O atual governador Wilson Lima recebeu da democracia mais um mandato num momento em que as taxas de desmatamento no Amazonas aumentaram no estado que tinha a maior taxa de preservação na Amazônia Legal
Em meio ao aumento nas taxas de desmatamento e queimadas, além da intensificação dos processos de mudanças climáticas, com as enchentes e secas ocorrendo de forma mais severas, o Amazonas reelegeu o jornalista Wilson Lima (União Brasil) para o cargo de governador.
Em seu programa de governo para a campanha de 2022, Lima deixou de apresentar propostas claras de combate aos crimes ambientais. Em contrapartida, no campo para a economia, tem como uma das principais promessas a repavimentação da BR-319, cujos impactos tendem a agravar ainda mais o cenário de devastação no estado.
Lima obteve o segundo mandato com 56,65% dos votos válidos. Ele concorria com o senador e ex-governador Eduardo Braga (MDB), que ficou com 43,35% da votação. Lima era o candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto Braga sustentava o palanque de Lula (PT). Por lá, o petista saiu vitorioso. No Amazonas, o presidente eleito obteve 51% dos votos válidos, contra 48,90% de Bolsonaro.
Boa parte da campanha de segundo turno no Amazonas aconteceu com comunidades ribeirinhas e indígenas sendo impactadas pela seca extrema que atingiu a bacia do rio Solimões, sobretudo no Alto e Médio Solimões. Outros importantes afluentes e igarapés também foram impactados. Dos 62 municípios, 59 decretaram algum tipo de status de Defesa Civil, seja situação de emergência ou de atenção por conta da vazante dos mananciais.
Municípios nas bacias do Amazonas, Negro, Juruá, Madeira e Purus também foram ou estão afetados pela seca. Ou seja, o fenômeno atinge todo o território do estado. No começo do ano, algumas destas regiões foram afetadas por outro problema: as enchentes.
Agora com o período de estiagem, comunidades inteiras ficaram isoladas, impossibilitadas de sair ou chegar por conta do nível crítico da vazante. O acesso à água para consumo e necessidades básicas ficou comprometido, o que levou a Defesa Civil a ter que agir para evitar o colapso.
A seca extrema acontece logo após o estado registrar grandes enchentes ao longo da última década. Rios como o Negro, o Amazonas, Juruá e Madeira, além do próprio Solimoes, foram motivo de preocupaçção por conta do transbordamento. Em junho de 2021, o rio Negro, em Manaus, atingiu o maior volume de cheia em quase 120 anos de medição: 29,98m. O nível superou o recorde anterior, de 2012, que foi de 29,97m.
Os eventos climáticos extremos têm se acentuado por quase todos os estados da Amazônia Legal. Eles passam a ocorrer com intensidade maior e num intervalo de tempo mais curto. Todos estes fenômenos afetam não apenas as comunidades rurais, como também as urbanas. Mesmo com todos estes cenários, as autoridades locais aparentam não tratar o tema com a devida seriedade política.
A falta de propostas para as ações de Defesa Civil por parte do governador reeleito do Amazonas é um dos exemplos. Isso no estado de maior extensão territorial do país, cuja logística para respostas rápidas em auxílio às comunidades encontra barreiras exatamente nessa grande dimensão territorial, além das dificuldades de comunicação.
De acordo com o Relatório Anual do Desmatamento (RAD), do Mapbiomas, em 2021, a área de floresta derrubada no Amazonas foi de 194.498 hectares; alta de 50% em relação a 2020. O estado saiu da quarta para a segunda colocação do ranking do desmatamento no país, atrás somente do Pará.
Entre janeiro e setembro de 2022, conforme dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, o Imazon, o Amazonas registrou uma área desmatada de 2.399 km2. No mesmo período de 2021, foram 1.923 km2. Em 2022, o Amazonas ficou em terceiro lugar no registro de focos de queimadas entre os nove estados da Amazônia Legal. Até setembro, segundo o Inpe, foram 18.571 registros de focos de calor.
Mesmo com o aumento expressivo das taxas de desmatamento nos últimos anos, o AM tem grande parte de seu território conservado. Maior estado do Brasil em extensão territorial (com mais de 1,5 milhão de km2), o Amazonas mantém uma cobertura florestal de 91%.
E a reconstrução da BR-319, prevista no programa de governo de Wilson Lima, é apontada como grande ameaça para toda essa área de floresta, pois levaria o chamado “arco do desmatamento” para a porção mais norte da Amazônia. Hoje, o desmatamento se concentra na parte sul do Amazonas, nos municípios acessíveis pelo trecho pavimentado da BR-319 e a Transamazônica.
Além de repavimentar o traçado principal da rodovia, o plano do governador ainda estipula a recuperação dos ramais que dão acesso às comunidades localizadas ao longo da BR-319. Caso de fato saia do papel, a proposta reforçaria o efeito chamado de “espinha de peixe”, que é a abertura de estradas paralelas – os ramais – ao longo da rodovia pavimentada.
O plano do governador reeleito não fala em eventuais estratégias de mitigação dos danos ambientais causados pela conexão rodoviária permanente entre Manaus e Porto Velho, tampouco aborda ações de reforço para o combate aos crimes ambientais, precisamente o desmatamento ilegal.
Já para o campo das políticas de meio ambiente, Lima, faz uma abordagem nem tão enxuta para o meio ambiente, mas trata as propostas por tópicos curtos e sucintos. O governador fala em fortalecer o Programa Guardiões da Floresta caso reeleito.
O programa realiza o pagamento financeiro às famílias moradoras de unidades de conservação do estado como incentivo pela preservação destas áreas; o plano ainda diz que fortalecerá iniciativas de bioeconomia para as comunidades da floresta. O documento também sinaliza com intenções de criação do marco legal para o mercado de carbono, estabelecendo o programa (de pagamento por desmatamento evitado) REDD+ Amazonas.
A assessoria do governador amazonense foi procurada para falar sobre suas políticas para a área ambiental, bem como as estratégias para o enfrentamento aos efeitos dos eventos climáticos extremos, mas até o presente momento as respostas não foram enviadas.
Fonte: O Eco
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