Em busca de combater as mazelas sociais que acometem a região mais paradoxalmente pobre do país, um grupo de técnicos e cientistas se reuniram para elaborar um plano para o estado do Amazonas liderar o futuro de ciência e tecnologia trazendo desenvolvimento mantendo a floresta em pé
Parte I – Componente 1: Polo Industrial de Manaus
No ano de 2017 os técnicos da Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento e de Ciência, Tecnologia e Inovação sobre a coordenação do Secretário Executivo elaboraram Plano Macro Estratégico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Amazonas.
É um trabalho minucioso lastreado nos princípios de que o sucesso do investimento em C,T&I está associado aos segmentos, socioeconômicos, apoio a inovação, ICTI’s e governos. Mas para isto, foi preciso saber o perfil dos segmentos na tentativa de responder as seguintes perguntas:
• Quais são os segmentos econômicos no Estado do Amazonas que já tenha familiaridade de mercado e seus níveis de competências tecnológica?
• Quais são as potencialidades de mercado nos municipios do estado do amazonas e seus grandes desafios?
• Qual é a competência das ICTI no Estado, o que produz de conhecimento e o perfil dos profissionais formados nestas Instituições?
• Quais são as grandes dificuldades para o desenvolvimento tecnológicos e inovação no Estado do Amazonas
Todos os técnicos de nível superior da Secretaria participaram no desenvolvimento do plano. É um trabalho extenso multidimensional que aborda aspectos socio-economico e ambiental do Interior do Estado.
O trabalho tem como objetivo promover o fortalecimento da economia do estado do Amazonas e reduzir as desigualdades socioeconômicas entre os municípios com o fortalecimento de bases técnicas e científicas geradas pelas inteligências locais. Sua missão é transformar o estado do Amazonas em referência de C,T&I, nos próximos 10 anos, na produção de inteligência e conhecimento sobre a utilização econômica, conservação e proteção dos seus recursos naturais para o desenvolvimento econômico e social justo e ambientalmente sustentável.
A estratégia do plano era desenvolver conhecimento técnico-científico para a criação e consolidação de ecossistemas de inovação por meio de programas de pesquisa e capacitação, de acordo com as vocações socioeconômicas locais, com vistas a apoiar iniciativas promissoras para o mercado local, nacional e internacional.
Infelizmente, por razões que não cabe aqui explicitado, o plano não foi implantado. No sentido de promover e homenagear todos os técnicos que participaram no desenvolvimento deste trabalho extenso, vou tentar reduzi-los em algumas páginas.
Estratégia de atuação do Plano
O plano é extenso embora seja ainda pequeno para o desafio de transformar conhecimento em nota fiscal, em vez de conhecimento em dinheiro, no estado do Amazonas. Os municipios do Amazonas passam ter a participação no PIB do Estado. A responsabilidade do plano é promover condições de reduzir as desigualdades socioeconômica entre os municipios do interior do Estado; isto se faz gerando trabalho e porque não dizer riqueza.
O plano faz uma rápida análise socioeconômica dos municípios (embora seja em 2017 não deve ter havido muitas diferenças) e verifica também o que o estado produz de conhecimento via as Instituições de Ensino e Pesquisas no Amazonas. E importante destacar que um dos mecanismos mais rápido para crescer a população de classe média é a educação. A presença de Universidade e Instituições de ensino e pesquisa transforma a cidade e aparecem oportunidades de novos negócios.
Em paralelo, discute-se rapidamente do potencial econômico que estado do amazonas dispõe e faz-se uma ligeira análise econômica de duas delas que apresentam uma impressionante taxa de retorno. Para melhor compreensão, ao final dos estudos foi elaborado o Mapa Estratégia do Plano (figura 1)
Para facilitar a leitura do plano ele deverá ser apresentado por partes assim descritas:
PARTE I – COMPONENTE 1: POLO INDUSTRIAL DE MANAUS
PARTE II -ÁREAS PRIORITÁRIAS: POTENCIALIDADES E DESAFIOS
PARTE III – COMPONENTE 2: INTERIORIZAÇÃO DA ECONOMIA COM DESCONCENTRAÇÃO DE C,T&I – EIXOS DE DESENVOLVIMENTO C,T&I
Componentes como vetores de desenvolvimento
O Plano é arrojado e inovador e parte do pressuposto que para o sucesso dessas iniciativas é necessário que o empreendedor seja o protagonista. Além disso, o Plano deve seguir a estratégia de trabalhar, no primeiro momento, com segmentos cujas iniciativas econômicas já tenham dinâmicas com indicadores de sucesso.
