O encolhimento da indústria nacional é assustador e, dentre as medidas que precisarão começar a ser tomadas no sentido de reverter este processo, certamente estará uma melhor alocação nos investimentos públicos e privados.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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A nota fiscal eletrônica possui todos os registros de transações formais no país. Há nelas, o registro dos movimentos de mercadorias que fazemos. Existe neste enorme banco de dados uma quantidade abissal de informações de fluxos de mercadorias. Elas são usadas para verificar a arrecadação de impostos, mas não percebemos estes dados norteando as infraestruturas de transportes a serem construídas ou mantidas com prioridade. Neste universo de dados existe uma oportunidade de mudar a análise de fluxos de cargas, das matrizes parciais dos transportes, para matrizes detalhadas, atualizadas e, potencialmente, as repartições modais.
A transição realizada desde a nota fiscal manual, para o que hoje é registrado no Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) precisa progredir para além da arrecadação. Estas informações podem ser transformadas em informações públicas sobre fluxos de mercadorias, para uma melhor compreensão das necessidades de infraestruturas e viagens. Precisamos aumentar as oportunidades para a redução do custo do transporte no Brasil.
Da mesma forma, os fluxos de viagens de aplicativos nas cidades podem levar a uma melhor compreensão dos sistemas de transportes urbanos, oportunizando transportes públicos mais baratos e a melhor alocação de recursos. Os erros de alocação de recursos custam muito caro para a economia. A ausência de compreensão das origens e destinos de cargas, gera muito dinheiro desperdiçado e um conjunto grande de concorrências e oportunidades deixam de acontecer.
O “grande irmão”, com este olhar panóptico já vem acontecendo, o que falta é encontrarmos uma forma adequada de sair apenas da percepção arrecadadora, para passarmos a usar o volume astronômico de dados que existem sobre o transporte de produtos e pessoas pelo país. A divulgação de dados agregados, com os fluxos financeiros e de pesos, entre origens e destinos diversos, já seria uma transformação na compreensão dos problemas nacionais vinculados ao transporte.
O que temos hoje são informações dispersas e não oficiais sobre como se movimenta cargas no país. É muito possível que um olhar mais detalhado comece a transformar o desenho e a percepção da importância de cada região. Há muito mais fluxos no país do que se imagina, seja na logística regional, seja na logística nacional.
O uso dos Sistemas de Notas Fiscais Eletrônicas, SPEDs, Conhecimentos e todos os demais documentos eletrônicos que movimentam as cargas do país precisam ser integrados em um grande depósito de dados. É necessário ir além da arrecadação, pois o que não se mede, não se administra.
Se temos a intensão de reviver a indústria nacional, será preciso começar a corrigir os erros históricos de má alocação de recursos públicos e privados. O encolhimento da indústria nacional é assustador e, dentre as medidas que precisarão começar a ser tomadas no sentido de reverter este processo, certamente estará uma melhor alocação nos investimentos públicos e privados. Para isso, a grande oportunidade é começar a olhar os dados que já temos, afinal não temos conseguido nem manter a qualidade
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Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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