A estiagem prolongada que afeta o sul do Brasil também está levando prejuízos para o beneficiamento de soja nos países vizinhos, como informa a Reuters. No Paraguai, o quarto maior exportador de soja do mundo, a indústria de processamento de oleaginosas corre o risco de ficar sem matéria-prima para trabalhar até o meio do ano, e já estuda a possibilidade de importar soja pela primeira vez na história.
O Paraguai enfrenta desde o ano passado a pior seca em uma década, com uma queda de metade da produção na comparação com a temporada anterior. De olho no céu, os beneficiadores de grãos estimam que a situação fique ainda pior caso não chova nos próximos meses, podendo atingir uma capacidade ociosa de até 70% no segundo semestre.
Grandes produtores, como Bunge, Cargill, Dreyfus e outros, que adoram um ganha-ganha quando quem ganha são só eles, agora fazem chororô com os prejuízos e querem mudanças no regime tributário paraguaio e isenção de impostos para viabilizar a importação de grãos para beneficiamento.
Engraçado que, quando estão comprando soja fruto de desmatamento, que em última instância é uma das causas da mudança do clima e dos eventos extremos como as secas intensas, agem como se não fosse com eles.
A Argentina, maior exportador mundial de óleo e farelo de soja, teme repetir o “desastre de produção” que atingiu o cinturão de soja argentino em 2018, diz a Reuters. A região enfrenta, pela segunda vez e em um curto intervalo de tempo, o fenômeno La Niña. Para piorar a situação, um incêndio de grandes proporções já queimou mais de meio milhão de hectares na região de Corrientes, localizada a 800 quilômetros ao norte de Buenos Aires. A parte destruída equivale a 6% da área total da região, caracterizada pela produção agrícola. A estiagem põe ainda mais lenha na fogueira. “É uma linha de fogo quase impossível de controlar”, disse uma fonte da Defesa Civil à Reuters. As chuvas escassas, de no máximo 10 milímetros, que são esperadas para os próximos dias não devem amenizar a situação.
Em tempo 1: O Valor mostra que parlamentares estão recorrendo a um “orçamento secreto” para apoiar os “coleguinhas” do agronegócio contra a seca que afeta o sul do país e o Mato Grosso do Sul. Querem conseguir pelo menos R$ 5 bilhões, mais de duas vezes o valor das despesas executadas pelo Ministério do Meio Ambiente em 2021 (R$ 2,38 bilhões, segundo o Portal da Transparência) para bancar o pacote de ajuda. O plano é fazer isso por meio de Medida Provisória de crédito extraordinário. A COAMO, maior cooperativa de agricultores do Brasil, prevê queda de 40% na oferta de soja na safra 2021/2022 devido à seca, como ressaltou a Reuters.
Em tempo 2: Estudo publicado na Scientific Data mostra um conjunto de dados globais sobre os impactos das mudanças climáticas projetados para quatro grandes culturas: milho, arroz, soja e trigo. Os dados, que englobam 91 países, foram obtidos por meio de meta-análises de 8.703 simulações publicadas em 202 estudos entre 1984 e 2020.
Fonte: ClimaInfo
Comentários