Desmatamento – extermínio atual das coberturas vegetais primárias do Brasil já está implicando um aumento exponencial dos riscos de inviabilização de nossa agricultura
Por imensos que sejam os desentendimentos e cacofonias que se afrontam nessas eleições, há três premissas das quais ninguém discorda:
- (1) precisamos de agricultura para nos alimentar;
- (2) a atividade agrícola é muito dependente de fatores não humanos, isto é, de chuvas sazonais em quantidades regulares e de um sistema climático minimamente estabilizado;
- (3) chuvas regulares e clima favorável dependem, por sua vez, da conservação das florestas e das demais coberturas vegetais nativas.
Por Luiz Marques – Jornal UNICAMP
De fato, as florestas e demais ecossistemas naturais conservam e reciclam a umidade proveniente dos oceanos, estabilizam as chuvas, refrigeram o clima, preservam a fertilidade dos solos e mantêm a biodiversidade, sem a qual não temos dispersores de sementes, polinizadores, fungos e micro-organismos necessários à reprodução das plantas.
O que motiva este texto é a necessidade de comunicar este fato indubitável: o extermínio atual das coberturas vegetais primárias do Brasil já está implicando um aumento exponencial dos riscos de inviabilização de nossa agricultura.
Estranhamente, discutiu-se de tudo nessa campanha eleitoral, menos o perigo iminente dessa inviabilização. É claro que os temas discutidos – economia, saúde, democracia, desigualdade, educação etc. – são todos muito relevantes; mas o mais importante deles passou quase completamente em silêncio: o ambiente, isto é, as condições ambientais que permitem, em suma, plantar e colher o que plantamos.
Se destruímos essas condições, todos os pomos das discórdias que mobilizam essas eleições tornam-se secundários, para não dizer irrelevantes.
Pois bem, os quatro anos do atual governo foram de tal modo danosos para a estabilidade das condições ambientais do país, que a precarização da agricultura brasileira se tornou um problema crescente dos nossos dias. E uma coisa é certa: mais quatro anos desse governo desencadearão um processo possivelmente irreversível de declínio da nossa capacidade de cultivar a terra.
Nossa agricultura já começou, de fato, a dar mostras de instabilidade e de risco acrescido de quebras de safra. Estamos falando de riscos sistêmicos, recorrentes, crescentes e simultâneos em diversas regiões do país, o que equivale a dizer que a disponibilidade de alimentos e seus preços ameaçam cada vez mais a segurança alimentar do povo brasileiro.
Antes de mostrar alguns dados alarmantes desse processo, é preciso entender sua causa principal: o aumento da destruição biológica no país nos últimos quatro anos.
1. A destruição da Amazônia
A Figura 1 mostra as mensurações de desmatamento por corte raso na floresta primária da Amazônia Legal Brasileira, realizadas pelos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) entre 1988 e 2021, sempre nos 12 meses entre cada agosto e cada julho do ano sucessivo.
Lula recebeu das administrações de Itamar Franco (1993-1994) e de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), um desmatamento amazônico em alta. O ímpeto desse desmatamento continuou durante os primeiros 18 meses de sua administração, atingindo no período agosto de 2003 – julho de 2004 um pico de 27.772 km2, só menor do que o de 1995 (29.059 km2).
Desenha-se a partir de 2004, contudo, uma vigorosa tendência de queda nesse desmatamento, posto em marcha por Marina Silva (2003-2008), Carlos Minc (2008-2010) e Izabella Teixeira (2010-2016), em seus dois primeiros anos à frente do Ministério do Meio Ambiente.
Em 2012, o desmatamento por corte raso de florestas primárias na Amazônia havia diminuído em mais de 80%. Sucessivamente, ele voltou a crescer, para atingir durante os quatro últimos anos proporções novamente catastróficas. Cinco elementos desse gráfico permitem entender a política literalmente de terra arrasada promovida por Bolsonaro:
1. Considerado o arco histórico 1988 – 2021, percebe-se que apenas entre 2017 e 2021 houve crescimento ininterrupto por 4 anos (2018-2021) do desmatamento por corte raso na Amazônia.
