As decisões da Amazônia precisam vir para cá, com a necessária integração nacional. Sempre que abrimos mãos desta definição de diretrizes, estaremos sujeitos a ser ignorados (como quase sempre) e sujeitos a algo ser feito apenas nas emergências e acidentes, como sempre. Não podemos entender que não fazemos parte do Brasil, mas é legítimo perceber, que somos constantemente ignorados
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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Do caos logístico que temos enfrentado, onde poucos colocam transparência da situação no mundo real, há uma oportunidade: fazer um Plano Amazonense de Logística e Transportes (PALT), uma vez que o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT) tem negligenciado nossa região. Como a ampliação da atividade econômica depende de infraestrutura, em todos seus matizes, mão de obra qualificada e energia, faz-se necessário que aproveitemos a crise para esta oportunidade transformadora.
Temos apenas rios e não hidrovias como escrito no mundo idealizado dos mapas. É chegada a hora de transformarmos todos os corredores de rios importantes do Amazonas em hidrovias, com dragagem que assegure o tráfego, rodovias – como a BR-319 e as demais – asfaltadas, com as necessárias e indispensáveis proteções ambientais e aeroportos no interior, que tenham voos frequentes. Somados a estes eixos estruturantes, será necessário dotar o interior de portos, retroportos e aeroportos. Sem um Sistema de Transportes, seguiremos como antes das “descobertas” ou apenas com os grandes centros urbanos, sem integrar com o interior.
A Suframa poderá ser este artífice da construção do PALT, voltado inicialmente para o Polo Industrial de Manaus, com as ações estruturantes do Governo Federal, em parceria com as agências reguladoras, como ANTAQ, ANAC e ANTT. O DNIT é um braço importante para esta construção, em conjunto com o CPRM, que monitora as bacias hidrográficas da região. Arquitetar um norteador realizável para a indústria, depois ampliado para as demais necessidades da Amazônia é um encargo digno de uma retomada da importância estratégica da Suframa.
Terminal para escoamento de mandioca, abacate e limão (Foto: DNIT)
A sociedade civil e o Governo do Estado podem e devem participar, junto com o Governo Federal. Mas não poderemos perder de vista que os eixos estruturantes das hidrovias, rodovias interestaduais e aeroportos são papeis federais. A melhor maneira de fazer é fazendo, pois o que tem acontecido ao longo da história é nada fazer e ignorar os problemas, como se não houvesse sequer interesse sobre a Amazônia.
Há tantas regiões pobres e inacessíveis no Amazonas por um aspecto simples: não bastam rios para integrar uma área tão vasta. Nossos problemas estão muito além dos rios. A liberdade de empreender responsavelmente no Amazonas virá a partir do dia em que todas as condições de fatores necessários estiverem disponíveis, mas estamos muito distantes disto.
Um Plano Amazonense de Logística e Transportes precisa ser concebido e depois construído, para que tenhamos um norte para a transformação de uma indústria em uma área isolada para um dos maiores centros industriais do mundo. Há o potencial, desde que sejam criadas as condições.
As decisões da Amazônia precisam vir para cá, com a necessária integração nacional. Sempre que abrimos mãos desta definição de diretrizes, estaremos sujeitos a ser ignorados (como quase sempre) e sujeitos a algo ser feito apenas nas emergências e acidentes, como sempre. Não podemos entender que não fazemos parte do Brasil, mas é legítimo perceber, que somos constantemente ignorados.
Este Plano pode se tornar ação e realidade? Talvez. Contudo, o fato é que, sem ele, a chance de transformar a realidade atual é quase nula. Estimo e trabalharei para que este mundo idealizado se transforme em um mundo real em breve. Conto com as entidades mencionadas para que este mundo ideal aconteça e, principalmente, os planos sejam executados no mundo real
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Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Diretor Adjunto do CIEAM
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