Após relatório assustador revelado pelo ministério islandês, a medida de suspensão das caça às baleias foi adotada
O governo da Islândia tomou uma decisão surpreendente ao suspender a temporada de caça a baleias deste ano, um dia antes de seu início. A medida foi anunciada em um comunicado divulgado pelo Ministério da Alimentação, Pesca e Agricultura do país nórdico. A caça de baleias-comuns ficará proibida temporariamente até o dia 31 de agosto, enquanto são avaliadas as possibilidades de estabelecer regras que garantam o cumprimento dos padrões mínimos de bem-estar animal estabelecidos na Lei de Bem-Estar Animal. A temporada de caça se estenderia até meados de setembro.
O motivo para essa decisão surgiu após a publicação de um relatório perturbador da Autoridade de Alimentação e Veterinária da Islândia. O relatório revelou que mais de 40% das 148 baleias mortas durante a temporada do ano passado sofreram uma morte lenta e dolorosa. O tempo médio de sobrevida dessas baleias após serem atingidas por um arpão carregado de explosivos foi de apenas 11,5 minutos, podendo chegar a até duas horas em um caso específico. O governo, diante dessa constatação alarmante, reuniu um conselho de especialistas em bem-estar animal que concluiu que a caça estava sendo realizada em desacordo com os parâmetros legais.
A ministra da Alimentação, Pesca e Agricultura, Svandís Svavarsdóttir, do partido Movimento de Esquerda Verde, questionou a continuidade dessa prática após as conclusões do relatório. Em seu comunicado, ela afirmou: “As condições da Lei de Bem-Estar Animal são obrigatórias. Essa atividade não pode continuar no futuro se as autoridades e os licenciados não podem garantir o cumprimento dos requisitos de bem-estar”.
Tradição em declínio
A caça de baleias é uma tradição na Islândia há pelo menos 900 anos e o país é um dos últimos três, juntamente com a Noruega e o Japão, a permitir a caça comercial desses animais. No entanto, em meio a décadas de críticas crescentes de grupos ambientalistas, essa prática tem entrado em declínio e já estava programada para ser encerrada a partir de 2024, devido à queda na demanda. O Japão é o principal mercado consumidor da carne de baleia islandesa e, curiosamente, o país também retomou suas próprias caçadas em 2019.
Atualmente, há apenas uma empresa dedicada à caça de baleias na Islândia, chamada Hvalur, cuja licença expira este ano. Segundo a Al-Jazeera, ainda há incertezas sobre se a empresa realizará sua última caçada, já que restam poucos dias de temporada, caso a suspensão não seja prorrogada ou tornada definitiva.
A ilha gelada entre a Groenlândia e a Escandinávia já interrompeu a caça de baleias em 1986, durante uma suspensão global dessa prática. No entanto, em 2006, após 20 anos, o país retomou a caça, justificando-a como “essencial para a economia“. Outra interrupção ocorreu em 2019, ano em que o Japão retomou suas próprias caçadas, quando a empresa Hvalur não conseguiu firmar acordos de venda para o país asiático e optou por não ir ao mar. A interrupção durou até a temporada de 2022, a qual foi objeto do relatório que inspirou a atual suspensão da atividade, provavelmente a última vez que a caça foi realizada no país.
Turismo em vez de caça
Nos últimos tempos, a economia islandesa tem se beneficiado das baleias de outra forma: o turismo. Apenas em 2019, ano sem caçadas, 364 mil turistas visitaram o país para realizar passeios de observação desses animais magníficos. Em 2022, com o retorno do fluxo de turistas, mas também da caça às baleias, os membros do setor turístico local criticaram fortemente a prática, alegando danos à imagem do país e possíveis repercussões junto aos visitantes em potencial.
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