Mineração sustentável como substituta do garimpo é um caminho importante para alcançar as metas de controle climático, argumenta Giorgio De Tomi, professor da Escola Politécnica da USP
Grande parte da produção de ouro no Brasil apresenta índices de ilegalidade. Dados do Instituto Escolhas mostram que cerca de 50% do ouro comercializado (229 toneladas) no período de 2015 a 2020 era ilegal. Além disso, o garimpo ilegal expandiu em cinco vezes sua atuação em territórios indígenas. Diante desse cenário, a USP e o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) firmaram parceria para reforçar o combate à mineração ilegal de ouro no Brasil.
O professor do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Escola Politécnica e diretor do NAP-Mineração Giorgio De Tomi comenta sobre os objetivos do projeto: “A nossa ideia é impulsionar a transformação desse setor para atender às demandas da sociedade, porque a mineração faz parte dos desafios da transição energética que a gente quer para a segunda metade desse século e todas as medidas de controle das mudanças climáticas. Então, esse tipo de parceria estratégica entre o Ibram e a USP vai ajudar a ter novas abordagens para a gente poder contribuir com essa transformação e fazer com que esse setor atue de forma responsável”.
Além de mudar a forma como os minérios são explorados, a parceria buscará interceptar vendas ilegais – Foto: Chico Batata/Greenpeace
Auxílio nas atividades mineradoras
Na região da Amazônia, a ação de pequenas e médias mineradoras é forte. Para De Tomi, é preciso articular ações de trabalho com esses órgãos:
“Em termos de número de títulos minerários, a média e a pequena mineração têm mais de 90% dos minerais. Eles fazem um universo muito importante do setor mineral brasileiro, então conseguir essa transformação trabalhando com tecnologia e trabalhando com apoio é um dos caminhos que a gente acredita que vai fazer a diferença. Não é só oferecer tecnologia, mas é ajudar o pessoal, trabalhar com eles para ajudar a fazer essa tecnologia funcionar para o problema específico de cada região, de cada tipo de mineração”.
Plataforma de compra responsável
Além de mudar a forma como os minérios são explorados, a parceria buscará interceptar vendas ilegais por meio de uma plataforma de compra de ouro.
“A ideia é conseguir verificar, atestar a origem desse ouro para poder dar uma segurança ao comprador na hora da transação, que esse ouro vem de uma origem adequada. Essa plataforma permite que o comprador de ouro, na hora da primeira transação, quando o ouro sai do mineral e vira um ativo financeiro que entra no mercado, verifique a origem, para saber se é um título minerário ativo, se tem uma origem conhecida e mais uma série de análises que são feitas por meio da plataforma para dar tranquilidade ao comprador que o ouro vem de uma origem responsável.”
A plataforma começa com a venda do ouro, mas pode ser expandida para outros metais:
“O sucesso que a gente está vendo nessa primeira fase de divulgação é uma aceitação muito positiva por parte dos vários órgãos com que a gente conversou, seja um Ministério Público, sejam diferentes ministérios governamentais e outros órgãos que estão recebendo de forma muito positiva a ferramenta, porque ela é simples, mas ela é poderosa. Ela dá o poder de decisão na hora da compra do ouro. Então, o sucesso que a gente acompanhou com o caso do ouro, a gente está muito positivo quanto à expansão para outras commodities e utilizar isso para outras formas de mineração e para outras substâncias minerais na Amazônia brasileira”, diz De Tomi.
Originalmente publicado pelo: JORNAL DA USP
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