Novo estudo de cientistas brasileiros detalhe o impacto das mudanças climáticas na biodiversidade
Paisagens que fogem das visões convencionais de diversidade biológica guardam informações valiosas sobre a vida na Terra. Exemplo disso são os ecossistemas rupestres, como os campos rupestres da Chapada Diamantina, as cangas da Serra dos Carajás e os campos de altitude na Serra Geral, que se desenvolvem em condições consideradas extremas. Pesquisadores do Instituto de Biociências da USP, Instituto Tecnológico Vale e University of Tartu, na Estônia, exploram a diversidade evolutiva dessas vegetações e os impactos das mudanças climáticas.
A diversidade evolutiva ou filogenética é uma medida de biodiversidade baseada nas relações evolutivas entre um grupo de espécies. “Não há tanta informação disponível sobre biomas rupestres. Quando surgiu a oportunidade de estudar esse tema, achei interessante entender a diversidade evolutiva das plantas e sua relação com o clima”, relata Johnny Massante, pós-doutorando no IB, ao Jornal da USP.
Correlações foram testadas para verificar o impacto das mudanças climáticas nos índices de diversidade. Embora a flora dessas áreas compartilhe características importantes para sobrevivência nesses ambientes, as alterações climáticas permitem a entrada de espécies de outras vegetações com diferentes aspectos.
O Perigo da invasão biológica
“Isso pode levar a problemas como invasão biológica. Se espécies que ocorrem naturalmente fora desses ambientes encontram condições para se estabelecer e formar populações viáveis, as espécies locais podem ter suas populações reduzidas. Outras espécies estão competindo pelos mesmos recursos e nutrientes e as condições climáticas já não são mais ideais para sua manutenção”, alerta Massante. A extinção de espécies endêmicas, aquelas próprias dessas áreas com características de sobrevivência específicas, é uma ameaça real.
O estudo de quase 6 mil espécies
Quase 6 mil espécies vegetais lenhosas e ervas de 129 localidades de paisagens antigas, climaticamente estáveis e com solos inférteis foram consideradas. Áreas de campos rupestres, campos de altitude, cangas e inselbergues foram analisadas, e dados de variação de temperatura e precipitação foram levados em consideração. Os resultados sugerem que, em ecossistemas rupestres, a vegetação não possui uma grande idade e diversidade evolutivas, e que as espécies possuem um alto grau de parentesco.
O Foco em biomas rupestres
Os biomas rupestres são conhecidos por sua flora marcante: árvores com folhas pequenas, espessas e quebradiças. Estas são adaptações que auxiliam as plantas a sobreviver em um ambiente onde nutrientes e água são escassos. De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), há uma probabilidade de 66% de a média anual de aquecimento ultrapassar o limite de 1,5°C nos próximos cinco anos. Diante deste cenário preocupante, Massante enfatiza a necessidade de estudos para traçar estratégias de conservação e restauração.
“A quantidade de estudos nessas regiões é comparativamente menor do que comparada às florestas. No entanto, as vegetações rupestres são cruciais, comparáveis em importância com as florestas. Sua diversidade extraordinária de plantas desempenha funções essenciais nos ecossistemas, como a preservação de rios”, ressalta o pesquisador.
Os resultados do estudo foram publicados no artigo “Looking similar but all different: Phylogenetic signature of Brazilian rocky outcrops and the influence of temperature variability on their phylogenetic structure”, na revista Journal of Ecology.
Com informações do Jornal da USP
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