Enquanto o pensamento seguir sendo de uma Amazônia sem investimentos em infraestruturas, não serão realizadas novas dinâmicas econômicas na região
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
__________________
Chama a atenção a frequência com que se fala em cortes de investimentos no Brasil. A tal ponto que praticamente não há mais investimentos, para atender a este estranho clamor. Fala-se também em baixa eficiência do investimento, mas pouco se discute sobre métodos de avaliação ou de melhoria da eficiência. Assim, fica a dúvida: será que é verdade ou apenas uma fala com o propósito de anular as oportunidades de regiões remotas?
O país, por meio de seus orçamentos públicos, tem alguma dificuldade na alocação de investimentos e costuma agir como se o investimento público fosse um erro. É estranho este hábito, pois não faz sentido cortar o que praticamente não existe, quando comparado com outros países. Há uma sensação recorrente de que o investimento privado é mais eficiente, o que talvez não seja uma verdade absoluta – pelo menos em relação aos motivadores e beneficiários.
Acontece que os investimentos públicos e privados possuem dinâmicas e características distintas. Enquanto o público será muito adequado para infraestruturas e gastos iniciais, o privado será apropriado quando existirem escalas e condições sociais de pagamento pelo serviço, sobrando espaço para lucro e ganho de eficiência. Não se pode esperar deles o mesmo tipo de propósito, resultado ou aplicação. Portanto, os investimentos – sejam públicos ou privados – são muito importantes e bem-vindos.
Áreas remotas, como a Amazônia, são dependentes de investimentos públicos, pois o investimento privado surgirá apenas quando existirem lucros expressivos e relativamente rápidos. Por exemplo, portos para exportação de grãos têm sido viabilizados, enquanto concessões de rodovias tem se mostrado inviáveis.
Instalações portuárias de pequeno porte sem especialização têm sido viáveis, por outro lado as instalações que poderiam inserir novas dinâmicas econômicas nunca acontecem, pois eles dependem de uma velocidade de retorno de investimento incompatível com a velocidade da iniciativa privada.
Enquanto o pensamento seguir sendo de uma Amazônia sem investimentos em infraestruturas, não serão realizadas novas dinâmicas econômicas na região. A negação de novas oportunidades tem sido o maior problema para a transformação da Amazônia em um celeiro de negócios para o país e para o mundo.
A redução da assimetria que existe entre a Amazônia e o restante do país será possível com investimentos proporcionais muito maiores que nas demais regiões, em alocação expressiva de recursos para sistemas de transportes que dotarão a região de um grande estoque de infraestrutura minimamente compatível com o restante do país. O que tem acontecido desde sempre é uma lógica inversa.
Quebrar a lógica de intocável ou da extração primitiva, em um dilema entre alternativas que não servem é que construirá a transformação da realidade. Fora disso, seguiremos com a repetição entre erros históricos: destruir por pouco ganho ou não fazer nada, deixando que seja destruída para poucos beneficiários. Até quando os erros do passado serão repetidos?
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
Comentários