Apesar de 20% maiores do que no último trimestre de 2022, as exportações da piscicultura brasileira caíram 16% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Isso em termos de valores financeiros envolvidos. Já no que se refere à quantidade exportada em toneladas a queda foi maior: 31% a menos de janeiro a março deste ano comparando-se com os mesmos meses de 2022.
E a que se devem esses números menores? De acordo com o pesquisador da área de Economia Aquícola Manoel Pedroza, da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas-TO), é muito em função dos preços da tilápia, principal espécie tanto produzida como exportada pelo país. “O aumento do preço da tilápia no mercado interno é um dos principais fatores que explicam a queda nas exportações no primeiro trimestre de 2023, pois a venda interna se tornou mais atrativa do que a exportação”, contextualiza.
Manoel relata que, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ligado à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esaq / USP), o preço da tilápia aumentou 26% de março de 2022 a março deste ano na região dos Grandes Lagos, em São Paulo, grande produtora da espécie. “Nesse mesmo período, o preço da tilápia inteira congelada exportada apresentou queda de 20%, de acordo com dados do Comex Stat”, complementa. Comex Stat é um sistema de estatísticas sobre o comércio exterior brasileiro disponibilizado pelo Ministério da Economia.
No Brasil, quase a totalidade da produção da piscicultura é consumida internamente. São cerca de 98% que ficam no mercado interno. “O mercado brasileiro não absorve apenas a produção nacional, como também é um grande importador de pescado. Em 2022, o país importou US$ 1,4 bilhão em pescado, o que equivale a cerca de R$ 7 bilhões. Apenas as importações de salmão totalizaram US$ 803 milhões”, explica Manoel, mostrando a competição entre os produtos nacional e internacional no que se refere a preço e qualidade.
Números do primeiro trimestre – Entre as diversas categorias de produtos exportados, a de filés frescos ou refrigerados respondeu por quase a metade dos valores relativos ao primeiro trimestre de 2023. Dos R$ 5,9 milhões, quase R$ 2,8 milhões foram dessa categoria, o que corresponde a mais de 47% do total. Na sequência, com quase 30%, está a categoria de peixes inteiros congelados, que movimentou mais de R$ 1,7 milhão.
Com quase 94% dos valores envolvidos em toda a exportação da piscicultura brasileira no período, a tilápia foi o grande destaque, como tem sido nos períodos avaliados nesse trabalho de acompanhamento que a Embrapa Pesca e Aquicultura e a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) desenvolvem conjuntamente desde o primeiro trimestre de 2020. O trabalho é publicado como Informativo de Comércio Exterior da Piscicultura e a edição mais recente pode ser acessada neste link.
Mais de 86% do volume financeiro das exportações da piscicultura nacional entre janeiro e março deste ano vêm dos Estados Unidos, que têm se mantido como o principal mercado para o peixe brasileiro. Esse índice é ainda maior (mais de 89%) quando se analisam as exportações apenas de tilápia. Já em termos de estados, os destaques das exportações de tilápia e de seus derivados no período ficaram com Paraná, com 69% dos valores financeiros, e São Paulo, com mais de 19%.
Esses e outros dados, com detalhes, estão na edição do informativo referente ao primeiro trimestre de 2023. O periódico é fruto do Centro de Inteligência e Mercado em Aquicultura (CIAqui), um dos produtos do BRS Aqua, principal projeto da Embrapa nesta cadeia produtiva. O BRS Aqua envolve mais de 20 Unidades e cerca de 270 empregados da Embrapa, além de bolsistas. Com forte caráter estruturante, já que por meio dele a empresa está incrementando sua infraestrutura de pesquisa em aquicultura, o BRS Aqua também se destaca na formação de recursos humanos especializados na área, sobretudo por conta das bolsas disponibilizadas.
São quatro as fontes de financiamento: o Fundo Tecnológico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Funtec / BNDES); o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), cujo recurso está sendo operacionalizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa); e a própria Embrapa.
Clenio Araujo (6279/MG)
Embrapa Pesca e Aquicultura
Publicado Originalmente pela: EMBRAPA
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