Neste propósito, torna-se relevante citar, ainda que resumidamente, alguns pontos importantes do processo: A estratégia de atuação deste plano deve ter como foco o fortalecimento do Polo Industrial de Manaus e a redução das desigualdades sociais e econômicas entre os municípios do Estado. Desta forma, prioriza-se o fortalecimento do PIM com a diversificação da economia que possam favorecer os municípios do interior com o aproveitamento dos recursos naturais e instalações de novos negócios com insumos verdes.
A transformação da economia atual para uma economia mais verde precisa fundamentalmente de suporte técnico e científico de setores de ensino, pesquisa e de apoio técnico nas atividades das indústrias e de serviços. A situação requer a transformação do “status quo” destes setores para uma postura mais arrojada da C,T&I focadas na diversificação da economia, e nas soluções de problemas da cadeia de produção de segmentos econômicos promissores, sempre utilizando-se de inteligências locais.
Desta forma, para alcançar os objetivos propostos por este plano e simplificar sua operacionalidade, estabeleceu-se atividades dentro de três componentes: 1) Ampliação e fortalecimento do Polo Industrial de Manaus; b) Interiorização da economia do Estado; e, 3) Ampliação, fortalecimento e melhoria da qualificação de programas de capacitação do Estado.
Fortalecimento do Polo Industrial de Manaus
Ciência, Tecnologia, Inovação e Informação são alicerces para construir e potencializar as competências locais necessárias para o desenvolvimento econômico, social e a conservação dos ativos naturais do Amazonas. Sem dúvida, o papel primordial neste esforço é o do Polo Industrial de Manaus (PIM), cuja criação exerceu importante papel na preservação dos bens naturais no Estado, que apresenta os melhores resultados de manutenção de sua Biodiversidade Amazônica na Amazônia Legal.
Os segmentos industriais do Estado do Amazonas tradicionalmente utilizam-se de experiências empíricas e de tecnologias exógenas para processos e produção de seus bens. Tais iniciativas apresentam resultados relativamente positivos nas empresas do PIM, pois na sua maioria produzem bens com alta densidade tecnológica cujos ajustes para a realidade do Estado são mínimos.
Presentemente o PIM tem sua atividade centrada em um número concentrado de segmentos econômicos, portanto, pouco diversificado, e em geral voltado ao mercado de consumo de bens duráveis não essenciais. Essa característica se revela uma fragilidade em momentos de crise, quando o consumo de bens não essenciais cai dramaticamente, em comparação a outros segmentos.
Além da crise econômica no país, é crescente a ameaça causada pela importação destes mesmos bens. O valor agregado dos produtos do PIM está em desvantagem em relação ao daqueles ofertados pela Ásia, seu maior concorrente, por questões de qualidade, tecnologia e nível de automação.
Commodities são o forte dos mercados asiáticos, e a indústria amazonense vem sofrendo fortemente com a sua perda de competitividade e novidade, mantendo-se hoje em um portfólio de produtos tradicionais, que já são oferecidos por valores muito inferiores por estes concorrentes.
Vocação – Competências instaladas na região metropolitana de Manaus
No ano de 2013, o governo do Estado do Amazonas por meio da Fundação de Amparo a Pesquisas contratou a Certi – Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras Campus Universitário da UFSC com o objetivo de identificar as áreas com potencial para fomento ao empreendedorismo inovador para o Programa Sinapse da Inovação da FAPEAM. Embora os dados sejam antigos, mas vale fazer algumas reflexões sobre eles.
Valor Adicionado Bruto (2012) dos municipios da região metropolitana de Manaus
Observe que praticamente não existe contribuição do setor de agropecuário na cidade de Manaus e percebe-se que a grande contribuição deste setor são realizados por Itacoatiara, Manacapuru, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva. Surpreende um pouco que serviços em Presidente Figueiredo (Turismo, por exemplo) não seja tão forte quanto de Novo Airão. Provavelmente pela distância de Manaus, os visitantes não precisam dormir em Presidente Figueiredo enquanto em Novo Airão é preciso dormir para visitar as Anavilhanas.
Número de empregos em função de segmentos econômicos:
Vale destacar que a contribuição ao mercado de trabalho do setor de fabricação de bebidas é insignificante enquanto construção civil e eletroeletrônico são os mais significantes.
