Os dados do Observatório do Clima sobre o aumento de 110% da taxa de desmate na área da BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), com a perspectiva do asfaltamento do “trecho do meio” da rodovia, parecem não sensibilizar o Ministério dos Transportes. Segundo Guilherme Amado, do Metrópoles, o ministro Renan Filho tem a obra como uma das prioridades de sua pasta e tenta negociar com o IBAMA a manutenção da licença prévia, dada às pressas no governo Bolsonaro.
Fabrício Galvão, diretor-executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), ligado ao Ministério dos Transportes, pediu uma reunião com o presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, para discutir o assunto. Recentemente, Agostinho disse que o órgão estava revendo a licença e que o governo tomaria medidas se detectasse irregularidades no licenciamento. Também o Ministério Público Federal (MPF) fez uma série de recomendações.
Renan Filho reconhece que se trata de uma obra problemática do ponto de vista ambiental. Mas deixa claro que vai tentar tirá-la do papel: “É uma rodovia que tem um entrave ambiental considerável. Então estamos dialogando para fazer uma obra que garanta sustentabilidade ambiental. Não é prioridade a qualquer custo, mas o ministério deseja fazer”, disse o ministro dos Transportes.
Enquanto isso, na China, Jorge Vianna, ex-governador do Acre e presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), foi curto e grosso ao falar sobre o desmatamento da Amazônia. Em um seminário em Pequim com participação de vários representantes do agronegócio nacional – e também compradores chineses – , ele disse que governo e empresários deveriam reconhecer a devastação da floresta amazônica, em vez de tentar ocultá-la, informa o Estadão.
“Nós, brasileiros, deveríamos parar de dizer fora do Brasil que o Brasil não tem problema ambiental. Nós temos e faz muito tempo. Se nós reconhecermos o que já foi feito de equivocado, teremos maiores condições de defender aquilo de bom que estamos fazendo na Amazônia ou procuramos fazer.”
Mesmo pontuando que uma parcela dos produtores já adota medidas ambientalmente sustentáveis, Viana lembrou que dos 84 milhões de hectares desmatados na Amazônia ao longo dos últimos 50 anos, 67 milhões serviram à pecuária e outros 6 milhões ao plantio de grãos, segundo o Metrópoles.
Em tempo: O Projeto Jari Pará REDD+, de conservação da floresta amazônica, vendeu créditos de carbono ligados a Terras Públicas sem autorização do Estado, mostra uma investigação da Context, plataforma de mídia da Thomson Reuters Foundation. Em 2020, dois anos depois da área ser declarada pública, o Jari Pará REDD+ recebeu aprovação para emitir créditos de carbono da Verra, organização líder no setor de certificação de compensações por emissões, tornando-se o maior projeto registrado da instituição no Brasil em termos de área.
O projeto, informa a Reuters, cobre cerca de 497 mil hectares – área mais de quatro vezes maior do que Belém, capital do Pará. O Jari Pará faz parte de um programa REDD+ mais amplo no Vale do Jari, administrado por duas empresas privadas – a Jari Celulose, que produz celulose solúvel, e a Biofílica Ambipar Environment, especializada em compensações de carbono –, juntamente com a Fundação Jari.
Texto publicado em CLIMA INFO
Comentários