Abandonada pelo Estado brasileiro, a região do Vale do Javari fica em uma posição crítica na fronteira da Amazônia Brasileira com o Peru. Além de servir como rota para o tráfico de drogas, outras atividades ilegais, como a extração de madeira e o garimpo, também são cobiçadas e realizadas por grupos criminosos, muitos deles com conexões com pesos-pesados da criminalidade. Felipe Frazão apontou no Estadão que a região virou um campo de batalha para facções criminosas originárias do sistema prisional brasileiro, com indígenas e ribeirinhos indefesos no meio do conflito e sem proteção alguma do poder público.
Na Folha, Rosiane Carvalho também destacou a presença crescente de grupos criminosos nas redondezas da área onde Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram no último domingo. “Estamos falando de uma região com uma série de problemas e conflitos ambientais e sociais. Estamos mergulhados em conflitos sociais na Amazônia. Temos, nestes locais, populações transfronteiriças e uma região que é estratégica para o tráfico de drogas, sobretudo do Peru”, explicou Aiala Colares, pesquisador da UFPA e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Um indício de possível envolvimento desses criminosos no desaparecimento de Pereira e Phillips foi encontrado com o pescador detido pela Polícia Militar do Amazonas nesta semana. Foram encontrados cartuchos de calibre 762, usados em fuzis, de origem peruana. De acordo com o Estadão, isso sugere uma conexão entre o suspeito e quadrilhas com atuação na fronteira amazônica.
No entanto, nem a presença confirmada de grupos criminosos no Vale do Javari foi suficiente para que a União ampliasse sua presença nessa área. Como Carlos Madeiro assinalou no UOL, desde 2019 a Justiça vem determinando ações mais incisivas do governo federal para proteger as populações indígenas dessas áreas e reforçar a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari. A União chegou a ser multada pelo descumprimento das determinações judiciais. Ainda assim, a área foi mantida desprotegida, com presença limitada de militares em pontos específicos e redução das ações da FUNAI para proteção indígena.
O Globo divulgou um vídeo de semanas atrás com Dom Phillips no qual ele explicou a razão de sua ida à região do Vale do Javari e a importância da proteção dos Povos Tradicionais da Amazônia. “As Terras Indígenas são os lugares mais protegidos da floresta. Então eu pedi para vir para cá para entender como vocês se organizam. Vim para acompanhar um pouco disso e aprender um pouco com vocês sobre como é essa cultura, como lidam com as ameaças de invasores e garimpeiros”, disse Phillips durante uma conversa na aldeia Apiwtxa, do povo Ashaninka. Já no Twitter, o colega de Dom, Tom Phillips, publicou a última imagem mandada por ele antes de desaparecer: um arco-íris, flagrado durante um voo sobre a floresta.
Ainda sobre Phillips, a Folha trouxe uma interação curiosa que o jornalista britânico teve com o atual presidente da República durante uma entrevista em 2019. Na conversa, ele questionou o então recém-empossado presidente sobre a escalada do desmatamento na Amazônia e as ações do governo para proteger a floresta. No seu estilo característico, o ex-capitão expulso do Exército Brasileiro por insubordinação se saiu com essa: “Primeiro você tem que entender que a Amazônia é do Brasil, não de vocês. A primeira resposta é essa daí, tá certo?”.
A frase é curiosa em muitos aspectos, mas ficam aqui duas perguntas para o presidente: se a Amazônia é do Brasil, por que raios os criminosos estão dando as cartas por lá? Por que trovões o poder público é leniente com essa situação?
Fonte: Clima INFO
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