Escrever a história da Amazônia usando recursos da região é algo que já vem sendo feito, porém em uma escala muito pequena para transformar sobejamente a realidade
Por Augusto César Barreto Rocha
____________________
Há no Amazonas um grande PIB industrial: o Capitalismo Produtivo, dominado por multinacionais e com farta produção de produtos, empregos e impostos. Por outro lado, o Capitalismo Primitivo está na base da economia do interior da Amazônia. Entretanto, a voz que predomina nos centros de poder nacionais é a do Capitalismo Financeiro, suportando a grande mídia e o ideário dominante das redes.
A Zona Franca de Manaus (ZFM) é um exemplo de atividade produtiva. A extração de minérios e de riquezas agrícolas por multinacionais com alguma responsabilidade ambiental poderia ser classificada como algo de colonialismo ou algo de produtivo, dependendo da lente do observador. Já a extração irresponsável e não sustentável não há dúvidas: trata-se de uma versão mais primitiva e colonial, em pleno século XXI.
As discussões que têm direcionado o debate sobre a economia do país estão muito mais associadas com questões afeitas ao Capitalismo Financeiro ou ao Colonialismo mais primitivo. Estas duas abordagens são pouco interessantes para as grandes massas de habitantes da região Amazônica, afinal não temos nossas bolsas de valores nem capital acumulado em grande quantidade. Estamos tentando nos livrar de um passado de destruição e entrando numa economia industrial, buscando outras cadeias produtivas.
Não é de se estranhar que o PIB industrial do Brasil esteja semelhante ao que era em 1947, pois estamos perdidos em debates de ideias e de ideais para a Amazônia, em meio ao que é discutido sobre reforma tributária, presos em uma armadilha de medos diversos. Temos comprado o discurso financeiro, como se ele fosse a saída para a condição de penúria em que nos encontramos – como se isso tivesse a chance de ser transformador na Amazônia. Como sair desta armadilha?
O Rei Mercado, exaustivamente citado na imprensa em todos os níveis, costuma possuir várias opiniões e poucos autores de opiniões e quase nenhum confessar de interesses. Não se percebem preocupações concretas com o presente nem com a nossa realidade. Não se verificam debates sobre as pessoas. Portanto, o primeiro caminho da saída é parar de ter apenas o “Mercado” como base de reflexão – como se ele estivesse sempre certo, o que é bem longe da realidade objetiva, salvo para os rentistas e donos de grande capital não produtivo.
Outra chave para a saída será imaginar que alguém virá nos “salvar”. Que teremos um ser que vai querer desenvolver a Amazônia ou nos ajudar. Não consigo perceber na história do mundo o surgimento de lideranças de fora que tenham salvado outro lugar. Tipicamente, o que se vê são líderes de fora que destroem e fazem espoliação, sugando as riquezas locais, em troca de expectativas nunca entregues.
Escrever a história da Amazônia usando recursos da região é algo que já vem sendo feito, porém em uma escala muito pequena para transformar sobejamente a realidade. Como reverter esta condição? Querer fazer isso próximo ao capitalismo implicará em um apoio maior ao Capitalismo Produtivo – e a ZFM é um excelente representante, pois é globalizada, responsável ambientalmente e tecnológica. O problema é que este modelo não é aderente ao “Mercado”, que domina a mídia.
A atração de investimentos poderia ser aderente às “vocações regionais”, mas por algum motivo antropológico há uma dificuldade de os grandes centros apoiarem a ZFM e a sua indústria. Note que não classifico como problema econômico, pois em economia há fartas evidências do sucesso da ZFM. Aponto para uma questão muito mais humana e social – a antropologia precisa nos ajudar.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
Comentários