O Certi também fez uma avaliação da contribuição de emprego para os municipios da zona metropolitana de Manaus sem contabilizar a capital. O resultado é apresentado na figura abaixo:
A extração de minerais não metálicos aqui considerados são pedra, área e argila e de fabricação de produtos de minerais não metálicos são cerâmicos, artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, gesso e materiais semelhantes. Pode-se verificar que o agronegócio é a maior fonte de renda nos municipios do entorno de Manaus. Se adotarmos a Matriz de Inovação proposto por Miremadi et al (2013) chegamos a conclusão de que os investimentos para inovação nos municipios do entorno de Manaus (zona metropolitana) devem ser priorizado o setor de agronegócio. Isto porque, o grau de familiaridade com o mercado do agronegócio é a mais alta entre os 3 segmentos estudados e é possível investir na tecnologia para ter a melhor familiaridade possível (fig 5).
Neste caso, observando a participação de emprego (figura 4), o valor adicionado Bruto (figura 3) e a matriz de classificação de inovação (figura 5) pode-se concluir que a expectativa de ter maior sucesso de inovação nos municipios da zona metropolitana menos a cidade de Manaus é no setor de agropecuária.
Vocação cidade de Manaus – competência instalada
É importante ressaltar que a CIRTE não utilizou a metodologia acima, mas usou uma estratégia bem interessante para definir a vocação econômica da cidade de Manaus. Dos aspectos importantes foram utilizados pela CIRTE, a participação de segmentos econômicos no PIB e na empregabilidade da cidade de Manaus. Desta forma chegou a seguinte conclusão (figura 6).
Diversificação do PIM
A busca por novos segmentos produtivos como alternativa àqueles que se encontram commoditizados, preferencialmente ainda não produzidos no país, deve ser intensificada deforma estruturada e consistente, por meio de pesquisa e inovação. Desta forma, são necessárias ações para diversificar o insumo e o produto ofertado, garantindo alta qualidade e baixo custo de produção por meio da utilização de tecnologias avançadas de automação.
Cabe aqui o esclarecimento do novo modelo de indústria ao qual o PIM deverá se adaptar, viabilizando a confluência das demandas de mercado e de suas vocações econômicas (Eletroeletrônico, Metalmecânico, Tecnologia de Informática e Comunicação, químico, conforme levantamento do Sinapse da Inovação de 2015) para o estabelecimento de uma indústria forte e cujo caráter de exclusividade diminui as forças exercidas pela pressão da indústria asiática.
Trata-se do uso intensivo de sistemas de produção inteligentes que tendem a surgir nos próximos anos, que carrega características tecnológicas avançadas, estritamente ligadas com o que somente o fortalecimento da CTI pode garantir, composta de dois paradigmas básicos: capacidade de operação em tempo real (a aquisição e tratamento de dados para decisões em tempo real) e virtualização (cópia virtual da planta fabril para a rastreabilidade e monitoramento de todos os processos). Utiliza-se, para tal, de diversos métodos tecnológicos avançados:
• Internet das coisas (Internet of Things – IoT) (conexão em rede dos elementos fabris para aquisição e troca de dados),
• Big Data Analytics (estruturas de dados complexas para a captura, análise e gerenciamento de informações),
• Cyber-Segurança (proteções tanto à qualidade do processo e pessoas quanto à possíveis invasões de segurança e hacking)
As iniciativas de incorporação tecnológica do PIM e seu fortalecimento proposta pela secretaria (na época) são:
a) Industria 4.0;
b) Insumo agroflorestais e minerais para produção;
c) Novos materiais.
Industria 4.0
Objetivo: Fortalecer as bases tecnológicas necessárias para o estabelecimento da manufatura de ponta exigida pela Indústria 4.0, garantindo competitividade e alta tecnologia para as empresas no Polo Industrial de Manaus.
Iniciativas:
• Celebrar acordos de Cooperação Técnico-Científica entre Estado, SUFRAMA e entidades representativas da indústria (como CIEAM e FIAM), com o objetivo de promover o desenvolvimento do paradigma tecnológico da Indústria 4.0;
• Estruturar instituições de Ensino e Pesquisa do Estado para habilitá-las a prestar serviços tecnológicos nas áreas demandadas pela Indústria 4.0;
• Workshop sobre o tema com a Academia e Indústria para identificar o potencial de transformação da indústria, gargalos e ações que a União, Estado e setores privados possam desenvolver para este novo patamar de industrialização;
• Promover Mestrados Profissionais, que ampliem as áreas de domínio tecnológico do pessoal técnico das indústrias, preparando-os para o rápido acolhimento e uso de novas tecnologias;
• O Estado, através da SEPLANCTI e FAPEAM, inicia uma ação para capacitar profissionais em diferentes níveis de atuação, com ênfase em:
• IoT (Internet Of Things/Das Coisas), em sensoriamento remoto, telecomunicações;
• Estruturação e análise de grandes massas de dados (Big Data);
• Segurança da Informação e confiabilidade de processos automáticos;
• Manutenção Preventiva, preditiva e previsão de Spare Parts.
