“Nunca mais um Brasil sem nós!”: Tendo a missão de reerguer a Funai após desmonte nos últimos anos, a indígena Joenia Wapichana terá árduo trabalho no comando do órgão para acolher as demandas das populações indígenas
A nova presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a advogada e ex-deputada federal Joenia Wapichana, tomou posse nesta sexta-feira (3) prometendo reconstruir o órgão indigenista e fazer uma gestão pautada pelas demandas das organizações indígenas.
É a primeira vez que a Funai, criada há 55 anos, será presidida por uma pessoa indígena. “Nunca mais um Brasil sem nós”, discursou Joenia.
Usando cocar, pinturas tradicionais e um broche da Funai, Joenia disse que prioridade será demarcar, proteger e expulsar garimpeiros de terras indígenas. Para driblar a falta de recursos disponíveis para a Funai, ela anunciou que pretende buscar emendas parlamentares e parcerias com ONGs e governos estrangeiros.
Nós estamos aqui [na Funai] não somente com a presença física, mas a presença espiritual dos nossos ancestrais. Para mim é muito forte – Joenia Wapichana
Além do termo de posse, Joenia aproveitou o evento para assinar as primeiras medidas administrativas como chefe do órgão. Ela oficializou a criação de um Grupo de Trabalho (GT) para atuar junto aos Yanomami e deu o pontapé inicial a sete processos de demarcação de terras indígenas.
Assinou ainda a restrição de uso de duas terras indígenas com presença de grupos isolados que ficaram desprotegidas sob o governo Bolsonaro: Jacareúba/Katawixi (AM) e Piripkura (MS).
“Esse é o primeiro passo que a gente tem de dar: reorganizar a Funai, fortalecer e buscar orçamento”, disse.
Funai retomada
A posse marca oficialmente o fim da gestão desastrosa do delegado da Polícia Federal (PF), Marcelo Xavier, que presidiu a Funai a partir de 2019. Fiel executor da política de “demarcação zero” colocada em prática por Jair Bolsonaro, Xavier afastou o órgão das lideranças indígenas e entregou a gestão da Funai a ruralistas e militares.
A histórica cerimônia de posse ocorreu no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília (DF), com a presença das ministras do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, e dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.
No salão lotado, estavam ainda lideranças indígenas como o cacique Raoni Metuktire, e o secretário de Saúde Indígena Weibe Tapeba, além de parlamentares, ex-presidentes da Funai e servidores do órgão.
No discurso, Joenia disse que Bolsonaro é acusado de genocídio indígena e lamentou a crise humanitária nos Yanomami. Lembrou ainda a morte do indigenista Bruno Pereira, que foi perseguido pelo governo federal ao tentar expulsar garimpeiros da Terra Indígena Vale do Javari quando era servidor ativo da Funai.
“A Funai está cheia de processos por omissão e negligência. Mas agora vamos reverter isso. Porque ao invés de Funai perseguir servidor, em vez de fechar as portas aos povos indígenas, a Funai tem que estar do lado dos povos indígenas”, declarou Joenia.
Indígena pioneira
Joenia se formou em Direito pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e tem mestrado em Direito Internacional pela Universidade do Arizona. Nascida em Boa Vista, (RR), foi a primeira mulher indígena do Brasil a exercer a advocacia e também a primeira deputada federal indígena do Brasil. Foi assessora jurídica do Conselho Indígena de Roraima (CIR), atuando em diversos processos demarcatórios no estado.
Fonte: Brasil de Fato
Comentários