Em um paradigma mais capitalista, precisamos desenvolver a indústria do Amazonas, encontrando meios de corrigir seus problemas, aproveitando seu potencial, para que não fiquemos sempre no contrapé – em uma rota extrativista enquanto o mundo busca se reindustrializar. Precisamos sair do labirinto do imaginário de que a atividade industrial não cabe na Amazônia.
Por Augusto César Barreto Rocha
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A atividade industrial é declinante e as economias mais desenvolvidas são baseadas nos serviços. Por outro lado, até que ponto os modos de vida mensurados por um imaginário associado ao PIB é o melhor meio de pensar o desenvolvimento, como questiona Miriam Lang? Em outra ponta desta discussão, o Wall Street Journal de 09/04/2023 aponta, por Christopher Mims, que grandes empresas contratam cada vez mais inventores, mas suas produtividades são declinantes. No mesmo jornal, há ainda a constatação de que os EUA estão “de volta ao negócio das fábricas”, com uma crescente produção industrial, uma realidade celebrada.
Neste contexto de mundo, a condição do Amazonas é positivamente peculiar, pois, segundo os dados mais recentes da CNI (relativos a 2019), apresentou 36,4% de seu PIB derivados da atividade industrial. O Rio de Janeiro obteve 25%, São Paulo 20,3%. O estado do Pará 34,3%, sendo próximo ao Amazonas, sendo que sua atividade da indústria de mineração é o que lidera por lá. Se considerarmos que Manaus é uma cidade-estado, contemplando a quase totalidade da indústria amazonense, teremos em perspectiva de que possuímos uma atividade industrial superimportante relativamente e absolutamente.
Encontrar meios para desenvolver ainda mais esta indústria parece uma opção de menor esforço e mais próspera do que outras, pois ela pode estar associada com a expansão de uma atividade na qual possuímos conhecimento e tradição. A grande desvantagem desta trilha é que a base industrial é formada por empresas de capital estrangeiro, com pequena vinculação com insumos locais. A expansão da atividade industrial para a exportação dos produtos aqui industrializados possui o potencial de reduzir os descontentamentos políticos associados com a Zona Franca de Manaus (ZFM).
Assim, a melhor resposta, ao que foi perguntado, talvez seja: passado, presente e futuro. A construção do futuro passa pela: 1. Potencialização das exportações; 2. Aumento da infraestrutura; 3. Maior vinculação desta indústria com os insumos locais; 4. Encontro e atração de um capital nacional para esta atividade. Este desencontro do país com a oportunidade da ZFM talvez explique parte da dificuldade política para aceitação das atividades empresariais desenvolvidas em Manaus.
Em um paradigma mais capitalista, precisamos desenvolver a indústria do Amazonas, encontrando meios de corrigir seus problemas, aproveitando seu potencial, para que não fiquemos sempre no contrapé – em uma rota extrativista enquanto o mundo busca se reindustrializar. Precisamos sair do labirinto do imaginário de que a atividade industrial não cabe na Amazônia, afinal ela já está desenvolvida e aqui. Com respeito ao interior do Estado, precisaremos entender os desejos de cada comunidade, para encontrar rotas alternativas e democráticas. Parece que chegou a hora de compreender melhor as aspirações das sociedades, como deliberado por Miriam Lang, sem impor métodos que parecem ser adequados por aqui, mas talvez não sejam em outros lugares.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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