2. Nunca houve no século XXI um aumento de 34,4% em 12 meses em relação aos 12 meses anteriores, como o que ocorreu entre agosto de 2018 e julho de 2019. O aumento se verifica já a partir de agosto de 2018, dada a promessa de campanha de Bolsonaro de acabar com “a indústria das multas”. Promessa cumprida, pois sua gestão registrou o menor número de multas ambientais em 20 anos.[1] Em 2020, 99,8% do desmatamento no país foi ilegal.[2]
3. Após o impeachment de Dilma Rousseff, o desmatamento anual da Amazônia Legal brasileira passou de 6.947 km2 (agosto de 2016-julho de 2017) para 13.235 km2 (agosto de 2020 – julho de 2021), ou seja, um salto de mais de 90%!
4. Entre 1º de agosto de 2020 e 31 de julho de 2021, a perda de floresta amazônica teve um aumento de 22% em relação ao desmatamento apurado nos 12 meses anteriores.
5. O desmatamento em 2021 (agosto 2020 – julho 2021) é o maior da série histórica desde 2006.
Em suma, durante os quatro anos de Bolsonaro (2019-2022), a floresta amazônica terá perdido completamente, segundo as mensurações (e projeções para 2022) do INPE, um total aproximado de 47 mil km2, uma área maior que a do estado do Rio de Janeiro (43.696 km2) e 60% maior do que a área do desmatamento registrado nos quatro anos dos governos de Dilma Rousseff e de Michel Temer (2014-2018).[3]
Apenas em 2021, foram eliminadas cerca de 470 milhões de árvores na Amazônia brasileira e apenas em janeiro de 2022, um mês de baixo desmatamento, a perda florestal superou 31 milhões de árvores, ou seja, uma média de 1 milhão de árvores por dia.[4]
Assinale-se, por fim, que os alertas de desmatamento (Sistema de Alertas de Desmatamento – SAD) na Amazônia brasileira atingiram um novo recorde nos seis primeiros meses de 2022.[5]
Os incêndios desempenham um papel fundamental nesse processo de aniquilação da maior floresta tropical do mundo. Segundo dados do Programa Queimadas do INPE, de janeiro a agosto de 2019, os focos de incêndios na floresta amazônica aumentaram 82% em relação ao mesmo período de 2018 (71.497 em janeiro/agosto de 2019 contra 39.194 em janeiro/agosto de 2018).[6] Segundo dados coincidentes do INPE e da NASA, o ano de 2019 fora, até então, o pior ano de incêndios amazônicos do segundo decênio do século.[7] Mas 2020 foi ainda pior.
No ano inteiro de 2019 detectaram-se 89.171 focos de incêndio na floresta amazônica. Em 2020, registraram-se 103.161 focos de incêndio nessa floresta, um aumento de 15,7% em relação a 2019.[8] Em 2021, houve diminuição dos focos de incêndio amazônico, mas em 2022, até setembro, os focos de incêndios amazônicos já haviam superado o acumulado do ano inteiro de 2021.[9]
Em setembro de 2021, um estudo publicado na Nature quantificava os danos biológicos causados pela destruição da Amazônia e indicava como a ausência de governança no país, associada ao desmatamento e ao agravamento da emergência climática havia potencialmente impactado entre 77% e 85% das espécies ameaçadas de extinção.[10]
Mantida a escala e velocidade de destruição imprimida pelo governo Bolsonaro, qualquer esperança de que a floresta amazônica resista ainda por mais alguns anos seria injustificável.
2. O Cerrado, o Pantanal e a Mata Atlântica
A meta de governo do atual presidente é expandir o agronegócio, a mineração e o garimpo em detrimento também desses três biomas e de seus habitantes. Segundo o INPE, entre agosto de 2020 e julho de 2021, o Cerrado perdeu 8,5 mil km2 de vegetação nativa, um aumento de 7,9% em relação aos 12 meses precedentes. Trata-se da mais alta taxa de desmatamento desde 2016.[11]
Não por acaso chamado “berço das águas” do Brasil, o Cerrado possui quase 20 mil nascentes e irriga seis das oito regiões hidrográficas do país. Mas o Cerrado está secando em decorrência de um desmatamento brutal, sendo que 88% dele em 2018 e 2019 foi ilegal.
Segundo uma estimativa de 2019 da Agência Nacional de Água (ANA), 62,1% das bacias hidrográficas que drenam o Cerrado e outros biomas têm índices de desmatamento que impactam fortemente o abastecimento de água.
