Para além da pobreza, a ciência passa a analisar gargalos no caminho que o alimento faz do cultivo até a mesa do consumidor
Embora o Brasil seja o terceiro maior produtor de alimentos do mundo – de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) –, 125,2 milhões de brasileiros, ou mais da metade da população, enfrentam algum nível de insegurança alimentar.
Por Revista FAPESP
Pesquisas em diferentes campos do conhecimento propõem que, para resolver esse paradoxo, é preciso analisar gargalos em sistemas alimentares, que abarcam a trajetória do cultivo até a mesa do consumidor, além de passar a considerar os impactos da crise climática nesse cenário. O assunto foi detalhado na reportagem de capa de Pesquisa FAPESP no mês de junho.
A edição também trata de como a crise climática impacta a produção de alimentos do país. O texto chama a atenção para a necessidade de investir em pesquisas e no desenvolvimento de tecnologias para tornar culturas como arroz, feijão e mandioca mais resistentes à seca e a temperaturas elevadas.
Na seção dedicada a entrevistas, o novo diretor científico da FAPESP, Marcio de Castro Silva Filho, expõe sua visão sobre a ciência e o futuro da Fundação, além de contar detalhes de sua carreira como geneticista de plantas. Nascido em Belo Horizonte (MG), ele cursou engenharia agronômica na Escola Superior de Agricultura de Lavras, hoje Universidade Federal de Lavras (Ufla).
Pesquisas pioneiras feitas no Brasil, como as do médico pernambucano Josué de Castro (1908-1973), estabeleciam relações diretas entre fome e pobreza, explica o economista Marcelo Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS-FGV). “Nos últimos anos, estudos passaram a indicar que a erradicação da pobreza monetária é condição necessária, mas não suficiente, para reduzir a insegurança alimentar no Brasil”, afirma.
Em 2021, o contingente de pessoas pobres, ou seja, com renda domiciliar per capita de até R$ 497 mensais, atingiu 62,9 milhões de brasileiros, cerca de 29,6% da população total do país, conforme o Mapa da Nova Pobreza, publicado pela FGV no ano passado.
Em 2022, o país registrou diminuição nesse contingente, retornando a patamares de 2020, de cerca de 53 milhões de pessoas nessa faixa de renda. Desde 2020, o governo federal multiplicou por três os benefícios pagos pelo Bolsa Família/Auxílio Brasil e aumentou a quantidade de pessoas contempladas pela iniciativa de 14 milhões para 21 milhões. Apesar disso, no mesmo recorte temporal, a insegurança alimentar caiu de 36% para 34%, queda considerada pequena.
“É surpreendente notar que, durante a pandemia, houve um descolamento entre medidas para reduzir a pobreza monetária e a insegurança alimentar”, destaca.
No estágio que viria a fazer na Embrapa Milho e Sorgo, definiu como sua especialidade a genética de plantas, que aprofundou no doutorado na Bélgica e nas pesquisas realizadas na Universidade de São Paulo (USP). Entre outros temas, trabalha com a interação planta-inseto da cana-de-açúcar.
O pesquisador mostrou também, em colaboração com um grupo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que a informação biológica e a informação digital têm uma mesma estrutura matemática. Quando foi definido como diretor científico da FAPESP, era pró-reitor de Pós-Graduação da USP.
O lançamento de um guia com orientações sobre o uso de animais em experimentos científicos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) é outro assunto da edição. Com 1,1 mil páginas, e 120 autores, o manual levou uma década para ser produzido.
A revista também traz reportagens sobre: a exploração comercial do espaço com nanossatélites por empresas brasileiras; a pequena quantidade de tomate presente em marcas de ketchup; a taxa variável de reincidência criminal pelo Brasil; e o teorema que desafia matemáticos há quase cem anos.
Todo o conteúdo pode ser acessado gratuitamente em: https://mailchi.mp/fapesp/para-nao-faltar-arroz-e-feijao.
Este texto foi originalmente publicado por Revista FAPESP
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