As cifras não deixam dúvidas: é um excelente negócio para o Brasil preservar a Floresta Amazônica e desenvolver a bioeconomia. Além de gerar bilhões de reais, o país pode ocupar uma posição privilegiada no cenário global, tornando-se uma nação neutra em gases de efeito estufa.
Contudo, será preciso buscar soluções inovadoras para combater o desmatamento ilegal, atingir o net zero e se preparar para os efeitos da crise climática, com participação das populações envolvidas, bem como resolver antigos problemas como os conflitos de terra, mostra uma série de matérias do Valor.
Se o Brasil mantiver a floresta em pé, especialmente na Amazônia, zerando o desmatamento ilegal, poderá agregar até US$ 100 bilhões anuais ao Produto Interno Bruto (PIB) nacional com atividades agroflorestais. Além disso, vai evitar o lançamento de 21 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera até 2050.
E o investimento na preservação florestal é relativamente baixo, em comparação com os ganhos: cerca de US$ 10 bilhões, no desenvolvimento de uma economia sustentável baseada na floresta.
A demanda global por produtos amazônicos, como cacau, açaí, pimenta-do-reino, frutas tropicais, peixes nativos, entre outros, de uma lista de 64 itens já exportados, atinge atualmente US$ 176 bilhões. Só que o Brasil participa desse bolo com apenas 0,2%.
Segundo estimativas da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), a bioeconomia pode gerar faturamento industrial adicionalde US$ 284 bilhões por ano, até 2050. O cálculo considera uma série de ações conjuntas nas quais o agronegócio e os setores de alimentação, farmacêutico, de cosméticos e de genética assumem protagonismo.
“Se conseguirmos zerar o desmatamento ilegal, dá para inverter a economia da Amazônia em menos de dez anos. É possível dar valor à bioeconomia rapidamente”, explicou o cientista climático Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), ao Valor. Ele cita um potencial de geração de US$ 50 bilhões na região, em uma década.
Para as autoridades, o desenvolvimento econômico sustentável tem como pré-condição a construção e a implementação de políticas públicas voltadas ao combate ao desmatamento e à proteção de populações vulnerabilizadas pelas mudanças climáticas e conflitos de terras.
Diante desse cenário, o poder público discute com o setor privado saídas para transformar o atual ambiente, favorável ao crime ambiental e ilegalidades, em um ecossistema sustentável. “Temos que transformar a economia ilícita em lícita”, observa a cientista política, Ilona Szabó, cofundadora e presidente do Instituto Igarapé.
A estratégia de carbono zero no agronegócio traz para o Brasil oportunidades superiores às de outros países. Investimentos entre US$ 14 bilhões e US$ 20 bilhões por ano, novas tecnologias e um modelo de produção agropecuária descarbonizado podem agregar ao PIB nacional entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões por ano, segundo Ned Harvey, CEO da Digital Gaya.
De fato, a mitigação dos gases de efeito-estufa com vistas à neutralidade de carbono até 2050, bem como a adaptação a um cenário de eventos climáticos extremos, demandarão soluções coletivas e inovadoras, que passam pela experiência de quem sofre os efeitos da crise climática na pele. E são o roteiro necessário para se atingir a Justiça Climática.
“Vivemos esse caos climático e construímos soluções a partir da ausência e da desigualdade. Se a periferia, a favela, a aldeia e o quilombo compartilham expertises, as empresas podem fazer o mesmo, unindo saberes para dar encaminhamento mais rápido à crise do clima”, diz Raull Santiago, que faz parte do conselho jovem do Pacto Global da ONU no Brasil e é ativista, empreendedor social e gestor de projetos no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.
Texto publicado em CLIMA INFO
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