O bioma Amazônico, em constante ameaça por degradação, pode ter encontrado um aliado de peso para a recuperação de seus solos: a castanheira-da-amazônia. Pesquisas recentes revelaram que a espécie não apenas se adapta bem a solos previamente degradados, mas também contribui significativamente para sua restauração.
Em um levantamento recente, foi descoberto que cerca de 3 mil hectares de pastos degradados foram transformados em prósperos plantios de castanheiras no Amazonas. A castanheira demonstrou uma estratégia fisiológica plenamente adaptada a esses solos, surpreendendo com sua capacidade de crescimento.
Em termos de restauração de solos, estudos da Embrapa constataram que a capacidade de recuperação de solos sob plantios de castanheira é comparável à de uma floresta natural, especialmente em relação à respiração do solo, um conjunto de fenômenos bioquímicos cruciais para a saúde do solo.
Os estudos estão sendo realizados em cultivos de castanheiras implantados em áreas que antes eram pastagens degradadas no estado do Amazonas
Para potencializar ainda mais essa recuperação, técnicas silviculturais estão sendo aplicadas. Estas permitiram uma germinação mais rápida das sementes e anteciparam o período de produção de frutos. Entretanto, os cientistas advertem sobre a importância de manter faixas de mata nativa entre as áreas cultivadas, uma estratégia que favorece a presença de polinizadores essenciais para a propagação da espécie.
Outro ponto alto dos estudos é o potencial econômico e sustentável que os plantios de castanheira podem trazer para a região. Além de ajudar na preservação do ecossistema, esses cultivos têm a capacidade de gerar empregos e proporcionar renda para as comunidades locais, além de fomentar a geração de serviços ambientais.
Roberval Lima, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, enfatiza a resiliência e adaptabilidade da castanheira a esses solos. Segundo ele, a qualidade do solo em plantios de castanheira é 50% superior à das áreas de pastagem degradadas.
Ao avaliar a emissão de gases a partir do solo em diferentes ecossistemas, foi descoberto que os plantios de castanheira exibem características próximas às de uma floresta natural. Isso reforça a ideia de que essa espécie não apenas cresce vigorosamente em solos degradados, mas também contribui significativamente para sua restauração.
Com mais de 5 milhões de hectares de solos degradados na Amazônia, a castanheira surge como um promissor agente de mudança. Os resultados atuais apenas reiteram a necessidade de integrar pesquisa, conservação e desenvolvimento sustentável para garantir um futuro mais verde e próspero para a região.
De pasto degradado a plantio recordista: a história da castanheira na fazenda Aruanã
Em meio à selva amazônica, um brilho de esperança ressurge nas vastas extensões de terra que outrora abrigavam pastagens degradadas. Hoje, essas terras ostentam o título do maior plantio de castanheiras do mundo.
Na Fazenda Aruanã, em Itacoatiara, Amazonas, uma transformação notável ocorreu em seus 12 mil hectares. Dos quais, 3 mil foram transformados de pastagens improdutivas em um vasto plantio de castanheiras, totalizando impressionantes 1,3 milhão de árvores.
O caminho para essa transformação remonta à década de 1970. Empreendedores de São Paulo, atraídos por incentivos fiscais, migraram para a Amazônia em busca de oportunidades agropecuárias. No entanto, com o tempo, eles perceberam que suas pastagens estavam em declínio. Seguindo conselhos de técnicos, iniciaram o plantio de castanha-do-brasil, gerando uma onda de mudanças
Roberval Lima, pesquisador que estuda a Fazenda Aruanã desde a década de 1990, observou de perto essa evolução. “O que vemos hoje é uma região completamente restaurada através de uma espécie florestal, que não só regenera o solo mas também atrai a fauna local”, comenta Lima sobre os múltiplos benefícios do projeto.
Por outro lado, a demanda global pela amêndoa da castanha-da-amazônia tem crescido exponencialmente. O Brasil, como o principal produtor mundial, com 33 mil toneladas anuais, enfrenta desafios. Mais de 95% da produção nacional provém do extrativismo, um método que logo atingirá sua capacidade máxima.
Diante deste cenário, a ciência emerge como solução. De acordo com Lima, a expansão da produção de amêndoas de castanha pode ser alcançada através do cultivo. E é aqui que a Fazenda Aruanã se destaca novamente. Utilizando técnicas silviculturais avançadas, o tempo de germinação da semente foi drasticamente reduzido de 18 para 6 meses. Além disso, com a enxertia e uso de clones precoces, a produção de frutos é acelerada, com uma frutificação de mais de 80% em cerca de 15 anos.
No entanto, para garantir essa produção frutífera, a polinização é vital. Lima ressalta a importância das faixas de mata nativa entre os cultivos para incentivar os polinizadores. Na Fazenda Aruanã, essas faixas de 500 metros são um testemunho da harmonia entre a produção agrícola e a preservação ambiental.
Assim, a Fazenda Aruanã não é apenas uma história de sucesso agrícola, mas também uma lição sobre a coexistência sustentável e a capacidade de renovação da natureza quando dada uma chance.
*Com informações EMBRAPA
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