• Incentivar a capacitação de pessoal técnico operacional das indústrias e prestadores de serviços tecnológicos para manutenção e retrofit/reforma de equipamentos com tecnologia de ponta, a fim de regionalizar serviços nestas máquinas, diminuindo a dependência de pessoal especializado externo, em parceria com SENAI, CETAM, IFAM, e outros Institutos de Ensino tecnológico.
Insumos Agroflorestais e Minerais para produção no PIM
Objetivo: Criar e construir protótipos de produção e design para processos produtivos em larga escala com utilização de insumos da biodiversidade de origem agroflorestal e mineral, e que tenham funcionalidades e aplicações comerciais imediatas, adaptados à utilização das tecnologias industriais já existentes no Polo Industrial de Manaus.
Iniciativas:
• Desenvolvimento de metodologias produtivas em larga escala para a produção de compósitos, polímeros, e outros materiais que se utilizem de insumos derivados da biodiversidade amazônica e de suas reservas minerais, de comprovada funcionalidade e aplicação comercial;
• Aditivos agroflorestais e minerais para melhorar/incrementar a performance dos produtos diversos (cor, textura, odor, resistência mecânica/UV/térmica, aplicações funcionais diversas);
• Compósitos e polímeros com materiais amazônicos (óleos, essências, corantes, fibras).
Novos Materiais
Objetivo: Desenvolver produtos e processos produtivos que incorporem novos materiais para a aplicação industrial nas áreas de bioprodutos, bioeletrônica e biossensores, materiais cerâmicos e poliméricos com insumos regionais, grafeno/polimorfismos de silício e respetivas aplicações, adequados à produção no Polo Industrial de Manaus.
Iniciativas:
• Desenvolvimento de metodologias produtivas em larga escala de produtos que incorporem novos materiais, metamateriais, compósitos, polímeros, e outros como um elemento de densificação tecnológica de produtos do Polo Industrial de Manaus
• Pesquisa de aplicações e desenvolvimento de metodologias produtivas em larga escala para a obtenção de Grafeno ou polimorfismos de Silício como insumo industrial.
Conclusão:
A academia do Estado do Amazonas, embora de maneira subliminar, sempre fez crítica ao PIM como se fosse um apêndice que deu certo na economia local. Os investimentos da ciência e tecnologia pela Academia são focados, na maioria das vezes, para produtos e serviços do Amazonas. Iniciativa louvável mas, afastou-se um pouco do PIM o que provocou um “déficit” de técnicos qualificados fazendo com que a empresas do Polo industrial desse prioridade de emprego para profissionais formados fora do Estado do Amazonas.
No entanto, nos últimos dez anos as empresas do PIM iniciaram a desenvolver uma série de atividades de pesquisa em TI associadas com a Universidade do Estado do Amazonas e a Universidade Federal do Estado do Amazonas.
Os resultados são extremamente favoráveis como se percebe com o curso de pós graduação de TI da UFAM sendo um dos melhores do Brasil. Ademais, pode-se ver na Escola Superior de Tecnologia da UEA uma quantidade significativa de edificações feitas pelas empresas para pesquisas na área de TI. E os resultados estão ai expostos; muitos dos aplicativos que se utilizam no celular de uma das maiores industrias daqui foram produzidos no Amazonas. Além disso, é bom salientar com orgulho de que o aplicativo de procura utilizado pelas livrarias, mercado livro e outras empresas foi produzido por um professor com um grupo de alunos da UFAM.
No entanto, ações voltadas para insumos agroflorestais e minerais para produção no PIM são incipientes e com poucos resultados positivos. Há relatos de que estão testando óleo derivado de um determinado fruto na indústria de plástico pois oferece maior resistência aos raios ultravioletas no produto.
Estevão Monteiro de Paula é engenheiro civil, mestre em Engenharia de Estruturas e Ph.D pela Universidade do Tennessee, coordenador de pesquisas do INPA e professor titular da Universidade do Estado do Amazonas
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