Segundo Polícia Federal, militares recebiam mesada de empresa para auxiliar no esquema de garimpo ilegal. Um tenente-coronel é suspeito de fornecer informações para garimpeiros.
A Polícia Federal (PF) conduziu uma investigação que revelou o envolvimento de militares do Exército, incluindo um tenente-coronel, em um esquema de vazamento de informações sobre operações realizadas em garimpos por dragas na região de Japurá, próximo à fronteira do Brasil com a Colômbia.
De acordo com a PF, o oficial recebia pagamentos mensais de grupos envolvidos no garimpo, por meio da conta bancária de sua esposa. Diante dessas descobertas, uma operação foi deflagrada nesta terça-feira (27) com o objetivo de combater o esquema ilegal que envolve militares do Exército. A Justiça Federal autorizou três mandados de prisão preventiva e oito de busca e apreensão.
Durante a operação, foi realizado uma busca em um endereço relacionado ao tenente-coronel, porém, até o momento, não há mandado de prisão contra ele. Apesar disso, o sigilo da operação foi quebrado, porém a identidade do militar não foi divulgada pela PF.
Em resposta, o Exército emitiu uma nota afirmando que participou da operação em conjunto com a polícia e ressaltou que a ação seguiu os princípios legais. A nota, enviada pelo Comando Militar do Sul, informou que a Justiça Militar da União determinou a busca e apreensão na residência do militar investigado, e que os mandados foram cumpridos pelo Comando da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada.
Segundo informações do delegado Adriano Sombra, responsável pelas ações na área ambiental na superintendência da PF no Amazonas, o militar alvo da operação pertence à “alta cúpula do Exército”. Tanto a Justiça Militar quanto o Exército estão acompanhando as investigações, conforme informou o policial.
A investigação da PF abrange uma série de crimes, incluindo usurpação de bem público da União, extração de minério sem autorização dos órgãos ambientais, uso de mercúrio e cianeto, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Os mandados de prisão e busca foram cumpridos em Manaus, Porto Velho e Ponta Grossa (PR).
As investigações tiveram início em 2020, após a prisão em flagrante de duas pessoas em Ji-Paraná (RO) que estavam transportando 60 gramas de ouro ilegal. A partir dessa apreensão, descobriu-se que a origem do ouro era uma rede de exploração por dragas na região de Japurá. Centenas de dragas invadiram os rios da região, incluindo áreas de conservação e terras indígenas, resultando em um aumento significativo dos casos de violência em Japurá e comunidades vizinhas.
Durante as investigações iniciais, um dos presos foi assassinado em Curitiba, em frente à sua loja de revenda de carros, logo após uma audiência de custódia. A PF conduziu um inquérito que revelou a participação de empresas de metais no esquema, utilizadas para legalizar o ouro extraído pelas dragas na região de Japurá.
Conforme destacado pela PF em nota, militares de alta patente estariam envolvidos no esquema, recebendo pagamentos regulares por meio de uma empresa de exportação e importação de minérios. Supostamente, um militar repassaria informações privilegiadas e interferiria nas operações de combate aos garimpos ilegais, enquanto sua esposa recebia valores em nome dos envolvidos.
As dragas e os operadores envolvidos no garimpo ilegal atuam em uma região de difícil acesso e baixa fiscalização. Durante o governo de Jair Bolsonaro, que incentivava a prática de garimpos em terras indígenas, houve um aumento expressivo no número de dragas na área. A exploração ilegal de ouro também avançou pela Estação Ecológica Juami-Japurá, sob responsabilidade do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), resultando em devastação e impactos negativos no ecossistema amazônico, conforme apontou a PF.
O inquérito policial militar está em andamento, porém, devido ao segredo de Justiça, o Exército Brasileiro optou por não comentar sobre as investigações em curso. A PF continua as investigações sobre os demais integrantes do Exército envolvidos no esquema.
Com informações da Folha de São Paulo
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