A gravidade e a magnitude da crise humanitária vivida pelos Yanomami em Roraima chamaram a atenção de entidades judaicas no Brasil. Em manifesto divulgado nas redes sociais, grupos como os Judeus pela Democracia e o Observatório Judaíco de Direitos Humanos compararam o drama Yanomami com o Holocausto, o extermínio sistemático de judeus pela Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
“A expressão ‘nunca mais’ significa que o genocídio não deve se repetir contra nenhum povo, sob quaisquer circunstâncias”, diz o manifesto. “Às vésperas do Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto (27/1), tornou-se pública em maior escala a crise sanitária no território Yanomami, evidenciando indícios do genocídio que se exacerbou nos últimos quatro anos, na gestão de Jair Messias Bolsonaro, com claras conotações neonazistas”. O Metrópoles deu mais detalhes.
A comparação com o Holocausto também foi assinalada pelo presidente da ANVISA, Antonio Barra Torres, ao se deparar com a situação dos Yanomami.
“Remontam a cenas que só víamos em documentários da Segunda Guerra Mundial, a cenas do Holocausto, quando víamos Judeus com ossos cobertos apenas por pele. E vemos que isso acontece em nosso próprio país. Como se chegou a esse ponto?”, disse Torres, citado pela Folha.
“Para muita gente, falar em genocídio – ‘intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso’ – é exagero retórico que banaliza e desgasta um termo que deveria ser reservado para situações gravíssimas. Mas as evidências mostram que a omissão no governo Bolsonaro foi generalizada e, se tiver também sido deliberada, caracterizará genocídio”, escreveu Pablo Ortellado n’O Globo.
De fato, as evidências coletadas até agora mostram ao menos um descaso (se não uma ação intencional) gritante por parte do antigo governo com relação aos Yanomami. No UOL, Carlos Madeiro revelou que um relatório do Ministério da Justiça de 2021 já tinha alertado sobre a necessidade de mais ações de combate ao garimpo no território indígena. Apesar dos alertas, o governo Bolsonaro foi no sentido contrário, acabando com a fiscalização antigarimpo na região.
A despeito dessas evidências, Bolsonaro segue repetindo que “nunca um governo dispensou tanta atenção e meios aos indígenas” como o dele. Bem ao estilo dele, o ex-presidente tergiversou e ignorou suas próprias ações e discursos, preferindo apontar o dedo para seus adversários políticos. Ele assinalou os resultados da CPI da subnutrição de crianças indígenas, realizada no Congresso Nacional no final dos anos 2000, sob o 2º mandato do presidente Lula.
“Problemas de subnutrição em Terras Indígenas podem ter acontecido antes, mas nada com intencionalidade, como foi o caso nos últimos quatro anos”, rebateu Márcio Augusto Meira, ex-presidente da FUNAI na época da CPI, à Folha. O Globo também repercutiu essa informação.
Já na Folha, Marcelo Leite lembrou que o desastre Yanomami pode ter sido potencializado pela gestão Bolsonaro, mas o descaso com os indígenas é algo muito maior e mais antigo. “Bolsonaro e caterva representam só o paroxismo da índole dominante no Brasil. Não por acaso a primeira condenação por genocídio, aqui, se deu no julgamento de outra matança de Yanomamis, a de Haximu, ocorrida em 1993”.Em tempo: Vale a pena conferir a síntese feita pela BBC Brasil sobre as acusações de genocídio contra o ex-presidente Bolsonaro e ex-representantes de seu governo, bem como as perspectivas para esse processo na Justiça.
Texto publicado em CLIMA INFO
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