A Petrobras está prometendo aplicar entre 6% e 15% de tudo o que vai investir nos próximos cinco anos em investimentos de “baixo carbono”. A medida faz parte da “revisão dos elementos estratégicos” do Plano Estratégico (PE) 2024-2028, que foi aprovado pelo conselho de administração da petroleira. Mas o anúncio trouxe mais dúvidas que certezas sobre as intenções da companhia em se transformar em uma empresa de energia, incorporando mais fontes renováveis do que fósseis em seu portfolio de operações.
O Globo destaca que o anúncio da companhia “aumenta” o percentual destinado a investimentos de baixo carbono do atual plano estratégico da Petrobras. Contudo, a única diferença é que, no planejamento 23-27, a petroleira cravou a fatia em 6%, enquanto no plano em elaboração a empresa cria uma faixa percentual. Se vai, de fato, chegar a 15% de aplicações de baixo carbono, só o tempo dirá.
Em comunicado a investidores, a petroleira informa que “os elementos estratégicos do PE 2024-28 visam preparar a Petrobras para um futuro mais sustentável, na busca por uma transição energética justa e segura no país”, para em seguida dizer que vai “conciliar o foco atual em óleo e gás com a busca pela diversificação de nosso portfólio em negócios de baixo carbono”. Ou seja, emergência climática passa ao largo do plano.
O texto ainda diz que “o CAPEX [investimento] de baixo carbono considera projetos em energias renováveis e em descarbonização das operações”. Entretanto, somente em novembro deste ano, quando deverá divulgar o PE 24-28, se saberá no que, efetivamente, os recursos serão aplicados, e quanto.
O presidente da empresa, Jean Paul Prates, é um entusiasta das eólicas offshore, mas essa fonte ainda precisa de regulamentação. Também defende a tecnologia de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS), algo ainda duvidoso, caro e que, na indústria do petróleo, tem sido usado mais como uma brecha para produzir mais combustíveis fósseis.
As contradições não cessam. Enquanto fala em “descarbonização das operações”, mantém a pressão para perfurar poços de petróleo na foz do Amazonas, mostrando que a faceta “verde” não vale para a energia que vai oferecer ao mercado. A intenção da empresa é aumentar reservas, produzir e vender mais combustíveis fósseis.
Em entrevista à Folha, o diretor de transição energética e sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim, admite que a empresa ficou para trás no processo de transição para energias renováveis e que tem de “resgatar o tempo perdido”. Reforça que é preciso descarbonizar, mas que “sempre haverá uma demanda” por petróleo. Ainda construiu uma pérola que desafia a mais simples lógica: diz que “o petróleo da Petrobras tem emissão muito baixa. Se o mundo consumir nosso petróleo, estaremos ajudando na descarbonização”. Descarbonizar carbonizando?
As contradições da Petrobras também são apontadas pela Bloomberg, que relata que a companhia está capturando e armazenando cada vez mais dióxido de carbono no fundo do mar. Mas o CO2 é usado para aumentar a produção de petróleo e gás fóssil. E a esse processo ela chama de “verde”.
A revisão dos investimentos em baixo carbono da Petrobras foi noticiada também por CNN, Seu dinheiro, Money Times e Valor.
Em tempo 1: A Petrobras negou que espera receber em até seis meses a licença do IBAMA para perfurar um poço de petróleo na foz do Amazonas, na costa do Amapá, informam Valor e UOL. Segundo Malu Gaspar, d’O Globo, o presidente da empresa, Jean Paul Prates, teria dito a conselheiros que vai vencer a “disputa” com o órgão ambiental e conseguir a autorização para o polêmico projeto – negada tecnicamente pelo IBAMA, é preciso ressaltar. A estratégia seria de “responder tudo até deixar o IBAMA sem argumentos”, porque “chega uma hora em que não tem como negar”.
Em tempo 2: O presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, disse na 4ª feira (31/5) que houve uma “melhora significativa” no pedido de reconsideração feito pela Petrobras para perfurar um poço no FZA-M-059, na foz. No entanto, ele repetiu que o material está sendo analisado pela equipe técnica do órgão e que não há prazo para resposta, informam epbr e Poder 360. “Eu reconheço essa melhora significativa do ponto de vista do tempo de resposta, de uma série de situações que foram apresentadas, mas obviamente a decisão ainda continua sendo técnica”, disse Agostinho.O professor Ronaldo Francini Filho, do Centro de Biologia Marinha (CEBIMAR) da USP, disse ao Um só planeta que a falta de modelagem de dispersão de óleo corrobora com a negativa do IBAMA para a Petrobras. “A gente precisa de informações básicas para conseguir avaliar o impacto de um empreendimento desse tipo como: quais são as espécies que ocorrem ali, quais são os ecossistemas, qual seria a área de abrangência desse empreendimento com uma modelagem de dispersão de óleo muito bem feita? Mas os estudos apresentados têm lacunas seríssimas em todas essas frentes”.
Originalmente publicado por: CLIMA INFO
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