jornais analisados, com uma média semanal de 70 referências ao país. A visibilidade do Brasil variou ao longo do ano, atingindo seu pico no período após as mortes de Phillips e Pereira.
A análise do estudo também identifica três momentos distintos na visibilidade internacional do Brasil durante esse período: maio, antes do desaparecimento dos dois; junho, quando o desaparecimento e a busca por eles estavam em destaque; e julho, após a confirmação de suas mortes. O auge de visibilidade ocorreu entre 6 e 26 de junho, quando 276 artigos mencionaram o Brasil, uma média de 92 por semana.
Esses eventos ressaltam a importância da política ambiental do Brasil e a necessidade de ações para melhorar sua imagem global, especialmente no que diz respeito à preservação da Amazônia e à prevenção de conflitos na região.
Análise revela impacto negativo do assassinato de jornalista britânico e indigenista brasileiro na imagem internacional do Brasil
Uma análise detalhada dos dados de cobertura da mídia internacional sobre o Brasil revela uma oscilação significativa no tom das reportagens, com um impacto considerável na imagem do país. O estudo, realizado em parceria com o portal Interesse Nacional, concentrou-se no período que envolveu o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, ocorrido em junho de 2022, e suas repercussões na percepção global do Brasil.
Ao longo do primeiro ano de dados coletados pelo índice de Interesse Internacional (iii-Brasil), que abrange de 1º de abril de 2022 a 30 de março de 2023, a maioria das notícias sobre o Brasil (50%) foi categorizada como “neutra”, não tendo um impacto significativo na imagem do país no mundo. Por outro lado, 34% das notícias foram consideradas “negativas” e apenas 16% foram classificadas como “positivas”. No mês de maio de 2022, antes dos assassinatos, 45% das notícias eram “neutras”, 41% “negativas” e 14% “positivas”. No entanto, na terceira semana de junho, quando os corpos de Phillips e Pereira foram encontrados, o percentual de notícias “negativas” subiu para 70%, enquanto as notícias “positivas” diminuíram para apenas 6%.
Problemas amazônicos como foco negativo
A análise também revelou que o principal tema abordado de forma negativa pela mídia internacional foi a Amazônia. Além do caso específico dos assassinatos, a imprensa internacional começou a divulgar outras notícias prejudiciais relacionadas à Região Norte e à questão ambiental no Brasil. Mesmo um mês após os assassinatos, o volume de notícias negativas ainda estava consideravelmente acima do período anterior ao desaparecimento de Phillips e Pereira.
A evolução da percepção internacional
Esta análise comparativa é fundamental porque a Amazônia historicamente era vista como um ativo positivo na imagem internacional do Brasil, assim como o futebol e o carnaval. No entanto, a mudança no perfil de projeção da floresta demonstrada pelo estudo destaca como a negligência política pode resultar em notícias que têm o potencial de transformar a reputação do país. Os dados revelam as consequências dos danos causados após quatro anos de gestão ambiental sob o governo de Jair Bolsonaro, que incluiu a crescente destruição da floresta, falta de regulamentação, incapacidade de implementar políticas de proteção ambiental e negação das mudanças climáticas.
Após a virada do ano e a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, muitos observadores mantiveram suas esperanças de que o Brasil adotaria uma abordagem mais responsável em relação ao meio ambiente. Embora o desmatamento na Amazônia tenha registrado uma redução inicial, ainda persistem focos de incêndio em outras regiões do país, como o cerrado e o pantanal, enquanto a seca ameaça facilitar a expansão do fogo, mesmo no norte do Brasil.
Para recuperar a imagem positiva da floresta amazônica e, por extensão, da reputação do Brasil no cenário internacional, é essencial fortalecer a política ambiental e intensificar os esforços para mitigar os efeitos negativos da seca e evitar o retorno do desmatamento. Além das palavras, é fundamental que haja ações concretas e resultados visíveis.
* Pesquisador do pós-doutorado do Instituto de Relações Internacionais, Universidade de São Paulo (USP). Artigo originalmente publicado no The Conversation.
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