As conversas recentes entre os governos de Brasil e Argentina para impulsionar a exploração de gás de xisto nas reservas de Vaca Muerta, na Patagônia, causaram incômodo à principal exportadora de gás natural do continente sul-americano, a Bolívia.
Um dos argumentos levantados pelo lado brasileiro é de que existe um temor quanto à continuidade das vendas de gás boliviano, ameaçadas pela falta de investimentos da estatal YPFB e de manutenção do gasoduto que transporta o combustível para os mercados consumidores no Brasil. Isso é contestado pela empresa boliviana, que ressalta seus planos de investimentos de mais de US$ 320 milhões neste ano.
“Afirmar que estamos ficando sem gás é uma avaliação incorreta. Embora haja um declínio natural na produção, que se iniciou em 2015 e 2016, esta situação está se revertendo com a perfuração de novos poços”, afirmou o presidente da YPFB, Armin Dorgathen, citado pela epbr.
Ainda assim, as garantias dadas pela Bolívia não trouxeram conforto ao governo brasileiro. Como assinalado pelo Valor, o temor de uma queda no fornecimento de gás boliviano é um dos fatores por trás da aproximação com a Argentina no projeto de Vaca Muerta. Da mesma forma, dentro do mercado brasileiro, a Petrobras também vem se movimentando para acelerar a conclusão da Rota 3 do gasoduto do pré-sal.
Por falar no gás do pré-sal, especialistas vêm sinalizando o risco de que, com os investimentos brasileiros em Vaca Muerta, a exploração do combustível produzido nos poços do pré-sal na costa brasileira possa ficar inviabilizada. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, refutou essa hipótese e afirmou que haverá demanda suficiente tanto para o gás do pré-sal quanto para o argentino.
“Com a queda da produção de gás da Bolívia, não vai faltar demanda de gás no Brasil mesmo que se utilize a produção do pré-sal”, disse Haddad em evento na FIESP nesta 2ª feira (30/1).
O ministro também minimizou uma crítica frequente de ambientalistas ao projeto de Vaca Muerta: o uso da técnica do fracking(fraturamento hidráulico) para a produção de óleo e gás.
“A gente deveria explorar essa questão sem dogmatismo. Lembrando que tem uma discussão ambiental que deve ser considerada por causa do xisto, mas que, pelos relatos que tive, os norte-americanos resolveram de forma diferente, com preocupação ambiental”, afirmou Haddad, citado pelo Valor.
Resta saber quais foram esses “relatos” que Haddad disse ter recebido. Os efeitos ambientais da exploração por fracking na bacia do Permiano, no sul dos EUA, não foram “resolvidos”. Além disso, como destacou um grupo de ambientalistas brasileiros em carta ao BNDES na semana passada, a questão ambiental é apenas um pedaço do problema.”A perfuração para extração na região remete a ao menos 14 poços de terra de Povos Originários na região de Vaca Muerta, onde já há operações em mais de 300 poços e que foram palco de confrontos com a comunidade Mapuche, na Patagônia argentina, fatos amplamente documentados pela imprensa local”, ressaltou a carta. ((o)) eco deu mais detalhes.
Texto publicado em CLIMA INFO
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