Em uma densa área florestal da Amazônia Legal brasileira, situada no estado do Maranhão, a voz dos povos indígenas soa firme e resoluta: “A cultura indígena pode ser extinta quando não houver mais floresta e os animais, aí a nossa cultura morre. Ninguém vai nos intimidar, nós não vamos recuar, vamos lutar até o fim”. Este é o clamor das lideranças da Terra Indígena (TI) Araribóia, uma área sob ameaça constante, apesar de legalmente reconhecida.
Um Território Ameaçado
A TI Araribóia se destaca como a segunda maior do Maranhão, abrigando cerca de 15 mil indígenas distribuídos em aproximadamente 413 mil hectares, englobando seis municípios. O território, apesar de suas delimitações claras e legais, é alvo de invasões constantes. As ameaças são variadas: fazendeiros, caçadores, atividades madeireiras ilegais e até arrendamentos de pastos. Devido às invasões relacionadas à atividade madeireira ilegal, conflitos internos proliferam, acompanhados por uma devastação ambiental implacável.
Marcilene Guajajara, representante da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima), ilumina essa questão com preocupação. Segundo ela, relatos de exploração ilegal de madeira, principalmente dos municípios Amarante e Arame, são frequentes. “A vida dos indígenas vem sendo afetada pelo desmatamento acelerado e por conflitos diretos”, pontua Marcilene. Este cenário contribui para a vulnerabilização da saúde e do bem-estar das comunidades indígenas.
Estratégias de Proteção e Sobrevivência
Para proteger seu lar e suas tradições, os líderes da TI Araribóia adotaram o monitoramento constante dos limites do território. Em operações de maior escala, como verificações de denúncias, há o suporte de instituições como a Polícia Federal, a Força Nacional de Segurança Pública e o Ibama.
Ao ser questionado via Lei de Acesso à Informação, o Ibama revelou a presença de grupos criminosos operando fraudes na cadeia florestal e adquirindo madeiras de origem ilegal. Estas operações clandestinas são, frequentemente, financiadas por grupos que camuflam a origem da madeira através de créditos virtuais.
Gilderlan Rodrigues, coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), sublinha os impactos da extração ilegal de madeira: “além de prejudicar a fauna e a flora, afeta diretamente as nascentes dos rios, comprometendo a soberania alimentar dos povos indígenas”.
A Amazônia, um bioma essencial não apenas para a América Latina mas para todo o mundo, tem sido palco de crescentes conflitos envolvendo conservação e exploração econômica. Os impactos dessa tensão são sentidos principalmente no Brasil, país que abriga a maior parte desta floresta vital.
A Amazônia e sua rica biodiversidade
Abrangendo nove países, com 60% de sua totalidade situada na região Norte do Brasil, a Amazônia é um tesouro de biodiversidade. A região abriga cerca de 26% da flora conhecida do Brasil, contabilizando mais de 13 mil espécies entre vegetação nativa e cultivada. Infelizmente, muitas destas espécies são exploradas por um mercado mundial que, muitas vezes, negligencia sua origem e impacto nas comunidades locais.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA e MC) tem anunciado diversas ações voltadas para a conservação da biodiversidade e para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Estas iniciativas, conforme divulgado, abordam desde a recuperação de áreas degradadas até o pagamento por serviços ambientais.
Desmatamento: Um problema crescente
Acompanhar o ritmo do desmatamento tem sido um desafio. No entanto, ferramentas como o Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), fornecem dados alarmantes. Desde o início do programa em 1988, mais de 26 mil km² foram desmatados apenas no Maranhão, que ocupa o 5º lugar no ranking da Amazônia Legal Brasileira.
Outra plataforma, MapBiomas Alerta, mostrou que entre 2019 e o momento atual, quase 6,5 milhões de hectares foram desmatados no Brasil, com a Amazônia representando 58% desse total. Neste contexto, o Maranhão,
, Mato Grosso e Pará destacam-se como os maiores infratores.
A Climate Policy Initiative (CPI) e a PUC-Rio apontam que mais de 90% do desmatamento na Amazônia apresenta indícios de ilegalidade. Essas atividades ilícitas estão intrinsecamente ligadas a mineração ilegal, grilagem de terras e extração ilegal de madeira. Como resultado, a região enfrenta uma crescente onda de crimes e violência.
Além disso, o desmatamento ilegal tem efeitos devastadores para as populações tradicionais da Amazônia. Estas comunidades, que já lutam por reconhecimento, enfrentam a desmobilização de seus territórios e impactos socioculturais significativos.
Pesquisas realizadas pela plataforma De Olho nos Ruralistas mostram um histórico preocupante de infrações ambientais. As multas por desmatamento na Amazônia predominam, e os dados sobre o Maranhão, em particular, são alarmantes. Mesmo com autuações milionárias entre 2005 e 2006, o estado continua a apresentar altas taxas de desmatamento.
Guardiões da Floresta: Defensores da Amazônia em Meio ao Caos
O coração da Amazônia é defendido por guerreiros indomáveis. Esses guerreiros são os povos indígenas que têm lutado incansavelmente para proteger suas terras, suas culturas e a própria floresta das garras invasoras da exploração desenfreada.
A região de Arame, no Maranhão, abriga a TI Araribóia, um território ancestral que tem sido invadido desde pelo menos 1984. A exploração de madeira e a apropriação de terras para pastoreio de gado são apenas dois dos inúmeros desafios que a comunidade enfrenta. Metade do território já foi impactada por atividades madeireiras.
Os Guardiões da Floresta são guerreiros voluntários que se arriscam diariamente para proteger seu território. Sua missão também envolve proteger comunidades indígenas isoladas, que dependem diretamente da floresta para subsistência. Mas, essa proteção tem um preço: encontros violentos com madeireiros e até mesmo assassinatos.
O relato da liderança indígena de Arame é angustiante: “Não temos paz em nossas aldeias. Vivemos num país que se diz democrático, mas que fecha os olhos para nossa realidade. Estamos à mercê dos invasores.”
O Silêncio da Funai
Apesar dos esforços para comunicar a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) sobre as invasões, as ações necessárias para interrompê-las muitas vezes são lentas ou nem mesmo acontecem.
O relatório do Cimi de 2022 é um testemunho da crescente violência contra as comunidades indígenas. Os dados mostram que a invasão de Terras Indígenas aumentou, junto com várias outras formas de violência. Este é o sexto ano consecutivo em que as violações continuam a crescer. E o cenário é alarmante.
O Grito de Resistência
Os Guardiões da Floresta, junto com outras lideranças indígenas, representam a linha de frente na batalha pela proteção da Amazônia. Eles não estão apenas lutando por sua terra, mas pela preservação de seus costumes, tradições e pela própria floresta. Cada dia é um ato de resistência e determinação
Os povos indígenas, como os da TI Araribóia no Maranhão, são apenas um exemplo dentre as 330 Terras Indígenas na Amazônia. Eles enfrentam uma luta diária contra a invasão, exploração e violência. A Amazônia não é apenas uma floresta; é o lar, a história e o coração desses povos. Protegê-la é proteger uma herança inestimável para o Brasil e para o mundo. E os Guardiões da Floresta estão na linha de frente dessa batalha.
*Com informações CIMI
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