Por Suzana Camargo – Conexão Planeta
A multinacional brasileira JBS, a maior produtora mundial de carne, com um faturamento anual de US$ 50 bilhões, vem acumulando a liderança em vários rankings e ganhando destaque em manchetes internacionais nos últimos anos.
Mas infelizmente, não por bons motivos. Há diversas denúncias sobre a associação da empresa com o desmatamento da Amazônia e do Cerrado e ainda, sobre sua gigantesca pegada de carbono: no final de 2022, a empresa foi acusada de emitir, sozinha, mais metano do que os rebanhos de França, Alemanha, Canadá e Nova Zelândia juntos.
Há poucas semanas foi divulgado um novo e lamentável ranking que coloca a JBS em 1o lugar entre as cinco gigantes mundiais da pecuária industrial intensiva que mais emitem gases de efeito estufa no planeta, aqueles responsáveis pelo aquecimento da atmosfera da Terra e consequentemente, pelas alterações do clima e o aumento de eventos extremos como secas, incêndios florestais, tempestades e enchentes.
O relatório “Ranking dos Vilões da Pecuária”, da organização Proteção Animal Mundial, analisa a emissão das maiores companhias produtoras de carne suína e de frango.
A JBS, dona das marcas Seara, Swift e Friboi, emite o equivalente à poluição liberada anualmente por 14 milhões de veículos. Todavia, segundo a ONG, esse volume não inclui as emissões geradas a partir da fabricação de ração animal.
“É importante lembrar que, para manter o atual sistema de criação animal, é necessária uma ampla produção de grãos para alimentar os animais de fazenda e que, infelizmente, tem ocorrido em áreas de desmatamento. Com isso, o bem-estar de milhares de animais silvestres também é impactado, pela perda do habitat, mortes nos incêndios ou até mesmo em decorrência do fogo”, explica Karina Rie Ishida, coordenadora de Campanhas de Sistemas Alimentares da Proteção Animal Mundial.
A ONG diz que a JBS ainda não divulgou seu plano estratégico Net Zero, que detalha como a empresa irá lidar com as emissões de sua área de ração animal e nem “como pretende frear a destruição dos habitats dos animais silvestres”.
Em 2018, a JBS anunciou a criação de um novo braço da empresa, a JBS Feed Solutions, para produzir ingredientes para a fabricação de “nutrição animal”. Na época, um comunicado informava que o investimento de R$ 40 milhões seria destinado à “… planta com capacidade de produzir cerca de 550 toneladas de hemácias em pó e 200 toneladas de plasma em pó por mês. Tais insumos podem compor de 2% de a 6% das rações”.
Ranking das cinco principais emissoras da pecuária mundial
Não é apenas a JBS que está entre as brasileiras que são apontadas pela Proteção Animal Mundial entre as principais culpadas no setor da pecuária intensiva por agravar ainda mais as mudanças climáticas no planeta. A BRF Foods também aparece no ranking. Ela está em terceiro lugar, logo após o grupo chinês WH, que possui fazendas na Europa, China e Europa.
Na sequência estão a americana Tyson Foods, outro conglomerado chinês, o New Hope Group, e por último, a Danish Crown, da Dinamarca (veja ranking completo logo abaixo).
“Como o nosso estudo revela, as cinco operações intensivas de carne – que impulsionam a destruição do habitat natural para cultivar grãos usados na ração animal, bem como infligem crueldade aos animais – equivalem a 36,4 milhões de carros em circulação anualmente lançando poluentes nocivos. O que fica latente em nossa pesquisa é que a pecuária industrial não é compatível com um futuro seguro para o clima”, alerta Jacqueline Mills, chefe de campanha de Agropecuária Sustentável da Proteção Animal Mundial.
De acordo com a Proteção Animal Mundial, o ranking “Vilões da Pecuária” se baseia em dados do relatório “Mudança climática e crueldade”, encomendado e conduzido pela Blonk Consultants. Todas as empresas citadas foram procuradas para prestar esclarecimentos e se posicionar, mas não deram resposta.
O Conexão Planeta também entrou em contato com a assessoria de imprensa da JBS, entretanto, até este momento, não teve retorno.
Texto publicado originalmente em Conexão Planeta 11/04/2023
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