Avestruz-norte-africano retoma seu espetáculo nas dunas do Saara
Em meio ao vasto Deserto do Saara, uma cena inusitada e majestosa desenrola-se mais uma vez: o avestruz-norte-africano dança, ostentando suas penas pretas e brancas junto ao seu pescoço rosáceo. Sua dança é uma fusão harmoniosa com a natureza, onde cada movimento levanta uma cortina de areia que se integra à performance.
Por quase três décadas, essa visão deslumbrante se tornou rara no norte do Chade. Mas, graças a uma iniciativa de reintrodução, o “dançarino do deserto” faz sua reentrada triunfal nas paisagens desérticas do país africano.
O Chade, situado no centro-norte da África, possui uma extensão territorial de pouco mais de 1,2 milhão de km², com cerca de um terço coberto pelas areias do Deserto do Saara. Dentre os tesouros do país está a Reserva Natural e Cultural Ennedi, um vasto território de mais de 50 mil km², que agora serve como palco para o retorno do avestruz-norte-africano (Struthio camelus camelus).
Esta subespécie do avestruz comum tinha uma distribuição que abrangia o Sahel, a faixa semiárida que marca a transição entre o deserto e as savanas tropicais. Infelizmente, a caça, os conflitos armados e a demanda por suas penas levaram à sua quase extinção regional.
“Atualmente, a espécie subsiste em fragmentos isolados. Em sua maioria, são pequenas populações cuja sobrevivência a longo prazo está em xeque, tanto pelo número limitado de indivíduos quanto pela falta de proteção territorial”, informa Elsa Bussiere, gerente regional de conservação da African Parks. O Parque Nacional Zakouma, situado no sul do Chade, é atualmente o maior santuário desta subespécie.
A reintrodução no norte do Chade é mais do que um triunfo para os conservacionistas. Representa esperança e renovação para uma espécie que, apesar de todas as adversidades, insiste em dançar nas vastidões do Saara. Em parceria com governos locais, a African Parks atualmente gerencia mais de 20 áreas protegidas na África, trabalhando incansavelmente para garantir que os dançarinos do deserto, e muitas outras espécies, tenham uma chance de prosperar.
Uma história de extinção e renovação nas vastidões do deserto Saara
As vastas extensões do deserto do Saara no norte do Chade já foram o lar de avestruzes dançantes que, com suas longas pernas e movimentos graciosos, adornavam as paisagens áridas. No entanto, a caça indiscriminada, exacerbada pela introdução de armas de fogo e veículos motorizados, empurrou esses majestosos animais à beira da extinção na região.
Os conflitos não ajudaram, particularmente a guerra de quase uma década com a Líbia entre 1978 e 1987. Esta guerra foi devastadora para a fauna local, dizimando ou reduzindo significativamente as populações de muitos animais. Relatos locais sugerem que os últimos avestruzes da região desapareceram no início dos anos 90.
Mas, como a fênix, os avestruzes estão ressurgindo das cinzas, graças à organização African Parks. Ela gerencia várias reservas no Chade, incluindo o Parque Nacional Zakouma e a Reserva de Vida Selvagem Siniaka Minia no sul, e a Reserva Natural e Cultural Ennedi no norte. E foi de Zakouma que eles iniciaram um ambicioso projeto de reintrodução.
“Ter uma segunda população no norte é vital”, destaca uma ecóloga envolvida no projeto. O trabalho focou em filhotes, considerados mais manejáveis. Através de missões aéreas durante a época reprodutiva, equipes identificaram e marcaram ninhadas adequadas para captura. A estratégia foi direta: separar os filhotes dos pais mais rápidos e capturá-los. Todos os filhotes identificados foram pegos, dada a baixa probabilidade de sobrevivência isolados.
Um aspecto intrigante do comportamento do avestruz garante diversidade genética: muitos ninhos contêm filhotes de diferentes pais. Uma fêmea pode incubá-los, mas muitas vezes permitirá que outras fêmeas depositem ovos no mesmo ninho. Essa gestão compartilhada resulta em ninhos com até 20 ovos.
Dos 63 filhotes capturados em dois anos, 32 foram destinados à Reserva de Ennedi. Transportados de avião e depois por terra, enfrentando desafios como o frio intenso do deserto e a necessidade de aclimatação, os jovens avestruzes foram cuidadosamente reintroduzidos.
A esperança voltou a brilhar em Ennedi com a soltura dos primeiros grupos em 2020 e mais no ano seguinte. Das 63 aves iniciais, 51 sobreviveram, um testemunho da dedicação e esforço colocados nesse notável projeto de conservação.
Hoje, graças a essa iniciativa, a dança dos avestruzes volta a adornar as areias do norte do Chade, simbolizando não apenas a resiliência da natureza, mas também a tenacidade humana em retificar os erros do passado.
Esta narrativa traz informações preciosas sobre os esforços de conservação do avestruz-norte-africano no Chade. A história combina elementos de ciência, história, ecologia, interações humanas e desafios de conservação, o que torna uma leitura rica e diversificada.
Aqui estão alguns pontos a considerar e reflexões baseadas na narrativa:
- Impacto da Guerra: A guerra entre Chade e Líbia teve repercussões duradouras no ecossistema local, resultando no desaparecimento ou redução drástica de várias espécies, incluindo o avestruz. Este é um exemplo real de como os conflitos humanos podem ter impactos devastadores na biodiversidade.
- Importância da Diversidade Genética: O fato de que os avestruzes têm uma peculiaridade comportamental onde diferentes aves colocam ovos no mesmo ninho garante uma mistura genética, que é crucial para a saúde e viabilidade da população reintroduzida.
- Surpresas na Reintrodução: A reprodução precoce dos avestruzes foi um acontecimento inesperado, mostrando como a natureza pode às vezes surpreender os cientistas e conservacionistas. Tais eventos podem oferecer esperança quando os esforços de conservação enfrentam desafios.
- Envolvimento da Comunidade: A reintrodução bem-sucedida de qualquer espécie em um habitat muitas vezes depende do apoio e envolvimento da comunidade local. No caso dos avestruzes no Chade, o apoio da comunidade foi evidente, mas ainda assim há desafios, como a caça potencial.
- Educação e Emprego: Envolver a comunidade local no projeto e empregá-los na reserva não só ajuda a criar um sentimento de propriedade e responsabilidade, mas também fornece uma fonte de renda para os moradores locais. Isto pode ajudar a dissuadir práticas prejudiciais, como a caça ilegal.
- Reintrodução de Outras Espécies: O esforço para reintroduzir o avestruz é apenas uma parte de uma iniciativa maior para restaurar a fauna local. A menção de reintroduzir antílopes adax e órix-de-cimitarra mostra o compromisso do Chade em revitalizar seus ecossistemas naturais.
Em resumo, o retorno dos avestruzes-norte-africanos ao norte do Chade é uma história inspiradora de perseverança, ciência e cooperação entre organizações de conservação, governos e comunidades locais. É um testemunho do que pode ser alcançado quando diferentes grupos trabalham juntos para um objetivo comum.
*Com informações O ECO
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