A mudança climática na Noruega levou à emergência de uma “nova espécie” híbrida de papagaios-do-mar. Esta hibridização, intensificada no último século, é vista como uma resposta direta ao aquecimento ártico.
Uma nova espécie híbrida de papagaios-do-mar (Fratercula arctica) foi identificada na Ilha do Urso (ou Bjornoya) na Noruega, como resultado das mudanças climáticas. A descoberta foi publicada em 6 de outubro na revista Science Advances.
Estudiosos da Universidade de Oslo, juntamente com parceiros do Instituto Norueguês de Pesquisas em Natureza, Instituto Polar Norueguês, Museu Sueco de História Natural e Museu Americano de História Natural, coletaram amostras de sangue dos papagaios-do-mar na região do Alto Ártico após capturá-los temporariamente.
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Eles ainda estudaram os genomas de 22 dessas aves que habitaram entre os anos 1868 e 1910 em locais como Spitsbergen, Røst e Ilha do Urso. Foram também analisadas amostras mais recentes, datadas entre 2012 e 2018, provenientes de outras ilhas vizinhas.
Resultados da análise genética
A análise genética revelou que os papagaios-do-mar capturados eram uma combinação de duas subespécies diferentes. Devido ao aumento das temperaturas no norte da Noruega, houve uma interação nos hábitos das subespécies, levando a acasalamentos entre elas.
A subespécie maior, identificada como (Fratercula arctica naumanni), tinha sua prevalência na ilha de Spitsbergen. Já a subespécie de tamanho menor (F. a. arctica) era mais comum ao sul, especificamente na ilha de Røst. Notavelmente, a Ilha do Urso situa-se entre estes dois habitats.
Ambas as subespécies se separaram de um ancestral comum aproximadamente 40 mil anos atrás. Entretanto, a análise do DNA mostra que ocorreu uma intensa hibridização entre elas no último século. Até 1910, os papagaios-do-mar da Ilha do Urso eram exclusivamente da subespécie F. a. arctica. Posteriormente, a composição genética da região começou a ser influenciada progressivamente pela subespécie F. a. naumanni.
Impacto das mudanças climáticas na hibridização
A equipe de pesquisa relacionou a crescente taxa de hibridização com o aumento das temperaturas no Ártico durante o século passado. “Embora a escassez de alimentos causada pela pesca ou a poluição sejam fatores prejudiciais que não podem ser descartados, o início estimado da hibridização coincide notavelmente com o início do aquecimento ártico do século 20, no qual a temperatura da superfície do mar aumentou até 1,5°C”, destacam os pesquisadores. Acredita-se que as alterações climáticas incentivaram o F. a. naumanni a se deslocar mais ao sul do que nunca antes de 1910, levando-o a interagir com o F. a. arctica.
Estado atual e conservação dos Papagaios-do-mar
Para os papagaios-do-mar da Ilha do Urso, o cenário é positivo no momento. “Eles estão procriando, estão bem”, comentou Oliver Kersten, líder do estudo, em entrevista ao site Ars Techinica. “Portanto, não vemos realmente suas desvantagens. Esta hibridização não é realmente uma preocupação para a conservação neste momento.”
Perda de diversidade genética
O principal temor de Kersten é a redução da diversidade genética entre os papagaios-do-mar nas ilhas. Comparando amostras históricas e contemporâneas, os cientistas identificaram uma significativa diminuição na diversidade de DNA nas populações de Spitsbergen e Røst nos últimos 100 anos.
Os autores finalizam afirmando: “Nossas descobertas representam uma observação rara de uma resposta em escala populacional às rápidas mudanças ambientais que o ecossistema ártico começou a experimentar ao longo do último século.”
Com informações da Revista Galileu
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