Encontrar onde está o futuro almejado para Amazônia depende de sonhos e de estratégias. Onde estão sendo construídos estes sonhos? Há alguém construindo estes sonhos ou apenas pesadelos de destruição? Quando começaremos a alocar recursos humanos, científicos e de capital para aproveitar a alegria e a exuberância da natureza? Ou seguiremos o ódio de espoliar uns aos outros, transferindo recursos de quem não tem nada para quem tem pouco?
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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Talvez um dos incômodos que a Amazônia cause em muitos é a sua abundância em todas as dimensões. Esta celebração da vida, para todos os lados e formas, com seus mistérios e potenciais por descobrir. Há, de um lado, muito respeito e uma inação reverencial e paralisadora. De outro, um desejo de extração usurpadora e destrutiva de seus potenciais. Encontrar um caminho que considere a construção e o uso responsável de seus recursos é o desafio de nossa geração.
Sem um misto de condições iniciais, os projetos voltados para o “desenvolvimento” poderão conter alta dose de capacidade destruidora, privilegiando alguns poucos. Afinal, entre potencial e realidade há uma grande distância. Os riscos que existem em um bioma tão complexo como o da Amazônia são muito mais expressivos do que os que estamos vivendo na chamada “Reforma Tributária” em curso, que reformou muito para alguns atores do sistema econômico, mas que não mudou em nada para alguns pequenos grupos, que seguem com baixa ou nenhuma tributação.
O viés de confirmação é tudo neste tipo de discussão. Ele deveria ser mais deliberado na mídia, mas parece que não convém, para quem interessa pautar as notícias. Afinal, toda vez que buscamos fatos para confirmar o que pensamos, encontraremos estes elementos com alguma facilidade, como analisa Jón Daníelsson, em seu livro de 2022, que discute a “Ilusão do Controle”, em discussões sobre riscos financeiros.
O que foi reformado? Quem está ganhando com isso? Vale a pena começar a observar o quanto das conversas deliberam sobre algo associado com a população, com as regiões, com as desigualdades ou com as necessidades cotidianas. Quem arrecada mais e quem paga mais? Quem continuará não pagando? Estas discussões mais amplas não integraram as deliberações.
Por vezes, olhar quem não paga é mais relevante do que deliberar sobre percentuais. O que é incentivado e o que é ignorado? É quase impossível fazer verdadeiras mudanças no país.
O desenvolvimento que queremos para a Amazônia não sairá de reformas tributárias, sairá de reformas de ações históricas de destruição. A construção do futuro não será com regras sobre o que não fazer, mas com ações de construção. Precisamos começar a duvidar dos métodos que vêm sendo usados, pois, ao final de tantas décadas, seguimos com destruição e desigualdades. De onde vem isso? O que será uma Amazônia Desenvolvida? Um deserto? Uma área de pasto ou de agricultura?
Encontrar onde está o futuro almejado para Amazônia depende de sonhos e de estratégias. Onde estão sendo construídos estes sonhos? Há alguém construindo estes sonhos ou apenas pesadelos de destruição? Quando começaremos a alocar recursos humanos, científicos e de capital para aproveitar a alegria e a exuberância da natureza? Ou seguiremos o ódio de espoliar uns aos outros, transferindo recursos de quem não tem nada para quem tem pouco? A deliberação da Reforma Tributária está sendo reveladora para demonstrar o que é o país, basta ter um pouco de calma para duvidar do que acreditamos, como já era refletido em 1620 por Francis Bacon. Reformamos muito para não reformarmos nada.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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