O desmatamento na Amazônia em fevereiro atingiu o maior índice para o período da série histórica. De acordo com o sistema DETER, operado pelo INPE, foram derrubados 321,9 km2 de floresta no último mês, um aumento de 62% em relação a fevereiro de 2022 (198,6 km2). O Cerrado também fechou com alta nos alertas de desmate, que somaram 557,8 km2, crescimento de 98% em relação ao mesmo mês em 2022 (281 km2).
O dado amazônico surpreende pois, em janeiro passado, o DETER indicou uma queda substancial de 61% na taxa de desmatamento em relação ao mesmo mês em 2022. Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática, parte dessa queda pode ser decorrente de áreas desmatadas que não foram captadas pelos satélites em janeiro em virtude da temporada chuvosa na região amazônica. Com a passagem das nuvens, essas áreas puderam ser contabilizadas, mas na somatória do desmatamento do mês seguinte.
“Considerando que o sistema DETER usa imagens de satélite ópticas e que há grande concentração de nuvens principalmente durante o período chuvoso (novembro a abril), existe a possibilidade de algumas alterações florestais terem ocorrido em períodos anteriores, assim como de eventualmente possuírem autorizações de supressão emitidas por secretarias estaduais” afirmou a pasta em nota.
Especialistas consultados pelo InfoAmazonia reforçaram essa possibilidade. “Os primeiros meses do ano são muito incertos do ponto de vista de observação por causa das nuvens. Elas atrapalham o acompanhamento”, explicou Ane Alencar, do IPAM.
Já o pesquisador do INPE, Luis Maurano, ressaltou que o DETER é fundamentalmente um sistema de alerta e que o acompanhamento mês a mês pode causar distorções. “Comparações mês a mês do DETER têm pouca utilidade. Análise de períodos maiores, por seis meses ou, por exemplo, no período que vai de agosto a fevereiro dos anos anteriores vai mostrar uma tendência mais clara”, disse.
É bom lembrar que, além do DETER, o INPE também opera o sistema PRODES, que analisa os dados ao longo do ano e estabelece as taxas anuais de desmatamento na Amazônia. Os dados do PRODES abordam períodos de 12 meses entre agosto e julho do ano seguinte, sendo normalmente divulgados no mês de novembro subsequente.
Os dados do desmatamento na Amazônia e no Cerrado em fevereiro tiveram amplo destaque na imprensa, com matérias em Agência Brasil, Estadão, Deutsche Welle, Folha, g1, ((o)) eco e Valor, além de repercussão internacional por Guardian e Reuters.
Em tempo: O Jornal Nacional (TV Globo) destacou as projeções do sistema PrevisIA, desenvolvido pelo Imazon, para o desmatamento na Amazônia nos próximos meses. Utilizando inteligência artificial para analisar dados de satélite e registros históricos, o sistema identificou as áreas mais vulneráveis para desmate no bioma amazônico e estimou o risco de, entre agosto de 2022 a julho de 2023, cerca de 1,79 mil km2 de floresta serem destruídos.
Texto publicado em CLIMA INFO
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