Em 2019, a área queimada no Pantanal chegou a 1,2 milhão de hectares (12 mil km2). Até outubro de 2019 já haviam sido registrados quase 8 mil incêndios na maior área alagada tropical do planeta, um aumento de 97% do número de focos de fogo em comparação com a média dos últimos 10 anos.[12] O ano de 2020 foi, contudo, muito pior.
Na realidade, foi o pior da história do bioma desde ao menos 1998, quando o INPE começou o monitoramento da região, pois apenas nesse ano o fogo consumiu mais de 3,9 milhões de hectares (mais de 39 mil km2) ou 26% do território do Pantanal no Brasil.[13] As perdas em vida foram, então, gigantescas.
Não há estimativas sobre as mortes de invertebrados. Mas se calcula que apenas entre janeiro e novembro de 2020 – anos de seca extrema no Pantanal,[14] em parte decorrentes da destruição da floresta amazônica –, os incêndios provocados por fazendeiros[15] causaram a morte por calcinação de cerca de 17 milhões de vertebrados.[16] Há na imprensa fotos excruciantes de jacarés, macacos, cobras, pássaros, pequenos roedores e antas carbonizadas, que não me permito reproduzir aqui por respeito à sensibilidade do leitor.
Esse morticínio sem precedentes no Pantanal causado pela certeza de impunidade deverá pesar no dossiê de crimes do atual presidente e de seus acólitos contra a vida e contra os direitos da natureza. Muitos de seus eleitores desconhecem essas atrocidades e têm, portanto, o perdão da ignorância.
Mas os que estão a par de tais crimes hediondos contra animais indefesos e ainda assim optam por votar novamente num ecocida, esses se associam conscientemente ao mal.
O “efeito Bolsonaro” é detectável também no que se refere à destruição da Mata Atlântica. Nos 17 estados do país em que ainda se conservam remanescentes desse bioma, o ano de 2017 registrou um desmatamento de 11.399 hectares (quase 114 km2), o menor da série histórica desde o início das mensurações por satélite em 1985 (INPE/SOS Mata Atlântica).
O período de agosto de 2018 a julho de 2019 cravou um desmatamento já bem maior, de 14.375 hectares (143 km2). Mas em 2021 (agosto de 2020 – julho de 2021) foram desmatados 21.642 hectares (216 km2) de floresta primária ou em estágios avançados de recomposição, ou seja, quase o dobro do ano de 2017.
Trata-se de um crescimento de mais de 60% em relação ao registrado entre 2019 e 2020 (13.053 ha). “Essa perda de florestas naturais, área em que caberiam mais de 20 mil campos de futebol, corresponde a 59 hectares por dia ou 2,5 hectares por hora, além de representar a emissão de 10,3 milhões de toneladas de CO2-equivalente na atmosfera”.[17] E essa aceleração confirma-se novamente em 2022, pois apenas no primeiro semestre do corrente ano foram desmatados no conjunto da Mata Atlântica quase tanto quanto em todo o ano anterior, ou seja, 21.302 ha (213 km2).
“É como se 117 campos de futebol tivessem sido destruídos todos os dias, o que corresponde à emissão de mais de 10,2 milhões de toneladas de CO2”.[18] Luís Fernando Guedes Pinto, Diretor de Conhecimento da SOS Mata Atlântica, lança o alerta:[19]
Se as derrubadas persistirem, vai faltar água, vai faltar alimento, vai faltar energia elétrica. É uma ameaça à vida, um desastre não só para o Brasil como para o mundo, pois importantes referências internacionais apontam a Mata Atlântica como um dos biomas que precisam ser restaurados com mais urgência para atingirmos a meta de redução de 1,5°C de aquecimento global estabelecida no Acordo de Paris. Mas estamos percorrendo o caminho oposto, em direção à sua destruição.
3. A precarização da agricultura brasileira está se acelerando
Luciana Gatti e colegas mostram em dois artigos recentes que a floresta amazônica já não é mais um sumidouro de carbono através da fotossíntese, mas se transformou em uma fonte de CO2, o que indica que a taxa de mortalidade de suas árvores superou sua taxa de crescimento e regeneração.
