Políticos que defendem o garimpo ilegal costumam bradar que os “pobres” garimpeiros não têm outra chance na vida a não ser tentar a sorte buscando ouro e outros metais na atividade. Contudo, a imagem quase romântica de homens usando bateias à beira de rios em busca de riquezas não condiz em nada com a realidade.
Na verdade, o garimpo é uma atividade cara, que requer muito dinheiro para a compra de maquinário cada vez mais potente – e destruidor. Não à toa, o garimpo ilegal é cada vez mais comandado por organizações criminosas, que têm recursos para aplicar na atividade.
É o que mostra o estudo “Abrindo o livro caixa do garimpo”, divulgado nesse fim de semana pelo Instituto Escolhas. O levantamento mostra que o investimento médio em máquinas, equipamentos e infraestrutura para dar início às operações de uma balsa de garimpo – uma balsa apenas – é de R$ 3,3 milhões, com estimativa de lucro mensal de R$ 632 mil por balsa. O garimpo terrestre é mais barato, mas ainda caro: demanda investimento da ordem de R$ 1,4 milhão, com lucro mensal estimado em mais de R$ 340 mil.
“Os garimpos são empreendimentos com alto investimento e uma renda considerável, mas beneficiados por uma legislação que faz poucas exigências para autorizar as operações e que não atrela ao garimpo a responsabilidade de recuperar as áreas devastadas e contaminadas pelo mercúrio. Aí, reside o interesse em seguir mantendo a aura artesanal do garimpo, que já não é realidade há muito tempo”, alerta Larissa Rodrigues, gerente de portfólio do Escolhas, ao Metrópoles.
Jessé Souza, da Folha de Boa Vista, lembrou que senadores de Roraima pretendiam aprovar um relatório favorável ao garimpo, “tentando colocar todos os garimpeiros no balaio de coitadinhos”, mas não colou. Esses parlamentares integraram a comissão que apurou a situação dos Yanomami, frisa o colunista.
“Foram obrigados a recuar diante das fortes evidências de que o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami há tempos é comandado pelo crime organizado, mais precisamente por uma facção paulista que se associou a outro grupo criminoso de venezuelanos, os quais resistem às ações de desintrusão dos garimpeiros.”
A milhares de quilômetros dali, no sul do Pará, a TI Kayapó – o território indígena com mais garimpos no Brasil, segundo a Folha – tenta resistir ao garimpo ilegal. Com aldeias cercadas por crateras causadas pela ação dos garimpeiros, lideranças da TI buscam caminhos para eliminar a atividade predatória, que impede a pesca e traz doenças às comunidades. E também acabar com a conivência de uma parte pequena dos indígenas com a ilegalidade.
Já no sudeste paraense, quatro garimpos ilegais foram desmontados em São Félix do Xingu na 6ª feira (16/6). A operação conjunta entre Polícia Federal, IBAMA e ICMBIO flagrou o crime ambiental, que poluía o rio Aquiri, afluente do rio Itacaiúnas, em área de conservação ambiental. Uma pessoa foi presa e os equipamentos foram inutilizados, relata o g1.
Em tempo: As escolas da Amazônia continuam aguardando as antenas de internet da Starlink, de Elon Musk, prometidas pelo próprio e pelo governo do inominável. Já os garimpos ilegais na região se conectaram sem burocracia – onze kits da Starlink foram apreendidos em áreas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, de acordo com levantamento mais recente do IBAMA. O total de kits subiu de dois para 11 entre fevereiro e maio, de acordo com balanço da autarquia, informa a Folha.
Texto publicado em CLIMA INFO
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