Toda crise da seca traz consigo oportunidades. Fica ainda a lembrança da falta que faz uma rodovia como a BR-319, para dotar a região de alternativas. Sobram motivos para a rodovia e são muitas as razões para transformar os rios em hidrovias perenes, para contenção dos custos amazônicos que se sobrepõem ao já pesado custo Brasil
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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Desde o ano passado temos lançado alertas sobre a problemática da seca para a logística da indústria da Zona Franca de Manaus. Agora que o cenário crítico começa a ser instalado, correm para todos os lados os alertas da crise. Entretanto, o que se coloca hoje é: quais ações são possíveis para minimizar os estragos?
Há sempre uma possibilidade regulatória, que é uma oportunidade especial para a ANTAQ e ANTT e, em menor medida, para a ANAC. Um severo problema aquaviário demandará medidas tanto do regulador da hidrovia, quanto dos demais reguladores, para minimizar os estragos inevitáveis para a logística e a já baixa competitividade da infraestrutura da região Norte e do Amazonas.
O modal aéreo poderá ajudar com mais rotas de cargas para Manaus, operando especialmente do Sudeste e Nordeste, pois é possível o transbordo das cargas mais urgentes do modal aquaviário ou rodoviário para o aéreo. Cabe aqui uma oportunidade para facilitar os DTAs de cargas importadas ou mesmo a emissão facilitada de conhecimentos que interrompem viagens e troquem de modais em casos selecionados.
No modal aquaviário está a grande oportunidade, uma vez que é lá que estão os problemas de restrição de calado. Neste momento de crise surge importante espaço para novos armadores, para minimizar o risco de algum oportunista aplicar sobrepreço excessivo. Neste sentido, há a necessidade de um olhar atento dos reguladores para conter o ímpeto daqueles que queiram tirar vantagem da situação.
Há ainda a possibilidade de transbordar cargas dos navios para balsas, apenas entre os trechos críticos ou mesmo em um fluxo contínuo de transbordo para balsa, desde próximo ao ponto de restrições até Manaus. Neste sentido, há novamente oportunidade de DTA ou um modelo de licença especial construído para a crise hídrica e de restrições de calado, como medida adicional.
Também existe espaço para otimizar as rotas rodoviárias para Manaus, que hoje circulam primariamente por Belém. Parece ser um momento apropriado para substituir por Santarém (ou Miritituba), pois assim será possível otimizar o uso das balsas que levam semirreboques de Manaus para Belém e vice-versa, fazendo uma viagem mais curta e aumentando a capacidade destas – simplesmente porque viajarão menos tempo. Assim, elas poderão transportar contêineres dos navios, com o espaço aberto ou mais semirreboques.
Há ainda a possiblidade de mais cargas trafegarem por rodovia para Manaus. Nos últimos anos, muitas cargas saíram dos caminhões e foram para os navios. Não fará sentido para os grandes transportadores comprarem novos veículos apenas para os três ou quatro meses de seca. Sendo assim, usar melhor o ativo das frotas de veículos poderá ser uma oportunidade grande. A rota por Santarém leva menos tempo para chegar ao Sudeste, consome menos recursos dos veículos e de balsa. Reside aqui a principal oportunidade para a ANTT analisar, junto com as instituições dos transportadores.
Toda crise traz consigo oportunidades. Fica ainda a lembrança da falta que faz uma rodovia como a BR-319, para dotar a região de alternativas. Sobram motivos para a rodovia e são muitas as razões para transformar os rios em hidrovias perenes, para contenção dos custos amazônicos que se sobrepõem ao já pesado custo Brasil. Afinal, por aqui temos todas as restrições possíveis: isolamento, falta de infraestrutura, meio ambiente delicado e pesados custos.
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Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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