Um novo estudo destaca o potencial do agroextrativismo de castanhas, em particular a castanha-da-amazônia (também conhecida como castanha-do-pará), como um serviço ambiental valioso que pode ser compensado com investimentos em infraestrutura nas comunidades que dependem dessas florestas. O trabalho ressalta que o cultivo das castanhas não só contribui para a renovação dos castanhais, mas também oferece oportunidades para melhorar a qualidade de vida nas áreas circundantes.
A pesquisa demonstrou que o agroextrativismo das castanhas desempenha um papel crucial na regeneração e no crescimento das castanheiras. As áreas de cultivo foram observadas para terem taxas de regeneração e crescimento significativamente maiores em comparação com as áreas da floresta que não têm essa atividade. Isso sugere que o manejo adequado das castanheiras pode não apenas fornecer um suprimento sustentável de nozes, mas também ajudar a preservar e regenerar as próprias árvores.
No entanto, os cientistas ressaltam que o sucesso desse modelo depende de um manejo adequado, incluindo a observação do período de pousio das áreas trabalhadas. O cultivo excessivo ou o uso inadequado da terra podem ter efeitos prejudiciais.
Um ponto importante destacado pelo estudo é a possibilidade de compensar os serviços ambientais prestados pelos agroextrativistas de castanhas não apenas com recursos financeiros, mas também com investimentos em infraestrutura essencial. Em muitas comunidades que dependem dessas florestas, mesmo após décadas de esforços de desenvolvimento sustentável, as condições básicas de infraestrutura, como energia, transporte, comunicação e saneamento, ainda são deficientes.
Esse modelo de compensação oferece uma abordagem inovadora para apoiar as comunidades locais e promover a conservação ambiental. Em vez de simplesmente fornecer recursos financeiros, os investimentos em infraestrutura podem atender às necessidades fundamentais das populações locais, melhorando sua qualidade de vida e incentivando práticas sustentáveis de uso da terra.
O estudo foi publicado como parte de uma coleção de livros sobre castanha-da-amazônia, lançada pela Embrapa, e destaca a importância de reconhecer e valorizar os serviços ecossistêmicos e ambientais prestados pelas comunidades agroextrativistas na Amazônia. Essa abordagem integrada pode desempenhar um papel fundamental na promoção da conservação florestal e no desenvolvimento sustentável das regiões amazônicas.
Agroextrativismo de castanhas na Amazônia: um serviço ambiental essencial
Os autores do estudo, intitulado “Serviços ecossistêmicos da floresta com castanheiras e serviços ambientais prestados pelos agroextrativistas – manejadores e guardiões da floresta em pé”, enfatizam que o agroextrativismo de castanhas é um serviço ambiental valioso que contribui para a renovação dos castanhais na região amazônica.
As pesquisas, realizadas na Reserva Extrativista do Rio Cajari, no sul do Amapá, e em outros locais da Amazônia, revelaram que a regeneração e o crescimento das castanheiras são mais expressivos em áreas de cultivo e em capoeiras abandonadas na agricultura itinerante em comparação com áreas de floresta não explorada.
As pequenas clareiras abertas pela agricultura itinerante proporcionam um ambiente favorável para a colonização das castanheiras e a formação natural de novos castanhais após o período de pousio das áreas. No entanto, os pesquisadores destacam a importância de respeitar os períodos adequados de pousio para permitir a recuperação da biomassa e do carbono liberado durante a abertura das áreas, além de controlar o uso do fogo nas áreas preparadas para plantio.
O estudo também enfatiza que o modo de vida agroextrativista, especialmente quando combinado com tecnologias socioprodutivas de manejo integrado, pode ser considerado um serviço ambiental significativo que contribui para a preservação das castanheiras e a manutenção da floresta.
Conforme a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), os serviços ecossistêmicos são contribuições diretas e indiretas da natureza para o bem-estar humano, que incluem alimentos, água doce, regulação do clima e polinização, entre outros. Os serviços ambientais são um subconjunto desses serviços ecossistêmicos, gerados como externalidades positivas de atividades humanas.
Portanto, os agroextrativistas que vivem, protegem e coletam produtos na floresta de castanheiras são considerados guardiões da floresta em pé e prestam serviços ambientais essenciais à comunidade e à conservação do ecossistema amazônico. A pesquisa destaca a importância de reconhecer e valorizar esses serviços ambientais, oferecendo oportunidades para compensação e apoio às comunidades que desempenham um papel vital na preservação da floresta tropical.
Agroextrativistas da castanha: guardiões da floresta e servidores ambientais na Amazônia
Além de serem conhecidos por seu importante papel na produção de castanha-da-amazônia, os agroextrativistas da Amazônia desempenham um papel crucial na criação e na gestão de Unidades de Conservação de Uso Sustentável (UCs). O estudo, parte do Volume I da coleção de livros digital “Castanha-da-amazônia: estudos sobre a espécie e sua cadeia de valor”, lançada pela Embrapa em julho de 2023, destaca que essas comunidades desempenham um papel fundamental na proteção de vastas áreas de florestas na Amazônia.
No Amapá, por exemplo, os castanheiros desempenharam um papel fundamental na criação de um mosaico de UCs de uso sustentável, abrangendo cerca de 2 milhões de hectares de florestas protegidas. Este território sustentável emprega um grande contingente de agroextrativistas na atividade de coleta e comercialização da castanha-da-amazônia, proporcionando um meio de subsistência para aproximadamente 4 mil famílias. A pesquisa destaca a importância dessas áreas de extração não apenas para a conservação ambiental, mas também para a melhoria das condições de vida das comunidades.
A castanha-da-amazônia desempenha um papel vital na provisão alimentar e é considerada um “superalimento” devido às suas altas concentrações de compostos lipídicos, proteicos e elementos antioxidantes como o selênio. Além de servir como fonte de renda e segurança alimentar para populações tradicionais, incluindo comunidades indígenas, a castanha também desempenha um importante papel na preservação da cultura das comunidades extrativistas, sendo uma atividade transmitida de geração em geração.
O estudo também destaca que as castanheiras desempenham um papel crucial na manutenção da diversidade biológica, na conservação do solo e da água, além de fornecerem serviços culturais, como regulação climática e biológica da fauna. As castanheiras também atraem polinizadores importantes, como as mamangavas (grandes abelhas nativas), que têm relações ecológicas específicas com as castanheiras.
A pesquisadora Kátia Emídio, da Embrapa Amazônia Ocidental, ressalta que o manejo sustentável dos castanhais nativos deve ser valorizado não apenas pela produção de castanhas, mas também pela prestação de serviços ambientais, como a atração de polinizadores e a promoção da biodiversidade na região. O uso dos castanhais favorece a dinâmica florestal de espécies associadas, destacando a importância do manejo sustentável dessas áreas.
Em resumo, os agroextrativistas da castanha-da-amazônia não apenas desempenham um papel vital na produção de alimentos e na preservação da cultura local, mas também atuam como guardiões da floresta em pé, contribuindo para a conservação de vastas áreas de floresta amazônica e a promoção de serviços ambientais essenciais para a região.
Autores
Os autores do artigo Serviços ecossistêmicos da floresta com castanheiras e serviços ambientais são os pesqusadores Marcelino Carneiro Guedes, da Embrapa Amapá; Patrícia da Costa, da Embrapa Meio Ambiente; Carolina Volkmer de Castilho, da Embrapa Roraima; Richardson Ferreira Frazão, da Universidade Federal do Amapá; Sérgio G. Milheiras; e Walter Paixão de Sousa, da Embrapa Amapá.
*Com informações EMBRAPA
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