A taxa de liberação de carbono pela floresta nada menos que dobrou durante o governo Bolsonaro.[20] A equação é simples e inexorável: menos floresta = mais liberação de carbono, mais desequilíbrio climático e menos chuvas.
De fato, muito das chuvas que irrigam o continente ao sul da Amazônia provém dos chamados “rios voadores”, essas massas de ar carregadas de vapor de água na baixa atmosfera geradas pela floresta e propelidas pelos ventos em direção ao sul do continente. O Projeto Rios Voadores quantifica essa umidade doada à agricultura pela floresta:
A quantidade de vapor de água evaporada pelas árvores da floresta amazônica pode ter a mesma ordem de grandeza, ou mais, que a vazão do rio Amazonas (200.000 m3/s). (…) Uma árvore com copa de 10 metros de diâmetro é capaz de bombear para a atmosfera mais de 300 litros de água, em forma de vapor, em um único dia – ou seja, mais que o dobro da água que um brasileiro usa diariamente!
Uma animação proposta pelo Projeto Rios Voadores dá uma ideia mais circunstanciada de quanto as chuvas das regiões do Chaco, do Pantanal, do Centro-Oeste do Brasil, da bacia do Prata e do Sudeste do país são tributárias da umidade gerada e reciclada pela floresta amazônica.[21]
Todas essas regiões do Sul e do Sudeste do Brasil – onde, paradoxalmente, se concentra o eleitorado de Bolsonaro – já estão recebendo menos chuvas por causa do desmatamento da Amazônia e tenderão à maior aridez com mais quatro anos de Bolsonaro.[22] Em 2018 e 2019, Carlos Nobre e Thomas Lovejoy publicaram dois editoriais na revista Science Advances, advertindo que a floresta amazônica, à força de desmatamento, incêndios e degradação, estaria na iminência de cruzar um ponto de não retorno em direção à sua morte como floresta tropical.[23]
Ambos os editoriais reiteram o quanto a agricultura brasileira beneficia-se da umidade da floresta amazônica, e voltam a advertir que estamos diante da “última chance” para evitar um desastre em escala planetária:[24] “Hoje, estamos exatamente em um momento de destino: o ponto de não retorno é aqui, é agora”.
Esse ponto de não retorno pode se situar em um nível de desmatamento da ordem de 20% a 25% da área original da floresta, e já ultrapassamos 20% desse desmatamento por corte raso na Amazônia brasileira. Se esse nível de 25% for excedido, afirma Carlos Nobre, algo da ordem de 60% a 70% da floresta poderá desaparecer de modo irreversível. Em 2020, Carlos Nobre reportou um sintoma seguro da iminência desse ponto de não retorno: o aumento da duração da estação seca na Amazônia:[25]
Em 50% da Amazônia, a estação seca está ficando mais longa. Em relação aos anos 1980, ela já está três semanas mais longa. (…) No sul e sudoeste da Amazônia, o início da estação chuvosa chegou a atrasar quatro semanas. (…) A temperatura durante a estação seca está até 3oC mais quente. Estamos vendo que a reciclagem da água nessas regiões diminuiu muito. (…) Estamos vendo o aumento da mortalidade das árvores nessas regiões mais secas. (…) Isso está acontecendo hoje!
Em suma, como voltou a afirmar Carlos Nobre em 2022, a Amazônia está à beira do precipício e sua queda levará com ela as condições de possibilidade de nossa agricultura:[26]
A reciclagem de vapor d’água [realizada pela floresta] leva vapor ao sul da Bacia Amazônica, o que alimenta sistemas de chuva do Cerrado, do Sudeste, da Bacia do Rio Paraná, do Uruguai, da Argentina, do Paraguai e do sul do Brasil. Se a floresta desaparecer, as chuvas nessas regiões diminuirão, prejudicando, por exemplo, a agricultura.
Outro impacto: sem a floresta, a temperatura sobe muito na região amazônica, de 4oC a 5oC, o que já acontece em regiões de pastagem na Amazônia. O ar que passa por lá e chega ao Cerrado fica de 4oC a 5oC mais quente, o que perturba a ecologia do Cerrado e, principalmente, a agricultura dessa região, que já está próxima de um limite, ou seja, de não haver mais potencial de agricultura.
