Ministra dos Povos Indígenas disse que garimpeiros ainda persistem na região e anunciou medidas para combate da desnutrição do povo Yanomami
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara (PSOL), afirmou que a presença massiva de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami impede que indígenas acessem alimentos doados e serviços de saúde.
“Até as cestas básicas está difícil de entregar. Porque tem o risco de que eles [garimpeiros] possam oferecer objetos e os trocando pelo alimento, uma vez que o alimento deles também já está sendo inviabilizado de chegar para eles”, afirmou Guajajara.
A declaração foi feita em uma entrevista coletiva ontem (6) em Boa Vista (RR), onde um balanço da atuação emergencial no território foi fornecido por pela ministra, acompanhada de lideranças indígenas e autoridades da Funai e Ministério da Saúde.
Presença de garimpeiros impediu pouso da comitiva federal
Guajajara esteve no território indígena durante o fim de semana e acompanhou os atendimentos. Segundo ela, invasores começaram a deixar a área, mas outros saíram de pequenas vilas e se concentraram perto de comunidades indígenas.
“Tentamos pousar em dois lugares e não conseguimos por conta de insegurança. Muitos garimpeiros ali dentro visivelmente já sabendo que tem essa determinação para a retirada deles”, pontuou.
“Como era um caso de risco, evitamos deixar também a cesta básica nessas comunidades que queríamos visitar. Está muito tenso”, complementou Junior Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’Kuana (Codisi-YY).
Busca por alimentos acirra violência
Segundo a Funai, o fechamento do espaço aéreo sobre o território Yanomami tem impedido que os garimpeiros recebam combustível e alimentação, o que tem agravado o conflito.
“Garimpeiros estão buscando alimentos que nós estamos enviando para os indígenas. De várias formas, até mesmo em situação de violência”, informou a diretoria de promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Funai, Lucia Alberto.
Segundo a Funai, aldeias onde há menos pressão de garimpeiros receberão ferramentas e sementes para que os indígenas possam recuperar a segurança alimentar. “Eles não querem mais ficar comendo as cestas básicas. Querem produzir, plantar sua mandioca e sua banana”, disse Alberto.
Outra forma de combater a desnutrição será a perfuração de poços artesianos e a construção de cisternas. Guajajara disse que a estrutura será fornecida pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), mas não informou quando a medida será concretizada.
Hospital de campanha será construído dentro da terra indígena
Também foi anunciada a instalação de um hospital de campanha na região de Surucucu, uma das mais afetadas, com o objetivo de desafogar os hospitais em Boa Vista (RR) Até o fim de semana, devem chegar 25 novas equipes para atuar contra a malária.
“Um terço das internações no Hospital da Criança [em Boa Vista] são de Yanomamis”, disse o coordenador do Centro de Operação de Emergências (COE) Yanomami, Hernanes Guimarães. “E a demanda vai aumentar”, previu.
Guimarães informou ainda que o Hospital de Criança tem 50 pacientes Yanomami, quatro deles na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Já a Casa de Saúde Indígena (Casai), ligada ao Ministério da Saúde, tem abriga 598 pessoas, entre pacientes e acompanhantes.
180 aldeias ainda precisam de atendimento
O fluxo de pacientes deve aumentar quando as equipes conseguirem acessar outras 180 aldeias que ainda esperam por mais atendimentos. Segundo Junior Hekurari, mais de 30 indígenas em estado grave são resgatados todos os dias.
O coordenador da Articulação dos Povos Indígenas (Apib), Dinamam Tuxá, afirmou na entrevista coletiva que reconhece os esforços do governo federal, mas pediu agilidade não apenas na expulsão dos garimpeiros, mas na presença do Estado longo prazo.
“Fiquei emocionalmente abalado por enxergar um filho meu naquela maca passando por essa situação. E por entender que ali também é sangue do meu sangue”, declarou.
Fonte: Brasil de Fato
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