Com 23 votos, Ailton Krenak, escritor indígena e ativista ambiental, assume a cadeira número 5 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Sua eleição é celebrada como histórica, e ele é elogiado por seu compromisso com a cultura indígena, a preservação do meio ambiente e a defesa dos direitos dos povos originários.
Na quinta-feira (5), Ailton Krenak, escritor indígena e ativista ambiental, conquistou 23 votos e foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), assumindo a cadeira número 5, anteriormente ocupada por José Murilo de Carvalho, que faleceu em agosto do mesmo ano. A disputa incluiu a historiadora Mary del Priore e o também escritor indígena Daniel Munduruku, que receberam 12 e quatro votos, respectivamente.
O presidente da ABL, Merval Pereira, destacou a singularidade de Krenak, descrevendo-o como um poeta com uma “visão de mundo muito própria e apropriada para este momento, em que o mundo está preocupado com o meio ambiente, em que os povos originários lutam por seus direitos”. Pereira enfatizou que essa perspectiva está intrinsicamente ligada à vitória de Krenak na Academia, ressaltando seu compromisso com a cultura indígena e a valorização da oralidade.
Futuro ancestral e a preservação dos rios
Merval Pereira também mencionou o livro “Futuro Ancestral” de Krenak, que aborda a preservação dos rios como uma forma essencial de conservar o futuro. Ele enfatizou a visão de Krenak sobre a relação entre o ser humano e a natureza, destacando o papel importante que o escritor e intelectual indígena desempenha nesse contexto.
Uma eleição histórica
A acadêmica Rosiska Darcy classificou a eleição de Krenak como histórica, afirmando que ele encarna uma parte significativa da história do Brasil. Ela expressou sua felicidade com a escolha de Krenak como membro da ABL.
A data da posse de Ailton Krenak na ABL ainda não foi definida. A escolha da data será determinada em acordo com a próprio Krenak e a ABL.
O ativismo de Ailton Krenak
Nascido em 1953, na região do vale do rio Doce, território do povo Krenak, Ailton Krenak é um ativista do movimento socioambiental e defensor dos direitos indígenas. Ele é comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e recebeu títulos de doutor ‘honoris causa’ pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal de Juiz de Fora.
Krenak desempenhou um papel fundamental na criação da Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia, e contribuiu para a formação da União das Nações Indígenas (UNI). Ele também coautoria a proposta da UNESCO que resultou na criação da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço em 2005, além de ser membro de seu comitê gestor.
Defensor dos direitos indígenas e da Cultura
Nas décadas de 1970 e 1980, Krenak teve um papel determinante na inclusão do “Capítulo dos Índios”, o capítulo 8º, na Constituição de 1988, garantindo, no papel, os direitos indígenas à cultura e à terra. Entre suas obras mais recentes estão “Ideias para adiar o fim do mundo” (2019), “A vida não é útil” (2020), “Futuro ancestral” (2022) e “Lugares de Origem” (2021), escrito em parceria com Yussef Campos.
Em “A vida não é útil,” Krenak aborda a pandemia da COVID-19 e enfatiza: “Se durante um tempo éramos nós, os povos indígenas, que estávamos ameaçados da ruptura ou da extinção do sentido da nossa vida, hoje estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar a nossa demanda.” Krenak valoriza a cultura indígena e argumenta que ela tem muito a ensinar às sociedades capitalistas. Ele defende uma conexão mais profunda com a natureza e uma mudança na forma como encaramos o futuro.
Com informações da Agência Brasil
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