De fato, o risco de desertificação de imensas áreas do país ao sul da Amazônia foi reiteradamente demonstrado por Antônio Donato Nobre[27] e as tempestades de areia que se verificaram em 2021 em Minas Gerais e em São Paulo podem ser já sintomas iniciais desse processo.
4. Os primeiros prejuízos agrícolas e as perspectivas para este decênio
Um artigo publicado em 2019 por Marcos Heil Costa e colegas analisa como o desmatamento da Amazônia, e o consequente aumento da duração da estação seca na Amazônia, já está ameaçando o sistema de dupla safra (safra de soja e safrinha de milho) ao sul da floresta, incluindo o sul do estado do Amazonas, Rondônia e Mato Grosso.[28]
A falta de chuvas no triênio 2020-2022 tem provocado quebras de safra em importantes regiões produtoras de alimentos no Brasil, com carestia e prejuízos colossais aos agricultores de milho, açúcar, café, trigo e laranja. Por causa disso, a safra 2020/2021 de milho foi 15% inferior à safra 2019/2020.[29]
Em janeiro de 2022, o Canal Rural anunciava que a onda de calor e a seca que se abatiam sobre a maior parte do país já haviam causado um prejuízo de R$ 45,3 bilhões nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.[30] Segundo Guilherme Bellotti, gerente de consultoria Agro do Itaú BBA, em 2021 a seca provocou uma quebra da segunda safra de milho, reduzindo a expectativa inicial de produção de 86 milhões de toneladas para algo entre 65 e 70 milhões de toneladas.[31] Em agosto de 2021, os prejuízos agrícolas no Sudeste do país explodiram.
“Em Uberaba, por exemplo, 60% da safra de milho foi perdida pela falta de chuvas. Na horticultura, a perda calculada gira em torno de 40%, enquanto que na fruticultura, é de 25%”.[32] No que se refere à soja, a seca e a instabilidade climática estão causando prejuízos de cerca de R$ 72 bilhões na safra de 2021/2022. Segundo uma reportagem do portal Agrolink, de 17 de outubro de 2022:
Enquanto parte dos produtores são prejudicados pelo excesso de chuva, outra parte sofre com a estiagem intensa e com as altas temperaturas. Em 2021, por exemplo, o excesso de chuva e a umidade elevada foram responsáveis por causar perdas de até 100% em diversas lavouras de soja cultivadas no estado de Mato Grosso.
Nesse mesmo ano, os estados da Região Sul do país experimentaram as consequências de uma seca severa. A estimativa é que a estiagem tenha provocado perdas de até R$ 100 bilhões, somando os prejuízos calculados para todos estados e produtores da região. A expectativa para 2022 não é muito diferente. Apenas no início deste ano, a seca provocou um prejuízo recorde para os produtores de soja do Rio Grande do Sul.
Nesse mesmo ano, os estados da Região Sul do país experimentaram as consequências de uma seca severa. A estimativa é que a estiagem tenha provocado perdas de até R$ 100 bilhões, somando os prejuízos calculados para todos estados e produtores da região. A expectativa para 2022 não é muito diferente. Apenas no início deste ano, a seca provocou um prejuízo recorde para os produtores de soja do Rio Grande do Sul.
Muito em breve, esses riscos e perdas agrícolas se generalizarão, mantida a atual trajetória bolsonarista. E por “muito em breve”, entendo o presente decênio. Obviamente, por mais vertiginosa que seja a destruição das florestas brasileiras nos próximos anos, a agricultura não terá se tornado de todo inviável em 2026. Mas teremos então uma perda e uma degradação florestal tão pronunciada – com seus impactos sobre os recursos hídricos, sobre o clima e, enfim, sobre a agricultura –, que será então muito difícil, talvez impossível, reverter o processo de degradação ambiental do país.
Luiz Marques é professor livre-docente do Departamento de História do IFCH /Unicamp. Pela editora da Unicamp, publicou Giorgio Vasari, Vida de Michelangelo (1568), 2011 e Capitalismo e Colapso ambiental, 2015, 3a edição, 2018. Coordena a coleção Palavra da Arte, dedicada às fontes da historiografia artística, e participa com outros colegas do coletivo Crisálida, Crises SocioAmbientais Labor Interdisciplinar Debate & Atualização
Texto publicado originalmente em ECO DEBATE
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